quinta-feira, 17 de março de 2016

MENINO GABRIEL




Do Poeta João Sobreira Rocha para o Anjo Gabriel


E tu vieste, menino Gabriel
Envolto numa ramagem de flores do campo
Salpicadas pelo orvalho da madrugada
E com um perfume orquestrado de beijos e afagos muitos.....

- Vovô e vovó
Estavam ali nos corredores da maternidade,
Encantados
E deslumbradamente inquietos para acariciá-lo
Na espera longa do primeiro neto,
O anjo Gabriel !

Tua chegada há de mudar as rotas,
Modificar percursos,
Idas e vindas
No colorido das manhãs e no silêncio doce das madrugadas....

E um gosto sublime de mel e chocolate,
Aventuras de um guri,
Se espalharão pelo quarto, brinquedos, mimos e agrados
Para recepcionar o Anjo Gabriel
Com seus olhinhos vivos,
E um leve sorriso meigo
Espargindo alegria e felicidades
À mamãe Thais e
Ao  papai Bruno!

-*-



Titio João Sobreira Rocha


CANÇÃO DE AMOR PARA GABRIEL




Gabriel resolveu dar o ar da sua graça em uma noite de verão, quase outono. Apressado, adiantou em alguns dias sua chegada, que estava prevista mais para o final do mês. Depois de avisar que queria vir, seus pais Bruno e Thais foram ao hospital e receberam a informação e confirmação do médico, Dr. João Batista Alencastro, que ele chegaria ainda naquela noite.
Quando o meu telefone tocou e veio a noticia, corremos para a maternidade e foi aquela espera, que de certa forma, era motivo de muita ansiedade.
Enquanto esperava, voltei no tempo, e me vi também em uma maternidade, enquanto esperava a chegada de minhas meninas. A mãe do Gabriel, Thais, chegou também em uma noite como essa, há quase trinta anos. Alline, a tia-coruja, preferiu chegar em manhã de sábado, bela e ensolarada.
A ansiedade da espera do menino Gabriel foi a mesma de anos atrás. Andando pra lá e para cá, sem muito assunto, apenas preocupado e rezando, pedindo a Deus que ele viesse com saúde.
Eis que surge uma enfermeira trazendo cuidadosamente para o berçário o pequeno anjo. Momento de expectativa e emoção incontida, de certeza que finalmente estava entre nós o tão sonhado e esperado menino Gabriel.
Enquanto a enfermeira tomava as providencias pós-nascimento, Bruno, o feliz e orgulhoso pai do Gabriel chega trazendo noticias da mãe, dizendo que está bem e apenas finalizando os procedimentos inerentes ao parto.
Logo, ele vem para o berçário e podemos, e ainda que isolados por um vidro, chegar bem perto e contemplá-lo. E ele a nos fitar com olhinhos negros e brilhantes, como a perguntar quem somos e o que fazemos ali. Olhos brilhantes, vivos, que passeiam de um lado para outro, como que reconhecendo o ambiente em que acabara de chegar.
 Assim, olhando naqueles olhos, me vejo pensando no futuro com Gabriel. Não há duvida que ouviremos canções, que nos emocionaremos com a perfeição das melodias dos Beatles, nos encantaremos com poemas de Vinicius e Pessoa, ouviremos  rock progressivo e pesado e iremos ao estádio ver os jogos do Vila Nova.
Ah, haveremos também de nos permitir que, em madrugada, quase dia sentir a emoção de ver quando a noite se vai e o dia se apresenta, com a madrugada dizendo adeus e ao longe, no infinito, sinais do dia, que aos poucos irá se tornar pequenos feixes de luz até que gradativamente o sol, pleno e imponente, venha tomar conta. Sonhos e devaneios de avô.
Enquanto esse tempo não chega, será como hoje, em que durante todo o dia, seja no trabalho, no trânsito ou onde que estivesse, fiquei a recordar a doçura e a ternura que vieram daqueles olhinhos negros e brilhantes.
Que sua vida seja abençoada e muito feliz. Que seja muito bem vindo, amado e querido Gabriel. Hei de tê-lo sempre dentro do coração. E entre momentos de emoção e alegria, compor uma canção de amor. Uma canção de amor para Gabriel.


sexta-feira, 11 de março de 2016

MANHÃS DE LUZ, EM TEMPO DE COLHEITAS




Março veio em uma belíssima manhã de muito sol, luz e à medida que o dia ia avançando, muito calor. O mês de Março trouxe a certeza que os ciclos da vida estão em sua plenitude. Março vem com a expectativa que o verão confirme as sementes que a primavera ofereceu ao mundo, à humanidade e assim, a vida e suas sequencias naturalmente aconteçam.
O calor intenso que ocorre nesses primeiros meses do ano é também prenuncio de chuva, mas significa também fertilidade, que resultará em tulha cheia, fartura e a certeza que a vida continua em sintonia com aquilo que necessitamos. E que apesar de tudo o que sofre a mãe natureza, ela, com sua generosidade, faz com que a vida continue a se renovar.
As aguas de março fecham o verão, que talvez receba ainda águas em abril. Por todo lado, as flores típicas da época, quaresmeiras e ipês, embelezam a cidade e os campos, em uma quase primavera. Flores que com tantas cores diversas trazem alegria, harmonia e quietude.
Em uma dessas tardes quentes e de nuvens pesadas ao longe, ao chegar em casa me deparo com uma enorme quantidade de roupinhas de bebê estendidas na varanda, para secar. Não teve como não ficar emocionado e feliz.
Fiquei por alguns instantes observando as varias estampas e desenhos daquelas pequenas peças de roupas e tomado pela emoção, embora contido, demoradamente deixei com que as imagens adentrassem meu coração e enlevado, fiquei sorrindo de alegria.
Lavar, secar e passar essas roupinhas é um dos últimos atos antes da chegada de um anjo, que vem para dar alegria à nossas vidas. O anjo Gabriel vem por aí. Não sei se em Março ou nos primeiros dias de Abril.
Gabriel virá como uma manhã de verão, irradiando luz e ternura e como a chuva e as flores, trará alegria, felicidade, harmonia.
Por alguns dias, as roupinhas que esperam Gabriel estiveram presentes em minha casa. Inicialmente, foram retiradas as etiquetas e as embalagens. Depois foram para a máquina de lavar – algumas foram cuidadosamente lavadas à mão. Depois de limpas, estendidas no varal e finalmente secas, foram passadas com cuidado e carinho, uma a uma.
Até que um dia desses, foram levadas e entregues, para que seus pais pudessem arrumar o pequeno guarda-roupa, onde já haviam sapatinhos e alguns brinquedos. A beleza da imagem cheia de pureza e harmonia do pequeno quarto que o aguarda, estará para sempre em mim, dentro do coração.
Começo a contar dias, até horas, ansioso para que chegue logo o momento em que Gabriel haverá de vir. Como as sementes que foram lançadas na primavera, agora será tempo de colheita. Colheita de amor, de muito amor. Amor por Gabriel.


quinta-feira, 3 de março de 2016

O MELHOR LUGAR DO MUNDO E O FIM DA FONTE LUMINOSA DA PRAÇA DO CRUZEIRO






Na parede da sala de minha casa tem um pequeno quadro. Pequeno, humilde, singelo, mas com uma paisagem e uma mensagem fantástica. Sua moldura, já marcada pelo tempo, tem uma cor bege, meio de empoeirado, meio de muito tempo.
É uma pintura feita à mão, com três palmeiras em destaque à frente, uma estradinha em perspectiva que vai até uma pequena casa de taipa, coberta de palha, um lago do lado com um barquinho distante e um belo pôr-do-sol, com nuances de amarelo vivo e vermelho-alaranjado. É uma palhoça simples, mas dá a impressão de um lugar de pessoas felizes.
Traz o ano e as iniciais de quem pintou o pequeno quadro. O ano: 1972 e as iniciais: I. C.G., de Irmã Cirene Garcia, uma religiosa salesiana, que morou em Goiânia nessa época, em um colégio que fica na Praça do Cruzeiro, região sul de Goiânia, chamado Instituto Maria Auxiliadora.
Em 1972 eu era ainda muito criança, tinha apenas seis anos. Goiânia também era uma cidade adolescente e tranquila. Não havia a loucura dos enormes engarrafamentos de hoje, tampouco o telefone era como hoje, inconveniente, móvel, os chamados “celulares”.
Sobre a Praça do Cruzeiro, naquele tempo era um lugar encantador. A imensa fonte luminosa, com seus surpreendentes e coloridos jatos d’água me fazia ficar parado, encantado, a admirá-la. Maravilhosas canções eram transmitidas pelas potentes caixas de alto-falantes da fonte, que faziam uma perfeita harmonia com os jatos coloridos. Seus gramados de um verde muito vivo eram completados por pequenas plantas que sempre derramavam flores e mais flores. Um jardim de encanto. Havia também roseiras floridas, dos mais diversos tons e tamanhos.
O pipoqueiro, com seu carrinho e sua palavra amiga conquistava as crianças. Não havia o medo, era de confiança, tratava a todos com cortesia e conquistava amigos. Durante o dia, eu ficava contando as horas para que chegasse logo a noite, para que pudesse ir para a praça, rever a bela fonte luminosa, ouvir canções que encantavam e brincar com os amiguinhos da vizinhança.
Aquele foi um tempo que as pessoas se encontravam para conversar, trocar ideias. Era muito comum os vizinhos serem compadres e as crianças tomarem a bênção aos mais velhos. A televisão não era tão obrigatória, impositiva, fazendo com que todos ficassem mudos, lado a lado, olhar fixo na tela, sem conversar, como hoje. Havia confraternização, alegria de encontros. Era uma praça muito bonita e alegre.
Hoje, a praça ainda está lá. Como a Avenida Tocantins, sobre a qual já escrevi um dia, suas árvores e seus arbustos estão tomados pela fuligem. A fonte não mais existe, não mais tem música. E apesar dos modernos sistemas de iluminação existentes, a praça está quase às escuras. Não tem mais crianças a brincar, nem carrinho de pipoca. O pequeno quadro na parede de minha sala me leva até esse tempo.
Hoje, somos obrigados a viver, por razões segurança, trancados em casa. E no dia a dia, a luta é pela sobrevivência, cada um com sua ocupação, com sua obrigação a fazer.
Costumo afirmar que o melhor lugar do mundo deve ser a nossa casa. E ao fitar o quadro, que tem quase a minha idade, contemplo em um canto da linda paisagem, uma pequena, mas profunda mensagem, que sempre me leva à reflexões: “Faze de tua casa um paraíso, e o paraíso será tua casa”.