sexta-feira, 28 de setembro de 2018

PÁSSAROS, MANHÃS... E PRIMAVERA!






O sabiá, com seu canto intenso e belo é o primeiro a abrir o concerto matinal da maravilhosa orquestra de pássaros que se apresenta diariamente em meu quintal, ainda sob os auspícios dos últimos sinais da madrugada, que deixa a cena para que tome conta a luz do dia, que chega forte e majestosa.
Logo, se juntam ao Sabiá irrequietos pardais, bem-te-vis, grupos de rolinhas da terra e fogo-apagou, as pequenas corruíras e um sem número de barulhentos casais de João-de-barro saudando a manhã, saudando o dia, saudando a vida.
É possível sentir ainda o cheiro de natureza que vem da jabuticabeira em sua segunda florada, desta vez com um número bem maior de flores que aos poucos vão se tornando pequenos frutos, verdinhos e tenros. Logo estarão pujantes e grandes, trazendo a doçura do fruto maduro fazendo a alegria de adultos, crianças e de um sem número de pequenas abelhas sem ferrão que buscam ali o alimento que garantirá a continuidade da vida da colmeia que certamente fica por perto.
Ao meio do quintal, impossível não notar lado a lado com a graciosa mangueira, a goiabeira coberta por flores brancas, a contrastar com o verde suave de folhas recém-chegadas que substituíram as que cumprindo sua missão, caíram e deram lugar a elas. As belas flores brancas da goiabeira a lembrar grinaldas de pura nubente pela beleza que trazem, logo se tornarão bulbos e não demorará, frutos doces e saborosos.
Mas há um componente que costuma incomodar e muito nesse tempo: o calor! Calor que gera impaciência no transito, traz agonia a pessoas idosas e aos animais que também sofrem. Porém esse calor é que haverá de provocar a mãe natureza e torná-la ciente da necessidade de alívio e ela, sábia que é, fará com que o ciclo das águas, pela evaporação, se intensifique e logo a irmã-chuva venha – no início acompanhada de ventos fortes, trazendo a certeza de recomeços, renovar da vida.
É muito bom, apesar do calor, perceber esses sinais de alegria de pássaros, a beleza de jabuticabeiras e goiabeiras floridas qual debutantes e mangueiras carregadas de cachos de frutos. Tudo isso traz um significado ímpar: a chegada da primavera, a mais bela das estações, embora seja necessário que se faça justiça às outras estações, pois a primavera é o ápice de um ciclo onde a beleza predomina e a vida se renova.
É interessante, mas a cada ano não consigo me furtar de escrever sobre jabuticabeiras e goiabeiras floridas, mangueiras com os galhos vergados pelo peso dos cachos imensos de frutos, o ir e vir de pássaros das mais diversas espécies em busca de construir ninhos e assim perpetuar a vida com o acasalamento.
Não há como deixar de escrever sobre a primavera, pois, acima de tudo, quem pede é o coração. Assim, seja como sempre, muito bem-vinda, bela primavera. Primavera que sempre há de significar vida, amor, renovação!



sexta-feira, 21 de setembro de 2018

DE UM CERTO SR. JOSÉ SILVÉRIO






Conheci o sr. José Silvério em um quarto de hospital - na Santa Casa de Misericórdia de Goiânia - quando acompanhava meu irmão em uma de suas muitas internações. Estava absorto em meus pensamentos, quando vi chegar aquele senhor tímido, vestido com roupas simples, trazido em uma cadeira de rodas, acompanhado de um filho.
Um hospital não é um lugar onde se pode desejar boas vindas, mas cumprimentei a ele e ao filho, desejando-lhes uma boa noite, ao que eles responderam timidamente.
Com ajuda dos enfermeiros do plantão acomodou-se na cama alta daquele quarto de hospital e foi se ajeitando e aos poucos, se situando naquele lugar de paredes frias e cheio de aparelhos e equipamentos médicos.
Iniciou uma breve conversa perguntando sobre meu irmão, o motivo da presença dele ali, e aos poucos foi se soltando, informando sobre seu problema no pulmão, que o havia obrigado a procurar ajuda médica.
Como a noite era longa e era impossível dormir ali, ele com sua voz calma e firme, apesar dos 83 anos de idade, começou a falar de sua vida, dos tempos de rapaz, da luta para criar com honra e dignidade seus dez filhos, as dificuldades que passara nesse tempo todo.
Falou dos quarenta anos em que trabalhou “na roça”, fazendo cercas de arame,  construindo currais, derrubando matas, cuidando da terra.
Depois, veio para a cidade, de onde não saiu mais e exerceu diversas atividades, sempre de maneira honrada e honesta. Foi vigilante de uma empresa chamada Orgal, trabalhou como gari limpando as ruas do centro de Goiânia, mas seus olhos se iluminaram mesmo quando falou do trabalho como vendedor de pipocas em um carrinho, o tradicional e até certo ponto difícil de encontrar, pipoqueiro, na acepção verdadeira da palavra.
Contou como ao lado do filho Dário, o mesmo que o acompanhava no hospital, ganhava mais que o salário mensal como porteiro do Colégio Bbjetivo, vendendo pipocas. E ficava feliz ao fazer a alegria da criançada, que faziam fila para adquirir pipocas das mais variadas formas, como a tradicional de sal, ou as de doce, coloridas e chamativas.
Falou dos momentos difíceis, quando sempre com o filho Dário, catava papel nas ruas, para revender a empresas de reciclagem e assim, dar conta de suas obrigações como pai de família. E da alegria de ter tornado a todos os filhos homens e mulheres de bem, honrados e corretos em seu proceder.
Mas o que me chamou a atenção naquele senhor de pele morena e brancas câs foram duas coisas: seu gosto pela música, pelas artes, pelo rádio e seu sorriso franco, simples e muito verdadeiro. Me confidenciou ainda que tem um sonho a realizar: conhecer a apresentadora da TV Record Silvyê Alves. Quer conhecer aquela moça simpática que, através da telinha da TV traz a ele as notícias mais importantes do dia – sejam boas ou ruins.
Não sei mais se a vida permitirá que ocorram novos reencontros com ele, afinal, Sêo Zé Silvério já deve ter tido alta hospitalar, o que eu de fato desejo que tenha acontecido.
A vida traz certas nuances, que cabe observar: ainda que em momento difícil, lidando com dificuldades, é possível encontrar uma figura humana, simples e tão cativante como ele. Assim, caminhamos.
Que ele obtenha a saúde que precisa e continue a espalhar alegria e otimismo, tão necessários ao mundo. A “bença”, Seu José Silvério!





quarta-feira, 19 de setembro de 2018

ELES TE ACHAM IDIOTA. MAS QUEREM SEU VOTO






Ao assistir a repetitiva e sem graça campanha política no horário eleitoral gratuito da televisão, além de encontrar nomes curiosos – ou bizarros – me vi surpreso ao me deparar no vídeo com o sorriso de um político que, em seu dia a dia é sisudo, autoritário e utiliza a tática de rolo compressor. Diga-se: sorriso mais falso que nota de três reais.
É até cômico o agir dos políticos em época de eleições, no sentido de se tornarem simpáticos, bonzinhos, acessíveis. Vale tudo, desde um improvável sorriso na TV até abraçar meninos sujos, velhinhos doentes e posar ao lado de lideranças simples dos mais variados matizes e regiões.
Vale por exemplo mostrar feitos que não podem ser comprovados e aferidos no curto prazo pelo eleitor. Os senhores candidatos em sua grande maioria trazem a tríade “saúde, segurança e educação” como prioridades em seus mandatos caso sejam aprovados nas urnas. Mas o passado de alguns que já exerceram ou exercem mandatos mostram que nos momentos em que era necessário defender, ou mesmo argumentar teses e temas que poderiam proteger ou defender o trabalhador, as minorias ou o empresário que carrega esse país nas costas, furtaram-se disso, sob o argumento fácil que precisavam ter responsabilidade com a governabilidade do país. Como se governabilidade não fosse dar proteção e garantir os direitos do cidadão.
Em Goiânia e região metropolitana é comum se observar que no sistema de saúde falta desde dipirona, gaze, luvas e até médicos. Diariamente, os telejornais mostram a agonia de jovens mães em busca do direito de parir seus filhos com dignidade, ou ter para seus filhos o cuidado que precisam e constitucionalmente têm direito. Mas quando uma mãe ou um pai precisa do atendimento urgente de um pediatra para cuidar de seu filho em momento de dor e preocupação, sempre se depara com imensas dificuldades, apesar de nos refrigerados gabinetes de achar que está tudo bem.
Em tempos de eleições tudo é paz e felicidade. Sorrisos falsos como o do candidato que citei no início, os discursos veementes onde exaltam “defesa intransigente da sociedade”, além de expressões como “sustentabilidade”, “políticas públicas”, “justiça social”, “defesa de minorias”, e etc., são a tônica dos políticos da nossa atualidade.
Nessas eleições temos um novo componente: a de políticos investigados em várias frentes, com muitos partidos políticos sendo nominados pela procuradoria Geral da República como Orcrims – organizações criminosas – à moda das facções que atuam nos presídios brasileiros.
Esses políticos, embora investigados pela Polícia Federal, Ministério Público e com aval da justiça em diversos níveis, adotam a tática de desmoralizar e diminuir o trabalho das instituições, afirmando que as investigações onde eles foram pegos roubando o erário são “mera perseguição política”. E algumas agremiações políticas vêm com a maior cara de pau, idolatrando criminosos condenados, já presos, cumprindo pena.
É esse o quadro que o eleitor brasileiro encontra na campanha às eleições 2018. É nítido que precisamos de renovação nos parlamentos, mas dificilmente isso ocorrerá. Não que eu seja pessimista, mas as velhas práticas políticas ainda conseguem envelopar o eleitor, que pode assinar e dar novamente um cheque em branco, válido por quatro anos, a quem não merece e nunca vai representa-lo dignamente.
Os políticos, sempre os mesmos, que a cada eleição aparecem sorrindo com muita maquiagem para parecerem jovens intrépidos, bonitos, até imortais, querem seu voto. Mas, continuam achando você, eleitor, um idiota.