sexta-feira, 25 de maio de 2012

GOIÂNIA ONTEM E HOJE: NOSTALGIA E SAUDADE


                 
                      Essa semana resolvi passear pela cidade. Era feriado em homenagem à Padroeira de Goiânia, Nossa Senhora Auxiliadora, dia ideal para rever lugares e ir ao encontro de minhas saudades.
             Instintivamente fui ao velho Lyceu de Goiânia. Como há tantos anos ele está lá impassível, vendo o tempo passar sem se importar. Sua imponente porta, resistente de tantos anos, parece me reconhecer e fazer-me relembrar colegas, recreios, noites de violões e serenatas.
                Na Rua Dois com a Avenida Goiás não foi difícil estacionar. O pouco movimento de pessoas e automóveis me fez recordar aquela Goiânia de há vinte, trinta anos.  Numa esquina busquei o local onde funcionou o antigo escritório de vendas de passagens da Varig, local onde tantas vezes fui recebido pelo Sr. Antonio Duarte, que era o Gerente da empresa em Goiás. “Seu” Duarte, como era chamado, sempre tinha uma palavra amiga, um bom conselho quase de pai. Hoje, pelos imensos e exagerados cartazes percebi que naquele local funciona um escritório de intermediação de empréstimos a funcionários públicos. O antigo glamour do lugar acabou.
                A Avenida Goiás está bem cuidada, limpa. Seus canteiros centrais têm plantas diversas e os inúmeros bancos de madeira ali existentes convidam o transeunte a descansar por alguns instantes.
                 Sigo e paro na Avenida Tocantins, tão importante em minha vida. Naquele momento estava calma, sem nenhum movimento. Na altura do numero 320, cercadas por tapumes as ruínas do velho sobrado onde funcionava o Restaurante da Dona Maria. Ainda mantém externamente a decoração característica do estilo “Art-Déco” e a cor verde daquela época. Além da comida maravilhosa feita por Dona Maria, diariamente encontrava amigos ali, como Hélverton Baiano e o saudoso poeta Tagore Biran.
                Os velhos Flamboyants, apesar de mutilados e em parte cobertos pela fuligem estão lá, resistindo. Alguns se atrevem, apesar de não ser primavera, a botar belos e tardios cachos de flores. Como a dizer: “ainda estamos aqui, não nos abandonem”.

                A Praça Cívica, ou Praça Pedro Ludovico Teixeira está lá, quieta. Hoje é apenas um grande estacionamento. Por causa do feriado foi possível ver pessoas a observar suas abandonadas e escondidas fontes. Os pombos continuam lá, como há anos.
                Ao passar pela Praça Tamandaré tive ímpetos de procurar os bares da época em que morava ali perto. Naqueles palcos se ouvia a boa MPB nas vozes de Anete Teixeira, Fernando Perillo, Pádua, João Caetano, Gustavo Veiga, Marcelo barra, Jorge Lyra e o ótimo piano de Paulinho de Assis. Quanta saudade. E como era bom namorar ali.

                No Setor Bueno, me espantou a altura das torres dos novos prédios que estão sendo construídos. Acostumado a edifícios com no máximo vinte andares, percebi que os novos espigões têm trinta, trinta e cinco andares. Coisas das novas tecnologias de construção.

                Enterneci-me ao ver nas avenidas os pequenos Ipês com suas flores de um amarelo vivo.Sem se importar com o movimento intenso dos carros que passam por ali, os ipês soltaram suas belas flores. Assim como as sibipirunas - agora com um verde bem escuro, fechado - que exibem suas bagens de sementes que irão garantir a perpetuação da espécie.
                Goiânia me deu esse presente. Em um dia de feriado, calmo e sem a loucura do transito cotidiano pude rever lugares e reviver saudades, perceber momentos de ternura nas crianças correndo ao lado dos pais, brincando pelas praças.

                Foi um dia em que pude voltar no tempo. Trazer à tona recordações tão vivas e presentes. Reviver com nostalgia saudades tão carinhosamente guardadas nos recônditos do coração.

sexta-feira, 18 de maio de 2012

DO MUNDO ENCANTADO DOS LIVROS


               
                Meu primeiro contato com livros ocorreu muito cedo e lembro como hoje: nos bancos toscos de madeira bruta da humilde sala da Fazenda Nova América, onde funcionava a Escola Rural Santa Genoveva. Apesar de tenra idade eu acompanhava com grande interesse as aulas ministradas por meu pai.
                Não obstante brincadeiras e desatenções dos meninos maiores – o que incluía jogar pequenos torrões arrancados da parede em mim – eu pegava um livro qualquer e mesmo sem entender o significado daqueles símbolos, me punha a folheá-los, como se estivesse lendo atentamente.
                Nos intervalos da lida diária e quando não dava aulas, meu pai sentava debaixo da frondosa mangueira e se punha a ler. Como ele tinha o habito de ler em voz alta, eu me deliciava com o que ouvia. Viajava na História dos grandes Imperadores, Faraós, Reis e Rainhas que esse mundo viu. Divertia-me com Monteiro Lobato, seu Jeca Tatu e chegava a imaginar todos os animais da fazenda calçando botinas.


                Um dia pedi ao meu pai que me ensinasse a ler e ele, carinhosa e pacientemente me iniciou nas primeiras combinações de símbolos e sons. De molde que rapidamente eu estava lendo de tudo. Rapidamente li todos os livros existentes na pequena biblioteca da escola – sim, na escola tinha uma pequena quantidade de livros que meu pai singelamente denominava “a biblioteca”.


                Depois disso nunca mais fiquei sem livros.  Conheci a obra dos grandes escritores brasileiros, de Zé Lins do Rego, Machado de Assis, Alencar, Jorge Amado, Graciliano, Guimarães Rosa a Jose Américo de Almeida. Visitei e conheci detalhadamente a Catedral de Notre-Dame em atenta imersão na romântica e triste saga do sonhador corcunda Quasímodo, de Vitor Hugo. Sem esquecer-se de Os Miseráveis e outras obras intrigantes e interessantes do mesmo autor.
                Apesar da difícil hermenêutica, por influência de um Professor do antigo Ginásio entrei de cara nos clássicos da literatura universal. A gênese da Filosofia e do pensamento. Que legado os Gregos nos deixaram.


                Encantei-me com a obra de Carmo Bernardes, que me levou a viagens em histórias de pescaria, amores platônicos e quase impossíveis de pessoas simples do meio rural, sem esquecer seus belos contos onde o bom humor prevalecia. Carmo também fez críticas sociais e denuncias sobre perseguições a estudantes em um Goiás onde era difícil até pensar. Tal como hoje?
                A crônica de Jean Pierre Conrad me trouxe o encantamento de enxergar coisas simples e belas como o arrulhar de rolinhas no quintal ou a beleza das pequenas flores que povoam os lotes baldios.
                Hoje ao visitar salas de aulas ministrando palestras, percebo as dificuldades que enfrentam alunos de ensino médio de escolas publicas ao tentar formatar palavras simples, cotidianas. Pergunto quantos livros este aluno leu nos últimos anos e a resposta é quase sempre a  mesma: nenhum, Professor. Alguns mais corajosos e sinceros têm a honestidade de afirmar que “quando precisam pegam o resumo na internet”.


                Causa-me tamanha tristeza isso. Não se formarão homens cultos sem a presença constante dos livros. Vejo o Secretario de Educação de Goiás, de forma espalhafatosa bradar aos quatro ventos  que premiará com míseros reais os melhores alunos. Que pena. Penso que a educação não precisa de migalhas, mas de políticas sérias e efetivas. Por que não valorizar os escritores brasileiros e incentivar a leitura nas salas de aula? É bem mais interessante e produtivo dotar alunos com a aquisição do conhecimento e não com a distribuição de parcos reais que de nada servirão ao seu desenvolvimento intelectual. 


                Dia desses tive uma notícia alvissareira: foi-me dado um livro de presente. Tenho comigo que não há presente melhor. Infelizmente ainda não pude tomar posse desse precioso bem, pois questões pessoais impediram que isso ocorresse.
                Ao querido amigo e irmão que a mim concedeu essa dádiva, muito obrigado. Nenhum presente se comprara a um livro, sempre uma jóia de muito valor.
                Voltando ao passado, revejo a frase tão atual do inesquecível Monteiro Lobato onde ele diz que “um país de faz com homens e livros”.

sexta-feira, 11 de maio de 2012

DIA DAS MÃES: SAUDADE...



                Assim que me levantava da cama, logo cedinho, instintivamente buscava a presença de minha mãe. Normalmente a encontrava próximo ao fogão de lenha, mexendo nas panelas, atiçando o fogo e cuidando dos afazeres da lida domestica. Ao me ver, e dar sua bênção – “Deus te faça feliz” – cuidava logo que eu fosse me alimentar, sentadinho na pequena mesa que ficava na sala contígua à cozinha. Enquanto arrumava meu lanche matinal, composto de cuscuz com nata e uma xícara de leite, encontrava tempo e carinho para um abraço e um beijo de ternura, a desejar: “tenha um bom dia, filho”.
                Àquela hora meu pai já havia saído para a roça. Ia bem cedo para aproveitar o ar mais fresco da manhã, pois logo o sol ficava quente e implacável, tornando o trabalho na roça muito difícil, fatigante e estafante.
             Eu ia em busca de meu mundo de criança. Brincava horas e horas sozinho no amplo quintal que ficava nos fundos da casa, sob a fronde das imensas mangueiras. Ali passava meu tempo em brincadeiras solitárias, com pequenos pedaços de ossos que viravam bois e novilhos; os maiores eram os marruás. Mamãe, apesar de me deixar á vontade permanecia sempre vigilante, com os olhos em mim para evitar que eu fosse para longe ou brincasse perto do córrego que passava nos fundos, local segundo ela, perigoso.
                Mas eu não teimava, era bonzinho e obedecia sempre. Depois do almoço, quando ela ia para o córrego lavar roupas eu a acompanhava. Levava meus cacos de ossos e ali formava outra fazenda, outra boiada imaginaria. Às vezes ficava parado, apenas ouvindo as canções que mamãe entoava.  Viajava naquelas letras tristes, dolentes. Depois eu ia para casa, enquanto minha mãe tomava seu banho em local reservado, no pequeno riacho.


                Logo meu pai chegava e descíamos juntos para o banho. Vinha queimado de sol, calado, fatigado, mas com o semblante sempre sereno. Ao deslizar na água fria do pequeno riacho ele deixava ali o cansaço do dia, cansaço da difícil e impiedosa labuta, sempre no cabo da enxada, da foice ou do machado.
                Ao voltar para casa encontrava minha mãe sentada na pequena calçada de chão batido, amparada em grossos troncos de madeira. Na sala, ouvia-se o som da Ave Maria, no velho radio ABC – a Voz de ouro. O sol preparava-se para se esconder e mandava seus últimos sinais de luz naquele dia.
     Nessa hora mamãe cuidava e penteava seus longos e negros cabelos. Presos durante o dia ali eles apareciam como de fato eram, imensos e belos. E eu já de roupa limpinha ficava por perto, observando. De repente, eu corria até o pé de açucena e voltava com as mãos cheias de flores, de suave perfume. Era o bastante para merecer ternos abraços e carinhosos beijos.


                Mudamos da fazenda para a cidade. Papai trocou a roça por um pequeno comercio e minha mãe cuidava da casa. Minhas responsabilidades vieram, aumentaram e fui estudar em um grupo escolar ali perto.
                Foi quando conheci de fato as comemorações do dia das mães. Na minha infância na Fazenda Nova America sabia que havia um dia das mães, mas na escola da cidade, a data era muito lembrada e valorizada.
         E em um segundo domingo de maio, na pequena igreja matriz da cidadezinha onde morávamos fizeram uma linda homenagem às mães. Ao fim da missa, distribuíram rosas às mães presentes e o coral entoou uma canção que nunca esqueci. Canção que afirma “ficar sempre um pouco de perfume nas mãos que oferecem rosas”.

           Nesse momento, emocionado, eu me lembrava das flores de açucena que entregava à minha mãe, naquelas tardes tranqüilas da Fazenda Nova America.
   E hoje, ao reviver tudo isso sinto que embora nas mãos o perfume não tenha ficado, no meu coração e na minha saudade, está sim muito presente.
               Às mamães, um terno e Feliz Dia das Mães.