sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

FELIZ AO NOVO! COM ESPERANÇA E AMOR




Na manhã desta sexta-feira, 30 de dezembro, notei um caminhão de mudanças que descarregava móveis em uma casa situada a uma rua acima do local onde moro. O Interessante, é que essa casa havia ficado mais de um ano com placa de venda e finalmente, encontrara comprador.
Ao me aproximar um jovem veio em minha direção e quando parei o carro, perguntou se morava nas proximidades. Afirmei que sim, e ao saber que ele seria o novo morador da casa, dei-lhe as boas vindas. Ele me pediu informações práticas, onde havia padaria, qual o supermercado que praticava melhores preços, se tinha agência lotérica por perto, coisas assim.
Então, ele me disse que, depois de quatro longos meses, finalmente a instituição bancária oficial, onde financiara parte do valor necessário à compra da casa, liberara as chaves e ele logo tratou de mudar para o novo lar. Dei-lhe as informações que precisava, e me coloquei à sua disposição, a qualquer hora do dia ou da noite, como regem as práticas da boa vizinhança.
Nesse momento, se aproximaram duas crianças: um menino, menor e aparentemente mais tímido e uma menina, mais saída e esperta, os dois, com um ar de felicidade expresso no rosto. E a menina, toda alegre, veio dizer: “esta é a nossa casa. E eu agora vou ter meu quarto sozinha”. E saíram correndo em direção à casa. E João, o novo vizinho, ostentando também um ar de felicidade, me disse que, teria a felicidade de passar a noite de ano novo em sua morada.
Os moveis – simples, em sua maioria – foram todos descidos do caminhão e eu também tratei de ir embora, para que o vizinho cuidasse de organizar sua mudança.
Após esse fato, vieram a mim muitos pensamentos. Primeiramente, o ar de felicidade no semblante daquelas crianças. Iriam finalmente, depois de tanta luta, passar sua primeira noite em uma casa que, agora, pertencia a eles. Um sonho, um objetivo realizado.
Ao recordar aquelas correndo e festejando, me veio a imagem de outras crianças, desta vez, infelizes e tristes, sendo dizimadas pela maior das maldades que se comete contra o ser humano: a guerra. Do menino sírio Emran, resgatado vivo e com medo, debaixo de escombros causados por bombas; ou da pequena criança que não conseguiu completar vivo a travessia e, morto, parecia dormitar em um berço  quando seu inocente e indefeso corpo foi encontrado em uma praia.
O natal já passou, e agora, aproxima-se o novo ano. No natal, apesar do ano difícil, as pessoas se confraternizaram, se encontraram em momentos felizes, muitos de reconciliação e agora, festejam a chegada de um novo ano.
Resta-nos rogar ao criador que seja um ano de concretização de esperanças. Já sofremos muitos e precisamos de um pouco de sossego ante tanta incerteza e tristezas.
Mas, o que mais precisamos é de paz, de harmonia, de alegria. E muito amor no mundo. Que o amor prevaleça sobre todas as coisas nesse novo ano que chega.

E que assim todos tenham um Feliz, um feliz ano novo!




Que essa cena não mais se repita!


FELIZ NATAL

FELIZ NATAL

sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

NOS ALPENDRES DA MINHA SAUDADE


Na tarde desta sexta-feira, estive na acolhedora Nova Veneza, cidade próxima à minha Goiânia querida, com a agradável missão de proferir uma palestra, cujo tema seria literatura e a importância da boa leitura, para apresentação de projetos culturais nas diversas leis de incentivo, cujos editais estão abertos no estado de Goiás.
Ao chegar ao local do evento, o centro cultural da cidade, enquanto aguardava que o local fosse aberto e o pessoal chegasse, fiquei a observar o movimento em redor.
Não pude deixar de notar algumas casas antigas, em sequencia, construídas rente à rua, com telhados em forma de “quatro-águas” e cobertos por telhas francesas. As portas e janelas eram de madeira e em todas elas, ao centro, tinha um pequeno alpendre, como que para melhor acolher a todos que àquela casa se dirigiam.
Fitei demoradamente aquela construção e não tive como deixar de me emocionar. De imediato fui aos recônditos de minhas saudades e me encontrei na pequenina cidade onde passei grande parte da minha infância – logo após meus pais deixarem a Fazenda Nova América e partirem para a cidade.
A casa em que morávamos, em um bairro chamado “Alto alegre”, como as casas antigas de nova Veneza, também tinha telhados de           “quatro-aguas” e um pequeno alpendre.
O alpendre era, àquela época, um cômodo obrigatório nas casas. Ali, o visitante antes de bater à porta, se abrigava do sol ou da chuva e se estivesse cansado, podia sentar nas pequenas muretas que ficavam na frente.
O alpendre também era um lugar onde se sentava para conversar, em confortáveis e aconchegantes cadeiras de fio plástico que sempre ali ficavam. Não obstante o alpendre ficar para a rua e ser aberto, sem nenhuma grade a proteger, naquele tempo as cadeiras se acabavam de velhas, pois ninguém as tirava dali.
Era local preferido pelos casais de namorados. Primeiro pela comodidade das muretas, onde podiam se sentar e se abraçar, e ainda pela distancia do movimento da casa, onde circulavam as pessoas.
Nos alpendres, em madrugadas românticas as moças recebiam serenatas, e não raro, seus pretendentes deixavam ali cartas de amor acompanhadas por buquês de rosas. Era um tempo em que se faziam serenatas, se deixavam rosas e ainda se podia sair pelas ruas livres, libertos e sem medo algum. As serenatas e os alpendres, hoje são somente saudade.
Absorto que estava, demorei a perceber que me chamavam para a abertura do evento. Sai dali, e fui para a minha missão daquele dia. Concentrei-me na palestra e com alegria, cumpri meu trabalho da tarde.
E assim que deixei o centro cultural, meus olhos levados pelo coração, imediatamente procuraram aquela casa, aquela construção antiga, que tanto se parecia com a casa onde passei a infância. Imaginei o quanta gente pode ter sido feliz sob aquele telhado e no acolhedor alpendre.
Alpendres hoje, somente nas lembranças guardadas nos recônditos do coração. Nos alpendres refeitos pela minha saudade.


sexta-feira, 11 de novembro de 2016

SOLIDARIEDADE EM DIAS DIFÍCEIS



Todos os dias, quando eu saio do trabalho, por volta de quatorze horas, passo em uma grande avenida de Goiânia, onde sempre noto uma pequena aglomeração de pessoas, em frente a um restaurante - que funciona há anos naquele local.
Como o trânsito ali é muito lento, posso observar as os que ali permanecem. São pessoas diversas. Homens, mulheres, jovens, velhos, e algumas crianças. Muitos têm as roupas sujas, o que pressupõe que estejam já desalentados com a vida que levam.
Na expressão do rosto de cada um, o olhar triste, perdido, como que à espera de dias melhores. E o motivo da permanência deles naquele local é pelo fato que, após o movimento normal dos clientes, o proprietário, em um gesto de solidariedade, divide o que restou com eles. Interessante que todos portam nas mãos uma vasilha, que tenho certeza, será para acondicionar a comida que o dono daquele restaurante doará. Pelo menos, encontram alguém que os ajuda a matar a fome.
O nosso país, que em recente época, viveu dias fantasiosos de glória, agora se depara com uma realidade cruel. Há poucos empregos, e o Ministério do Trabalho não consegue emitir sequer uma carteira profissional. As placas de “aluga-se” são maioria em todas as avenidas. Existem mais lojas fechadas, que abertas.
A economia passa ainda por um tsunami. Apesar das mudanças ocorridas no campo politico, o país ainda patina, sem rumo e sem definições de onde poderá chegar.
Temos políticos, que embora indiciados e réus em cerca de doze inquéritos na suprema corte brasileira, com tamanha cara de pau, se prestam a adjetivar de maneira pejorativa e desrespeitosa membros do poder judiciário, juízes de primeira instância. Esses juízes, para chegarem onde estão, dependeram de passar por concurso publico, ter notável saber jurídico e reputação ilibada. Observem: reputação ilibada. Para ser politico, basta ser politico, nada mais. Reputação e bom caráter, não precisa.
A sociedade paga caro para ter um governo ineficiente e perverso, que a todo momento acena com aumento se impostos e diminuição da qualidade dos serviços – constitucionalmente obrigatórios – que tem que prestar.
E a sociedade precisa reagir. Um chefe de um poder legislativo que chama um juiz de “juizeco”, não merece estar no posto que ocupa. Jamais deveria ocupar uma função, que ao menos na teoria, é importante para o Brasil. Creio que não passa mesmo de um “senadorzeco”, como as redes sociais o denominaram.
Voltando à fila na porta do restaurante, penso que, felizmente, para essas pessoas, existe gente de bom coração. Embora estejam na condição de rua, desesperançados, sem perspectivas de futuro, o alento que recebem está representado em um pouco de comida que recebem – fora de hora, depois que todos almoçam – mas é o que consegue ser feito pela caridosa pessoa do restaurante.
Que a solidariedade volte a reinar em nosso país, e que políticos desavergonhados e desrespeitosos sejam afastados. É preferível mil vezes um “juizeco” de primeira instância, que teve que lutar muito para chegar onde chegou, que um mandatário que se acha acima da lei e da sociedade.
Que tenhamos dias melhores. Sem filas de pedintes, à porta dos restaurantes.
Acreditemos!!



MANHÃS





Me encanta quando,
Na manhã
De Primavera,
Tua presença,
Traz alegria,
E suavidade à vida.
Alseídes,
Ninfa das flores!

Me encanta ainda mais
O carmim de teus
Lábios
Que emoldura
Um sorriso,
Que irradia luz...
Perséfone...
Afrodite...
Olhar de Atena.

Essa manhã
Torna
O dia perfeito,
Como teu sorriso...
Que encanta...


-*-

#Deumpoetaqualquer

sexta-feira, 21 de outubro de 2016

SUA EXCELÊNCIA, A POESIA



A primavera chegou há alguns dias, e sua presença inevitavelmente é notada.. Impossível não perceber o canto das cigarras, as acácias e flamboyants lindamente floridos pelas alamedas da cidade. E o calor, que com o prenúncio de chuvas fortes, é um dos componentes dessa maravilhosa estação do ano.
O canto de um sabiá próximo à janela do meu quarto, aos primeiros raios de luz do alvorecer traz a certeza que a poesia contida em sua melodia bela e encantadora trouxe acalento e sua lembrança, seus acordes, haverão de me acompanhar por todo o dia. Não obstante o trânsito difícil, a correria do dia de trabalho e os desafios cotidianos, a poesia percebida no canto mavioso desse sabiá estará sempre presente. Com isso, o dia – ou a vida – se tornam mais leves.
A poesia vem de encontro ao coração, e toma conta da alma da gente. Contribuem para esse enlevo canções românticas, poemas e o colorido das flores pela cidade. Sua excelência a poesia.
Um dia desses, em uma grande avenida de minha Goiânia querida, percebi um casal jovem que caminhava sem pressa à minha frente. Apesar de estarmos no centro da cidade, com um ir e vir intenso de pessoas, eles pareciam não estar muito preocupados com o mundo. De mãos dadas caminhavam e trocavam impressões sobre as flores nas arvores, o clima que prenunciava chuva e o próximo filme que assistiriam  juntos.
Em determinado momento, em uma dessas lojas que vendem bugigangas importadas eles param e começam a observar as mercadorias ali expostas. Ele pega uma replica de flor e dá de presente para ela. Para desespero da vendedora que rapidamente se aproximou e disse o preço, ao que foi tranquilizada, pois pagaram pelo objeto. Aliás, objeto que, fez com que a moça abrisse um sorriso terno e retribuísse com um “obrigado, amor, te amo”. Ao que se seguiu um leve beijo.
Não pude mais ficar a observa-los. Os compromissos que tinha me impediam de continuar ali. Mas, tive ímpetos de me aproximar e dizer que estava encantado com o carinho e a felicidade que demonstravam um com o outro. E que o canto do sabiá, que eu ouvi pela manhã, caberia perfeitamente como uma linda trilha sonora na historia de amor que viviam.
Mas, a vida seguiu. Durante todo o dia, gravei programas, fiz textos e, inevitavelmente compus poemas. Poemas de amor. Afinal, a poesia se fez presente naquele dia. Dia que começou bem cedo, antes das primeiras luzes do alvorecer. E assim que vieram os primeiros sinais que o sol viria, um sabiá me encanta e enleva o coração. E que ficou ainda mais completo com os gestos de amor e carinho de um desconhecido casal em uma movimentada avenida de Goiânia.
E com tudo isso, apesar das dificuldades cotidianas, em diversos momentos, percebi a presença da Poesia. De sua excelência, A Poesia!




SUA EXCELÊNCIA, A POESIA



A primavera chegou há alguns dias, e sua presença inevitavelmente é notada.. Impossível não perceber o canto das cigarras, as acácias e flamboyants lindamente floridos pelas alamedas da cidade. E o calor, que com o prenúncio de chuvas fortes, é um dos componentes dessa maravilhosa estação do ano.
O canto de um sabiá próximo à janela do meu quarto, aos primeiros raios de luz do alvorecer traz a certeza que a poesia contida em sua melodia bela e encantadora trouxe acalento e sua lembrança, seus acordes, haverão de me acompanhar por todo o dia. Não obstante o trânsito difícil, a correria do dia de trabalho e os desafios cotidianos, a poesia percebida no canto mavioso desse sabiá estará sempre presente. Com isso, o dia – ou a vida – se tornam mais leves.
A poesia vem de encontro ao coração, e toma conta da alma da gente. Contribuem para esse enlevo canções românticas, poemas e o colorido das flores pela cidade. Sua excelência a poesia.
Um dia desses, em uma grande avenida de minha Goiânia querida, percebi um casal jovem que caminhava sem pressa à minha frente. Apesar de estarmos no centro da cidade, com um ir e vir intenso de pessoas, eles pareciam não estar muito preocupados com o mundo. De mãos dadas caminhavam e trocavam impressões sobre as flores nas arvores, o clima que prenunciava chuva e o próximo filme que assistiriam  juntos.
Em determinado momento, em uma dessas lojas que vendem bugigangas importadas eles param e começam a observar as mercadorias ali expostas. Ele pega uma replica de flor e dá de presente para ela. Para desespero da vendedora que rapidamente se aproximou e disse o preço, ao que foi tranquilizada, pois pagaram pelo objeto. Aliás, objeto que, fez com que a moça abrisse um sorriso terno e retribuísse com um “obrigado, amor, te amo”. Ao que se seguiu um leve beijo.
Não pude mais ficar a observa-los. Os compromissos que tinha me impediam de continuar ali. Mas, tive ímpetos de me aproximar e dizer que estava encantado com o carinho e a felicidade que demonstravam um com o outro. E o canto do sabiá, que eu ouvi pela manhã, caberia perfeitamente como uma linda trilha sonora na historia de amor que viviam.
Mas, a vida seguiu. Durante todo o dia, gravei programas, fiz textos e, inevitavelmente compus poemas. Poemas de amor. Afinal, a poesia se fez presente naquele dia. Dia que começou bem cedo, antes das primeiras luzes do alvorecer. E assim que vieram os primeiros sinais que o sol viria, um sabiá me encanta e enleva o coração. E que ficou ainda mais completo com os gestos de amor e carinho de um desconhecido casal em uma movimentada avenida de Goiânia.
E com tudo isso, apesar das dificuldades cotidianas, em diversos momentos, percebi a presença da Poesia. De sua excelência, A Poesia!




sexta-feira, 23 de setembro de 2016

CIGARRAS, FLORES, PRIMAVERA




O canto das cigarras, que começou tímido, logo tomou conta do imenso quintal da Fazenda Nova América. Situado nos fundos da casa humilde, o quintal era composto de imensas mangueiras, de variadas qualidades, jaqueiras, goiabeiras e nos fundos, à direita, laranjeiras e pés de limão, pinha e jambo.
Eu ficava tentando ver as cigarras. Não entendia como elas, apesar do canto forte, vigoroso e constante, conseguiam manter-se invisíveis aos meus olhos. Olhos curiosos, de uma criança que ainda tentava entender os mistérios da natureza.
Apesar da pouca idade, eu já conseguia perceber as mudanças que ocorriam com o tempo.  Percebia que em determinada época do ano, o sol chegava mais cedo. E era justamente quando as cigarras traziam seu canto. Os ventos, apesar do forte calor, tornavam-se mais constantes e nuvens tímidas apareciam no céu azul.
Enlevado com o canto das cigarras, notei que ao longe meu pai preparava a terra para o plantio.  Do quintal onde eu passava as tardes em brincadeiras solitárias, sob o olhar vigilante e cuidadoso de minha mãe, eu percebia o vulto de meu pai enleirando coivaras, no local que seria a próxima roça, que havia sido derrubada e queimada há pouco tempo.
Numa tarde em que as cigarras cantavam sem parar, acompanhei minha mãe até a frente da casa, onde ela estendia roupas que haviam sido lavadas no riacho. Havia ali uma moita de açucena e dela, brotavam belos cachos de flores. Flores de uma beleza indescritível, que traziam um perfume mágico, único e embriagador.
Fiquei absorto, quieto, fitando aquelas flores, de pétalas suaves e frágeis. De um branco perfeito, onde tinham pequenos pontinhos amarelos ao centro. Senti a beleza daquelas flores adentrarem minha alma, meu coração. Somente fui desperto daquela letargia pelo chamado de minha mãe, para que voltássemos para casa.
Era final de tarde, e meu pai chegou do trabalho da roça. Como de costume, uma breve e carinhosa conversa com minha mãe, até que fomos - ele e eu – tomar banho no pequeno riacho. Em minha inocência de criança, perguntei a ele por qual motivo somente com o canto das cigarras, a açucena brotava flores tão belas. E ele, fitando-me nos olhos, terna e carinhosamente me responde: estamos na primavera.
A palavra Primavera me tocou tanto quanto a beleza daquelas flores da açucena. Primavera: como soou bem aos meus ouvidos e ao meu coração essa palavra.
Depois dessa tarde, muitas primaveras vieram. E a cada vez que ela chega, eu fico enlevado com o canto das cigarras e com a certeza que em breve a chuva chega, trazendo alegria e conforto, fertilidade e renovação da vida.
E nunca esqueci, quando, meu pai, em seu jeito simples e amável, me ensinou o que era a primavera. O sentido da estação das flores, a mais bela das estações.
Está aqui, gravado nos recônditos do meu coração, as imagens e o perfume daquelas flores de açucena. É impossível esquecer o perfume de flores de primavera, com trilha sonora de canto de cigarras. E com a presença da chuva, renovando o ciclo venturoso da vida.
Canto de cigarras e flores de açucena... Em uma linda tarde de Primavera!

-*-

sexta-feira, 16 de setembro de 2016

CANTAM (EM SI) AS CIGARRAS


Foto: Thais Rolim Póvoa

Em alguns dias dessa semana que está quase terminando, a mãe natureza nos brindou com um espetáculo único, fantástico. Ao nascer do dia, eis que percebemos que brotou no horizonte, de maneira tímida, coberto por nuvens tímidas, um sol de tom avermelhado, com nuances de rosa, que foi clareando conforme o dia ia se espichando.
O céu parece ter parado para dar lugar e visão àquela maravilha. Um sol pouco comum, que nascia vermelho, ou vermelho-rosa, cheio de belezas e encantos. E as nuvens , que pouco apareciam, pareciam concordar com o mormaço que trazia e mantinha um clima marcado por um calor insuportável.
Ao chegar ao trabalho, em uma avenida movimentada do centro de Goiânia, enquanto admirava o incomum sol vermelho, comecei a ouvir canto de cigarras. No começo, uma apenas. Depois, vieram outras e se juntaram ao coro irregular, com notas musicais pouco entendíveis, mas que traziam com aquele canto a certeza que em breve, a irmã-chuva haverá de nos trazer alívio e aconchego.
E lembro que com o canto de cigarras e o sol vermelho das manhãs de minha querida cidade, é tempo de quase primavera. Em poucas horas, a estação das flores, das cores alegres e da certeza da continuidade do ciclo da vida, está presente entre nós. Primavera de cores e de flores, muitas flores.
Assim, passei toda a manhã, sem conseguir me desvencilhar da lembrança do sol vermelho e da certeza da presença em breve da primavera.
Ao chegar em minha casa, depois de vencido o expediente primeiro do trabalho, me deparo com a jabuticabeira carregada de frutos, já quase em ponto de colheita. Frutos que em poucos dias estarão prontos, maduros, com a doçura que somente eles têm. E além de mim, alimentarão os amigos pássaros, que habitam o quintal. Os pássaros – meus amigos - estão em algazarra constante, já habitando os ninhos recém-construídos nesse tempo de espera da chuva, e da primavera, onde darão continuidade às suas espécies.
Com isso não percebo a rapidez com que a tarde vai passando. E as cigarras, aqui e ali a entoar seu canto de esperança, de proximidade de primavera, de certeza de dias mais amenos.
A tarde se vai e a noite chega. Não obstante a beleza de um sol vermelho na manhã, a noite traz uma lua no céu, cheia de luz, de magia, de encantos. Inspiradora. Pura poesia.
Lua que, apesar de suas fases, entre idas e vindas, sempre renova o coração. Ainda mais quando surge bela, mágica imponente e cheia de luz como estava nas noites dessa semana.
À noite, o clima é mais ameno. Mas o coração dos poetas se aquece e bate forte. Ainda mais depois de um sol vermelho e misterioso ao alvorecer, manhã e tarde de canto de cigarras, a magia da lua a acalentar os corações.
Sempre ela, a lua! Trazendo poesia e inspirando canções, a emoldurar noites de puro lirismo.






sexta-feira, 9 de setembro de 2016

EM UMA TARDE DE QUASE SETE DE SETEMBRO




A perspectiva de trânsito ruim e congestionado fez com que eu saísse mais cedo do que deveria, em direção à um local onde teria um compromisso. Tive essa precaução, afinal, era um compromisso importante e eu teria que estar no início dos trabalhos. Mas surpreendentemente o trânsito ainda estava tranquilo e o resultado é que cheguei cerca de meia hora antes do horário previsto.
A surpresa maior veio quando, ao olhar as mensagens no telefone celular, havia uma mensagem informando que a reunião fora adiada em uma hora, e que eu, embora estivesse no local, teria que esperar cerca de uma hora e meia.
Era um fim de tarde de quase primavera, de muito calor e clima seco, como é no centro-oeste e notadamente em Goiás à essa época do ano. A umidade do ar batia em quase zero, o que tornava o ar irrespirável e desconfortável.
Resolvi procurar uma lanchonete, afinal eram quase seis da tarde e seria de bom alvitre forrar o estômago. Mas, naquele bairro de periferia, de gente simples e humilde não havia lanchonete. Mas em diversas esquinas era possível encontrar uma banquinha de espetinho, com gente animada e alegre em volta, terminando seu fim de dia, degustando carne no espeto e tomando uma geladinha.
Encontrei em uma esquina um barzinho tranquilo, de nome simples: Chopp Alves.  Ainda eram poucos os frequentadores e tinha uma área coberta, que protegia bem dos últimos raios do sol daquela tarde.
Pedi um espetinho e o dono cortês, mandou que eu mesmo escolhesse o que eu quisesse, dentre tantos outros, em um recipiente de vidro, limpinho e organizado. Escolhi um mais magro e coloquei sobre a grelha na “churrasqueira”. A brasa estava bem viva e em pouco tempo, ficaria pronto. Logo o rapaz me trouxe o espetinho, acompanhado de mandioca. Veio um refrigerante e fui cuidar de degustar logo espetinho com a carne bem passada, como eu gosto.
Enquanto tomava o refrigerante passei a observar os vizinhos de boteco. Perto de mim, um pai todo carinhoso com uma menininha, cortava a carne em pedacinhos e servia à mocinha, que com um sorriso de pura felicidade, retribuía ao mimo do pai.
Em outra mesa, alguns rapazes, ainda com uniforme da empresa em que trabalhavam, conversavam animadamente e pareciam comemorar o fato que no dia seguinte, sete de setembro, seria feriado. Enquanto tomavam sua cerveja, mexiam no aparelho celular e animadamente combinavam um churrasco para o dia seguinte.
Ao tentar retirar um pedaço de carne do espeto, o deixei cair no chão e imediatamente, um cãozinho da cara boa - simpática e alegre, mostrando imensa satisfação - degustou avidamente o pedaço que caíra, para inveja de dois outros “colegas” dele.
Não me contive e dividi o que restava do espeto com os outros dois, afinal, estava mesmo muito bom e saboroso.
A alegria dos cãezinhos acabou quando o dono do barzinho se aproximou e com pouca elegância os pôs para correr dali, o que eles fizeram de imediato.
Mal percebi que o sol se fora e a noite anunciava sua chegada. Paguei a conta e saí dali feliz e tranquilo, em direção ao local do meu compromisso. Foi bacana ver que em momentos de um Brasil em crise, pessoas se confraternizam, se encontram e levam a vida com alegria.
E a vida, é a maior dádiva que temos. Com alegria então, é melhor ainda. Em véspera de dia da pátria, em uma tarde de quase sete de setembro, uma tarde seca e quente. Mas de felicidade.


quinta-feira, 1 de setembro de 2016

INTENTO





Quis construir um poema
Inspirado
Em teu olhar,
Em teu sorriso, e
E pela luz que irradia
Em manhãs
De todas as estações...

Busquei palavras,
Períodos,
Orações,
Mas quedei-me
Ante a inevitável
Constatação:
Não há nada
Nesse mundo,
Seja palavra,
Período ou oração
Capaz
De descrever
Teu olhar e
Teu sorriso...

Afinal,
Teu sorriso e
Teu olhar
São o mais belo
E perfeito
Poema
Que existe...

-*-




#Deumpoetaqualquer

sexta-feira, 19 de agosto de 2016

CHUVA, FLORES, JABUTICABAS.




Ansiada e esperada, a chuvinha calma de agosto que veio no decorrer da semana trouxe a sensação de alivio e uma imediata resposta por parte de arvores e plantas urbanas. Nos quintais, os pássaros em seu ir e vir constante, ao preparar seus ninhos no alto das arvores, emitiam trinados e cantos característicos dessa época de acasalamento.
Antes dessa chuva benfazeja, eu ganhei um presente: a jabuticabeira do meu quintal, após anos e anos, resolveu produzir. Vieram frutas temporãs, antes da safra, que ocorre nos meses de outubro e novembro.
Uma manhã notei um galho diferente dos demais. Ao me aproximar, notei pequeninos bulbos no caule e algumas flores. Mais no alto já despontavam os frutos, de um verde vivo, ainda muito pequenos.
Poucos dias depois, as flores eclodiram em frutos, que cresceram e aos poucos foram mudando de cor, ficando negros, amadurecendo. Eram frutos doces e muito saborosos.
Essa safra temporã durou pouco, afinal, foi apenas um galho que produziu, de tantos que a planta tem. Comisso passei a molhar a jabuticabeira todos os dias, e não demorou, novamente, ela estava florada – dessa vez, em toda sua extensão. Aguardo agora com imensa expectativa os novos frutos que logo chegarão. Vai ser uma festa.
A chuva de agosto e as flores da jabuticabeira me trazem uma certeza: é quase primavera. Primavera que sempre traz a sensação de renovação da vida, de perpetuação de espécies e de muita beleza.
As flores da primavera embelezam a vida e tornam o mundo belo e cheio de encantos. Junte-se a esse encanto o sorriso de crianças correndo pelos parques, em uma tarde de sol, ao som de canto de pássaros.
E ao final dessa tarde de agosto, após a chuva e a constatação da nova florada da jabuticabeira, recebo a visita do pequeno Gabriel. Vem acompanhado dos pais e, qual primavera, enche a casa de alegria e felicidade.
O pequeno Gabriel, já com cinco meses, está crescido e risonho. Ao ouvir minha voz, esteja onde estiver – até no colo da mãe - fica a me procurar com seus lindos olhos negros, vivos e espertos.
Dessa vez, a primavera que está por chegar, será especial. Temos os frutos da jabuticabeira, com seu sabor inigualável. E a doçura da presença do pequeno Gabriel. De olhos negros e vivos, que sempre me encantam.
É quase primavera. Bem vinda seja a chuva que traz conforto e a certeza de uma primavera que se anuncia. Com encantos e alegrias! E muitas flores!




sexta-feira, 12 de agosto de 2016

DA ALEGRIA DE SER PAI




Ser pai é privilegio. Momento único, especial na vida de um homem, que completa a vida e torna o existir mais leve e suave. Os dias passam a ser mais intensos e a expectativa da volta pra casa após o trabalho é total. Os finais de semana ficam pequenos, face à presença do filho ou da filha em casa.
A experiência de pai começa com a de ser filho. Eu lembro muito bem, do carinho e do cuidado de meu pai para comigo. Lembro como hoje, quando ao final da tarde eu via ao longe sua pequena silhueta chegando do trabalho árduo na roça, depois de mais um dia sob sol escaldante. Ele vinha com a enxada ao ombro, lenta e compassadamente pela estradinha que dava acesso à nossa casa, na querida e saudosa Fazenda Nova América. Depois, quando se aproximava, mesmo indo contra as recomendações de minha mãe, eu corria em sua direção e ia espera-lo próximo á pequena ponte feita de troncos, que dava passagem sobre o riacho. Ali, ele sorria, me abraçava e me colocava em seus ombros. E eu, todo feliz, era levado por ele até nossa casa.
Depois de saber de minha mãe como fora o dia, descíamos em direção ao riacho. Era quando meu pai ia me ensinar a nadar e nesse meio tempo, nos divertíamos a valer. Depois, voltar para casa e com o fundo musical proporcionado pelo velho radio ABC, esperar o jantar. Hora em que ele conversava animadamente com minha mãe e meus irmãos. Era o fim de um dia de muito trabalho, mas ao mesmo tempo, de alegrias, na pequena e humilde casa da Fazenda Nova América de minha infância.
Veio minha adolescência, e meu pai continuou o grande amigo, sempre presente e acima de tudo, nos momentos difíceis, característicos dessa idade, nunca deixou de manter seu sorriso e sua serenidade.
O tempo passou, e um dia me vi à porta uma maternidade, ansioso por  conhecer o rostinho de minha primeira filha. Impossível conter a emoção, ao ver aquele semblante plácido, lindo, aqueles cabelos pretinhos. Derramei lágrimas naquele momento. Minhas primeiras lágrimas como pai. Tal fato se repetiria anos mais tarde quando viria minha segunda filha, igualmente linda, de olhos e cabelos negros.
Vivo agora uma experiência nova como pai. Melhor dizendo, como avô. Mas, para ser avô tive que ser pai. O menino Gabriel, que chegou há poucos meses, é alegre, risonho e de bem com a vida. Como a mãe, tem olhos negros e sorriso franco. O legal é quando chego em casa e ele está presente. Ao ouvir minha voz, fica a me procurar com os olhos e quando me encontra, abre o sorriso, dando sonoras risadas. Assim, o coração que não é muito forte, se derrete todo ante a emoção da pureza e da alegria do pequeno Gabriel.
Esse será o primeiro dia dos pais que passo na condição de avô. Para o pai do Gabriel, que viverá seu primeiro dia dos pais como pai, o merecido abraço e o carinho, afinal, somos pais.
Que o dia dos pais seja de alegria e harmonia. De regozijo e abraços para quem tem seu papai por perto e de saudade boa para quem já não mais o tem.
Assim, desejo um feliz dia dos pais a todos os papais! Que recebam ternura, abraços e vivam momentos de alegria, harmonia e muito amor! Verdadeiramente, um feliz dia dos pais!




sexta-feira, 5 de agosto de 2016

CADA PALMO DESSA ESTRADA...




O brilho do sol começava a ficar mais intenso, conforme o carro seguia na estrada. Estrada que me era muito familiar. Notei que pouca coisa mudara por ali. Apenas algumas árvores que existiam quando ali passei que não mais compunham a paisagem. Ou, algumas casas recém-construídas. Além das inúmeras e frondosas cercas vivas que ladeavam as fronteiras das propriedades com a estrada.
Alguns quilômetros depois que deixávamos a cidade, após passar um pequeno conjunto de pequenas casas simples e um comércio – o que aqui se chama de venda - notei que à esquerda da estrada ainda existia uma pequena placa, que sempre me chamara a atenção, cujos dizeres, gastos pelo tempo, ainda estavam visíveis. Traziam a inscrição “Chácara Paraiso”. E do alto de onde passávamos, ao contemplar aquele local, constatava-se que era mesmo um local para ser chamado de paraíso. Estava lá o pomar de jabuticabas, as imensas e frondosas mangueiras, o pequeno lago e a casa, agora maior, e como sempre pintada com cores alegres e bonitas. Aquele lugar tinha mesmo ares de paraíso.
O coração e o olhar voltaram-se para a estrada. Recordei quando, aos domingos eu passava por ali com destino à cidade onde meus pais moravam, a querida e saudosa Silvânia, que fica alguns quilômetros à frente.
Depois de passar por Bonfinópolis e visitar a Lanchonete Mangueira – que hoje não existe mais – e onde sempre havia um pastel gostoso, feito na hora, além de dois dedos de prosa do proprietário, era seguir em frente e em pouco tempo chegar à casa de meus pais.
Ali era um reduto da alegria, da harmonia e da felicidade. Chegávamos bem cedo, quando meus pais chegavam da missa. Abraços, carinhos, beijos de saudade. E meu pai não abria mão de, por alguns minutos, sentar ao meu lado e saber da vida, do meu dia-a-dia, como andava a família e como andavam os planos para o futuro. Ele chamava a isso de palestrar. Não raro prolongávamos ali nossa conversa, agradável e muito edificante.  Até que éramos interrompidos pela chegada de familiares que desembarcavam - segundo meu pai “um magote de meninos” – e que vinham se somar às minhas filhas. Assim a alegria do domingo ficava completa.
Chegava a hora do almoço: comida farta e deliciosa de mãe. Momentos felizes, únicos, tão bem vividos. Depois, dormir o sono gostoso de “depois do almoço” na rede e ao meio da tarde, voltar para casa, passar novamente por aquela estrada – onde cada palmo eu conheço bem. Era o momento de começar a pensar na semana que estava por vir e enfrentar os desafios cotidianos.
Ainda imerso nessas lembranças percebi que estávamos chegando ao destino, uma fazenda muito bonita, onde faríamos uma gravação para um programa de TV. Ali, rapidamente o trabalho me absorveu e o tempo passou rápido. Cumprido o compromisso, retornamos à Goiânia, já por volta de meio dia.
E de novo naquela estrada, me veio a saudade de tantos domingos em que ali passei. Saudade de momentos felizes, junto aos meus pais, meus irmãos e familiares. Veio uma saudade imensa de tantos domingos felizes.
E o coração saudoso, através do olhar mirava aquela estrada. Estrada que continuava como sempre foi, onde ainda existe uma pequena chácara que se chama Paraiso. Cada palmo dessa estrada, eu conheço muito bem. Afinal, ela faz parte dos caminhos trilhados pelo coração.





sexta-feira, 29 de julho de 2016

OS MENINOS RIBEIRINHOS




(Para Isaías e Érika)

O dia amanhecia eles logo se colocavam a postos, no costumeiro lugar de brincadeiras, à sombra de árvores frondosas e generosas. Ali, sobre uma tábua e ao lado de um desvio no terreno, onde certamente á época das chuvas, passava a enxurrada, eles ficavam horas e horas a brincar.
Eram irmãos. O menino, mais novo, era tímido. Falava pouco e só abria o sorriso quando era para falar de sua escola, dos coleguinhas e da professora. Com orgulho dizia estar no “primeiro ano A”. Dava ênfase especial à letra que denominava sua turma, como se estar no ano A fosse privilégio e sinônimo de inteligência.
A menina, essa bem mais saída, dizia estar no terceiro ano A e abria um sorriso quando falava que um dia seria como sua professora: bonita e inteligente. E que faltavam poucos dias para completar nove anos.
Fui saber mais dos meninos ribeirinhos: eram netos do casal de zeladores de uma pequena propriedade, situada às margens do majestoso Rio Araguaia, na divisa do Pará com o Tocantins. E estavam passando as férias escolares ali.
A menina, em determinado momento, me confidenciou com certa tristeza que não queria mais voltar para a casa da mãe, que queria mesmo era viver ali com seus avós. E contou uma história triste: que seu padrasto era um homem ruim que a obrigava a trabalhar o dia todo como gente grande e também espancava a ela e ao irmão.
E tinha um sonho: ir à praia que ficava distante, na outra margem do rio e brincar com aquelas felizes crianças que via passar em canoas e em velozes jet-skis. O menino, com o sorriso tímido dava a entender que também compartilhava dos mesmos sonhos. Disse que o avô havia prometido que logo os levaria, mas esse dia estava demorado a chegar. E ela saia embalando sua boneca, ou seu pedaço de boneca, que, ao lado do irmão, era sua companhia de todas as horas nas brincadeiras infantis.
“Minha avó tá me chamando!”! Era a senha para que saíssem correndo atendendo ao chamado da avó que de longe, gritava-os pelo nome. E sumiam em direção à pequena casa onde moravam. E eu fiquei ali, a pensar: que futuro espera esses meninos, que um dia deixam a casa dos pais e sonham não mais voltar?
Ali junto aos avós, era só alegria. Era brincar, afinal, os pequenos afazeres domésticos não incomodavam. E tinha muito, mas muito tempo mesmo para brincar.
Um dia, observei que estavam com uma brincadeira diferente: haviam amarrado um cordão grande em um galho e na ponta, um pedaço de tijolo também compunha a peça. Era a imitação de uma vara de pescar, com um “peixe grande” na ponta. E eles brincaram ali, horas e horas, tentando tirar o “peixe” daquela água imaginária. Chegando perto, perguntei o porquê daquilo e eles me disseram que o avô contara uma história em que pegava um “peixão”  e eles resolveram imitá-lo. Era a vida de criança, transformando em arte e brincadeiras as histórias gostosas dos avós.
Minhas férias acabaram e eu tive que voltar. Ao despedir de meus amigos meninos ribeirinhos, recebi deles o sorriso de todos os dias e a pergunta: você volta depois, né tio? Você é bonzinho... Essa ultima frase foi dita meio que para dentro, quase que como uma reflexão.
Segurei a emoção, para não chorar diante deles, mas ao me afastar não pude conter uma lágrima. O sorriso daquelas duas crianças e a verdade com que me disseram essas palavras me tocou profundamente.
Hoje, de volta à correria da cidade grande, lembro com saudade dos dias em que fiquei a descansar às margens do belo Rio Araguaia. Foram dias maravilhosos. E lembro com saudade, de meus amigos, os meninos ribeirinhos.
Rogo ao Pai que lhes dê um destino diferente daquele que parece ser o que os espera. Que eles consigam um futuro digno de seus sonhos. Que a vida lhes sorria e se tornem cidadãos de bem; que consigam acesso aos estudos, possam ser felizes e que façam à outras pessoas felizes também.
É o que eu desejo ao menino tímido e calado e à menina espevitada e falante. Os meus amiguinhos, que como eu um dia, cheios de sonhos: os meninos ribeirinhos.




sábado, 23 de julho de 2016

POR “BANCADAS DA ARTE E CULTURA” NOS PARLAMENTOS




O Jornalista e Produtor Cultural Melck Aquino tem uma larga e profícua vivência dedicada ao setor artístico e cultural. Recentemente ocupou a pasta da cultura do Estado do Tocantins. Melck Aquino postula uma vaga na câmara de vereadores da cidade de Palmas, capital do estado onde vive.
A busca da eleição à uma vaga na câmara de vereadores de Palmas por parte de Melck Aquino leva à uma reflexão: o setor cultural precisa urgente de uma bancada comprometida nos parlamentos do país. Chega de ser apenas animadores de auditório para candidatos políticos profissionais, que contratam artistas em sua campanha, consequentemente, contratam seu apoio. O Setor cultural precisa assumir seu protagonismo, hoje restrito às apresentações e espetáculos. Precisa se unir e eleger representantes, diretamente da classe.
Tornar importante e representativo o setor cultural, notadamente nos parlamentos, sejam agora, nas próximas eleições às câmaras de vereadores ou nas assembleias legislativas estaduais e no congresso nacional em 2018 – nas duas casas: senado e câmara dos deputados – deve ser um dos objetivos da classe artística brasileira.
Chega de ser “representados” por políticos que não tem nenhum compromisso com a classe. É preciso ser ator principal, não mero coadjuvante.
Com isso, pode evitar fatos como o ocorreu no ano que passou: um politico goianiense, depois de dar um chá de cadeira de uma manhã inteira em um conhecido cantor e compositor, deu a “esmola” de R$ 300 reais, a título de ajuda de custo para um show em Goiânia. Em contrapartida, “pediu” uma breve participação no show, onde contaria um “causo”. A contragosto, o cantor aceitou, contrariando parecer de sua produção. No momento do espetáculo, essa participação foi um verdadeiro absurdo e quebrou o clima de encanto do show: o "causo" era um texto em diversos momentos obsceno e politicamente incorreto. Felizmente ele atendeu ao chamado da produção e saiu do palco. Mas, o absurdo não ficou por aí: no dia seguinte, os jornais traziam uma matéria enviada por sua assessoria, dizendo ser ele o “promotor” e “produtor” do espetáculo que, tirando sua pobre e infeliz participação, foi muito bonito. Enfim: o tiro saiu pela culatra, pois as trezentas pessoas que estiveram naquele espetáculo, jamais votarão nesse político.
É preciso por fim ao reinado desses oportunistas. São tão desonestos quanto os que roubaram e vilipendiaram o patrimônio brasileiro. Fazem do setor cultural um trampolim para suas ambições políticas. E quando são eleitos, viram as costas para quem os ajudou muitas vezes sem sequer receber pagamento pelo serviço prestado.
O setor cultural e artístico precisa ser protagonista, ser o ator principal e não mero figurante. As politicas culturais no país precisam crescer, e não podem ao primeiro problema econômico, ser simplesmente extinta ou mesmo adiadas. Cultura é como arroz e feijão: algo absolutamente necessário e edificante ao ser humano.
Aos artistas e envolvidos no setor cultural, recomendo que se unam em torno desses objetivos: eleger parlamentares do setor.
Em Goiânia, na eleição passada, o setor cultural quase elegeu um vereador, o diretor e ativista cultural Eduardo de Souza, que como suplente, chegou a assumir por breve período uma cadeira na câmara municipal.
No congresso nacional, existem as propaladas bancadas da bala, da bíblia e dos produtores rurais. Representam suas categorias. Que sigamos seus exemplos e elejamos a bancada da arte e da cultura, afinal, somos muitos e temos votos. Tenho certeza que será atuante, justa e acima de tudo comprometida com o país, face à visão que têm da vida.
Bancada da arte e da cultura: fica aqui lançada a semente. Elejamos quem tem compromisso! E que seja do meio. Sem atravessadores!

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Paulo Rolim – Jornalista e Produtor Cênico
Twitter: @americorolim


sexta-feira, 24 de junho de 2016

O MÊS DE JUNHO E O CORAÇÃO DO POETA





O mês de Junho sempre me trouxe alegria. Desde muito criança, me alegrava quando na simplicidade do humilde e singelo lar da Fazenda Nova América, recebia o carinho e o abraço de meus pais e meus irmãos.  Foi assim que aos poucos o tempo passou, e eu entendi que em Junho eu fazia aniversário.
À medida que crescia, passei a esperar ansioso o mês de Junho. Percebia que estava próximo, quando se comemorava o aniversário de minha mãe, que era no mês de maio. E também quando o estoque de roupas de frio, era renovado e eu ganhava novos pijamas de flanela, com pequenos desenhos de bichinhos. Roupinhas simples, feitas ali mesmo na fazenda pelas mãos hábeis de minha mãe, na velha e eficiente máquina de costura Leonam.
Ainda na Fazenda Nova América, eu me lembro muito bem, que no mês de Junho logo após meu aniversário, os vizinhos vinham para uma noite de alegre folguedo, repleta de alegria e harmonia, quando se reuniam em volta de uma imensa fogueira, e o violão de meu pai e os versos declamados por minha mãe eram a maior atração.
Em alguns anos, apareciam por ali outros violões ou mesmo, o som dolente de uma sanfona, que manejados habilmente pelas mãos calosas de seus donos, emitiam sons que faziam a alegria dos presentes.
Os muitos meninos, filhos dos vizinhos que compareciam à festa, se deliciavam com a fartura de doces e comida. Depois de se fartar, vinham as brincadeiras de pique-esconde, não sem antes recebermos os “conselhos” e as observações dos adultos para que tivéssemos cuidado e não corrêssemos muito, pois com a barriga cheia poderíamos “passar mal”. Mas, ninguém obedecia a esses conselhos e a brincadeira continuava até que cansássemos,
O tempo passou, os saraus de alegria e felicidade das noites Juninas da Fazenda Nova America permaneceram nos recônditos do meu coração, e o mês de Junho continuou sendo marcante e significativo para mim.
Foi também em uma noite de Junho que comecei o romance com a minha amada. Foi em uma festa Junina que começamos o namoro, que depois de algum tempo, resultou em casamento e a chegada de filhas queridas e amadas.
Foi em Junho que uma das minha filhas nasceu. Naquela bela e encantadora manhã de um sábado de sol brilhante e clima ameno, que Alline, minha segunda filha chegou, trazendo alegria e felicidade.  Vinha fazer companhia à linda menina Thais, que ansiava pela chegada da irmã.
Hoje, em Junho, além da alegria de comemorar meu natalício e da minha filha Alline, recebo a visita do menino Gabriel. Gabriel, aos três meses de idade vem também trazer alegria e felicidade, com seu sorriso encantador e suas brincadeiras de bebê.
Junho é assim para mim. Tão bom como os outros meses do ano - afinal a vida é algo de fantástico. Mas Junho, tem sim, algo de muito especial. Celebremos a vida. E viva Santo Antônio, São João e São Pedro.
Que o mês de Junho, que antecede as férias de Julho, seja sempre de muita alegria! Para enlevo do coração de um simples Poeta.

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sexta-feira, 10 de junho de 2016

FOLHA SECA, OUTONOS...




A leveza e a suavidade com que uma pequena folha seca ia e vinha, ao sabor do vento, sobre o asfalto daquela rodovia, impassível diante do carro ou do caminhão que transitava ali, mostrava que ela, a pequena folha, superava e suportava a tudo que se apresentava. Era apenas uma singela folha seca, que destemida diante dos gigantes da estrada, parecia não querer sair daquele lugar.
Embora o deslocamento de ar causado pelo trânsito de veículos insistisse em tirá-la do caminho, inexplicavelmente ela permanecia. Permanecia imóvel até que outro carro, caminhão ou motocicleta viesse movê-la.
Estava uma tarde espetacular de outono. O sol, encaminhava seus últimos momentos na jornada do dia. Despedia-se e dourava de luz e beleza a vegetação dos verdes campos daquela terra. O céu, de um azul suave, com algumas nuvens brancas que a cada momento variavam suas formas, parecia que, por pura cumplicidade com o sol, juntava-se a ele e completava a beleza da tarde, ao fim daquele dia.
O carro deslizava pelo asfalto, e a folha seca logo ficou pra trás. Era apenas uma rara e tênue lembrança dentre todos os fatos daquele dia. Ao fim das ultimas luzes da tarde cheguei ao meu destino e ao lado dos companheiros de viagem, dirigimo-nos ao teatro onde faríamos uma apresentação musical.
A rotina foi a mesma de cada show. Chegada, sendo sempre muito bem recebidos. Verificar o local, fazer vistoria técnica, organizar camarins, e após breve descanso, os músicos e o artista principal daquela apresentação, iriam passar o som.
A pequena folha seca, volta e meia permeava minhas lembranças. E com isso, minhas  reflexões vieram à tona. Comecei a lembrar o movimento da pequena, aparentemente frágil e indefesa folha seca com a vida, com o existir. Pensei como aquela folha saiu de um caule, tenra, pequenina, broto ainda. Depois, cresceu e foi apenas mais uma folha verde e viçosa junto com outras, em uma arvore imensa, grande. Teimosa, seguiu ali até o dia em que, perdendo o vigor, o viço, a cor verde deu lugar à amarela, e aos poucos foi secando. Outras vieram nova, um pouco mais no alto e a substituíram, e naquele outono, ela finalmente, desprendeu-se do caule que a sustentava e deixou-se levar pelo vento. Cumpria assim sua sina. Agora, era somente o esperar que alguma lavareda de fogo, ou algum inseto ou fungo, dela viesse se alimentar.
Mas a pequena folha, inquieta como era, aproveitou a força de um vento mais forte e deixou-se levar, pois queria conhecer outros lugares, outros mundos. Estava no outono, onde tantas outras folhas caíram junto com ela, mas ainda assim, permitiu-se conhecer o outro lado da vegetação, onde havia a estrada e movimento e sons que a encantavam.
Foi assim que a pequena folha chegou àquela tarde, àquele local na estrada, onde eu passava junto com amigos, indo para mais um trabalho, mais um show, mais uma produção.
Comparei a vida, o existir, com a imaginada trajetória da pequena e frágil folha. Poeticamente, situei cada momento dela com momentos da minha vida, onde os outonos chegam sempre.
Logo, serão muitos: cinquenta outonos vividos, completos. Passarei por esse outono, irei em busca de superar invernos, para chegar à primaveras de flores e amores e viver verões intensos. Assim, logo, mais um outro outono, no venturoso ciclo da vida.
E sempre com a inquietude de uma folha, que mesmo seca, frágil e indefesa, desprendida de seu caule, vai em busca de uma estrada, uma estrada de alegria, sons e movimentos.
Depois de mais um outono... Cinquenta outonos.