sexta-feira, 31 de maio de 2019

LUTAMOS POR LIBERDADE E DEMOCRACIA! NÃO POR MADRAÇAIS!



Imagem retirada da internet


Sou de uma geração que viveu momentos da história do país em que as eleições não eram gerais e haviam senadores, prefeitos de capitais e governadores nomeados e o presidente da república era escolhido por um colégio eleitoral formado por deputados e senadores, a grande maioria do partido político da situação, chamado Arena. Era o tempo de bipartidarismo e a oposição se chamava MDB – não confundir com o atual, de Lobão, Jucá e similares.
Sou de uma geração que foi às ruas pedir eleições “diretas já” e viu Tancredo Neves ser eleito indiretamente, para na madrugada do dia de sua posse ser internado, vindo depois a falecer. Vimos José Sarney assumir a presidência, convivemos com inflação galopante de 84% ao mês e vibramos com a promulgação da constituição cidadã, hoje esfarrapada e vilipendiada.
Minha geração viu depois de muito tempo, um jovem político nordestino ser eleito presidente da república pelo voto direto, mas não demorou viu a juventude com a cara pintada de verde e amarelo ir às ruas gritar “Fora Collor” e pedir pelo seu impeachment.
Minha geração viu um plano econômico dar certo, depois de tantos que deram errado, acostumou-se a eleger pelo voto direto seus representantes nos parlamentos e no executivo. Viu Itamar Franco passar a faixa presidencial a seu sucessor, o ex-ministro FHC, que hoje no doce exilio de um apartamento milionário em Paris se dedica a dar pitacos errados sobre o Brasil, além de defender pelas redes sociais a liberação das drogas que aniquilam nossos jovens.
Minha geração viu um ex-operário ser eleito presidente, aproveitando os rumos certos da economia vigente, o que levou o país a um tempo de crescimento. Mas em razão da corrupção generalizada que ele e seu grupo aperfeiçoaram, o Brasil foi à bancarrota e hoje temos milhões de desempregados e subempregados.
Sou de uma geração que em junho de 2013 foi às ruas em todos os estados do Brasil protestando contra aumentos abusivos nas tarifas do transporte coletivo – movimento que começou em Goiânia – e se tornou protesto contra a corrupção e em apoio à Policia Federal e ao poder judiciário. Eram os tempos do mensalão...
Presenciamos a ex-presidente Dilma ser cassada e logo depois, o mesmo deputado que comandou o ato político que a retirou do poder ser cassado, condenado e preso por corrupção.
Em 2018 o país elegeu presidente da república Jair Bolsonaro, ex-deputado, capitão da reserva do exército brasileiro. Porém para nossa tristeza, até o momento ele ainda não se deu conta do significado de sua eleição, tampouco dos motivos que levaram o povo brasileiro a escolher seu nome para gerir os destinos do país por quatro anos.
À época das eleições, Bolsonaro não era o melhor quadro que se apresentava, mas o eleitor percebeu que seria o único capaz de agregar forças políticas e derrotar uma bilionária organização criminosa. Sem surpresa, deu a ele pelas urnas o mandato de presidente da república, com expressiva renovação na câmara dos deputados e no senado federal.
O presidente monta seu governo e como ele mesmo admitiu, com figuras inexpressivas. O primeiro ministro da educação, Vélez, o breve, foi indicado por um certo astrólogo, vidente ou sei lá o quê, e rapidamente teve confirmada sua inapetência total para o cargo. Sai Velez e veio outro, com fama de durão, prometendo enquadrar os servidores públicos de sua pasta, bem como os alunos das universidades e institutos federais país afora.
Novamente, a juventude, os estudantes vão às ruas contra atos do governo que podem inviabilizar a educação, e eis que o ministro ataca e denigre a imagem desses estudantes e professores que democrática e legalmente exercem seu direito a protestar contra o que acham estar errado.
Curiosamente, o ministro da educação disse ter recebido cartas (cartas?) de cidadãos indignados com a atitude dos jovens e de professores. Será que houve tempo para serem postadas, encaminhadas e entregues pelos correios? E em tempos de e-mails e WhatsApp, ainda há quem escreva cartas? Aliás, o presidente recentemente mandou uma carta ao congresso... Mas isso é para outra análise.
E sobre as críticas do mal-educado, incompetente e provavelmente futuro ex-ministro da educação, ele há de convir que tem que se submeter às leis vigentes do país, onde a liberdade de expressão e de livre manifestação ainda estão na constituição.
E a minha geração que lutou por democracia e liberdade, bem como a que aí está, não admitem que as universidades se transformem em madraçais do pensamento um grupo político instável e desorientado.
Evolução na educação, sim! Liberdade e democracia, sim! Madraçais, jamais.

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domingo, 12 de maio de 2019

EM TARDE DE CHUVA, LEMBRANÇAS E SAUDADE




A chuva veio de repente com pingos fortes e frios, quando eu aguardava que minha irmã Fatima ouvisse a campainha e abrisse o portão, para que eu adentrasse sua casa. Após a alegria do reencontro, explicitado em um abraço de irmão, casualmente colocamo-nos na janela, diante da floreira recém instalada no muro de onde pendiam orquídeas, begônias, e outras espécies de flores de uma beleza ímpar, que pareciam agradecer àquela chuva benfazeja.
Contemplando aquela beleza, começamos a conversar sobre a vida, sobre a infância na querida e saudosa Fazenda Nova América e também na longínqua Araguaçu, com seus personagens marcantes que faziam acontecer a vida naquela pequena comunidade.
Recordamos os vizinhos da fazenda, como Seu Zeca Silvino e a esposa Dona Terezinha, compadres dos meus pais. Seu Zeca tinha como característica marcante sua gargalhada forte e seu jeito bonachão e Dona Terezinha, sua delicadeza e suavidade na voz, e que sempre usava roupas da cor branca, certamente por algum voto ou mesmo por razões particulares.
Impossível não lembrar de “Sibila”, cujo nome de batismo era Severino e sua esposa Dona Mariana com sua prole imensa e alegre. Sibila, homem trabalhador das lides da roça, era pura alegria e bom humor.
A casa do meu avô não poderia deixar de estar nesse bate papo da janela. Lembramos da doçura que era a figura de minha avó Genoveva, humilde, generosa, cujas feições traziam paz e harmonia. No interior da casa, as imensas talhas cheias de água que ficavam na sala de jantar, o rádio na sala principal e os hábitos peculiares, como o jantar sempre às cinco da tarde.
Houve um tempo em que fomos morar em Araguaçu para que minhas irmãs estudassem. Morávamos em uma casa simples de tijolos aparentes que ficava em uma grande avenida, cujo destino era a saída em direção aos povoados de “Feijão Queimado” e “Patrimônio dos Mineiros”.
Tenho nos recônditos algumas lembranças dessa casa. Uma delas era quando passavam pela avenida grandes boiadas. Minha mãe fechava as portas, colocando nelas o “Agnus Dei”, invocando proteção divina para que nenhuma rês revôlta viesse a nos atacar. Assim, era expressamente proibido conversar alto, para que não corrêssemos risco.
Nos fundos dessa casa avistávamos um imenso campo de futebol e o grupo escolar, onde estudavam a maioria dos jovens da pequena cidade. Era nesse local que aconteciam as representações em comemoração ao sete de setembro, quando homens montados a cavalo reproduziam o grito de “independência ou morte”, que segundo a história foi bradado o por Dom Pedro I.
Saindo dessa casa e adentrando a avenida à esquerda iriamos encontrar o posto de saúde, onde a diligente Dona Iara atendia a todos que ali buscavam cura para seus males. Ainda lembro da figura ímpar de Dona Iara, de roupa branca e com uma seringa de injeção vindo para o meu lado e dizendo que não doeria, que seria rápido.
Em sentido inverso encontrávamos a praça da cidade, que abrigava uma pequena igreja ao centro, onde um dia foi ordenado padre meu primo Eduardo Alencar Lustosa.
Nas imediações dessa praça ficava a casa do Velho Gil, onde funcionava a agencia dos Correios, comandada por Lívia, uma de suas filhas. Quase ao lado, a loja de tecidos de Seu Mundico e dona Helena, pais do Padre Eduardo e do Fausto. Também ali perto a casa e o consultório de João Dentista e o armazém do Felão - um baiano alto, de voz forte e olhar direto. Ainda na praça e do outro lado, o armazém do Sr. Jovino, que tinha uma geladeira “a querosene” branquinha, Frigidaire, onde dentre outras coisas ele vendia “picolés de Ki-suco” feitos ali mesmo.
Mais abaixo, a farmácia do Zé Silva, a papelaria do Romildo e da Není, com seu aroma característico e na parte baixa da praça um posto de combustíveis e ao lado o armazém do Sr. Raul e de Dona Rica (pronuncia-se puxando o r, como ere), pais do hoje político Raul Filho, que foi prefeito de Araguaçu, de Palmas e também deputado estadual. Um detalhe: Dona “Rica” foi minha mãe de leite, e sempre teve um carinho especial por mim, tratando-me por “meu filho”.
Quase na saída que dava acesso à fazenda de meu avô e á querida Nova América, a pensão de Dona Altina e o armazém do Zé Crispim, de onde tenho a lembrança de ver seu filho João Crispim varrendo a frente, em uma manhã qualquer. E algo que muito me encantava, um dos símbolos da cidade que era avistado de longe: um cata-vento sobre uma torre, que movimentava uma bomba de puxar água, instalado na propriedade de Seu Terto, ou Tertuliano Corado Lustosa, prefeito por várias vezes da cidade.
E mais à frente, a chácara dos meus primos Zé Gonçalves e Francisquinha, com um córrego que corria bem próximo à casa, onde havia uma varanda onde a figura proeminente era um alegre rádio Abc – A voz de ouro.
Em seguida, chegava-se à estrada de rodagem, onde ao percorrer alguns quilômetros se avistavam imensas e talvez centenárias mangueiras da fazenda do Chiquinho Chaveiro, o que indicava que estávamos próximos ao local do acesso a estradinha que dava acesso à Fazenda Nova América.
O tempo passou tão rápido que ao despedir de minha irmã, acabei esquecendo o motivo principal pelo qual fora até ali. Afinal, foi emocionante naquela tarde de chuva, diante de flores tão belas, recordar momentos da vida, da infância, em doce saudade. Em doce saudade!