quarta-feira, 30 de novembro de 2011

LIMIARES DO TEMPO


Depois de tanto tempo, eis-me a procurar encontrar hiatos de tempo, ao fazer uma pequena pausa, para refletir sobre a vida e sobre como levo a vida.
E são inexoráveis as imposições que ela me apresenta. Desde quando me levanto ainda madrugada até quanto o dia termina. Quando busco o meu travesseiro e o carinho da amada, logicamente que muita coisa se passa neste período, embora quase sempre não perceba sua importância no desenrolar do dia. É apenas rotina, obrigação do dia-a-dia. Sequer paro e consigo imaginar que, caso não cumprisse com essa rotina, o que aconteceria. Negócios não se realizariam? Compromissos assumidos não seriam cumpridos. A vida não seguiria. Nada daria certo.
Procuro, mas não encontro resposta: e se de repente eu parasse no tempo e não mais tivesse noção da dimensão da vida, das coisas importantes e corriqueiras, da certeza da obrigação do fazer?
Quem me dera eu me colocasse em situação de, Conradianamente* ficar a esperar, depois das quatro e meia da manhã, sentado em uma cadeira na varanda da minha casa, ao lado de quem tanto amo, a esperar a chegada do dia.
Ainda olhando as ultimas estrelas da madrugada eu me deixaria sentir o nascer verdadeiro do dia, os primeiros sinais da manhã radiosa, pássaros madrugadores a cruzar o céu. Ao longe, sinais e indícios da chegada do sol. Primeiro, lentamente, a “barra do dia”, para logo chegar radiante, imponente, régio. O irmão sol traz com sua luminosidade e seu calor a certeza de um dia feliz.
Depois deste belo chegar do dia, ficar simplesmente a acompanhar a maravilhosa e integrada orquestra composta por variadas espécies de pássaros.
Antes de sair para o trabalho poder por alguns minutos parar na frente da minha casa e dar bom dia a quem não conheço e a quem nunca vi desejar do fundo do meu coração a felicidade, paz e harmonia.
Um dia ouvi que a vida não é um destino, mas uma jornada. E que somos muito capazes de ser donos do nosso caminho.
Creio que tudo o que temos na vida é a nossa própria vida.
Um dia, se qualquer um de nós parar nem que seja algumas horas e apreciar o belo que está ao nosso lado, certamente prolongaremos os nosso momentos felizes, E serão bem mais intensos.
Que todos possam, ao menos uma vez na vida, ver o dia chegar depois de um a madrugada esplêndida e misteriosa, apreciar o canto dos pássaros e enternecer-se com a beleza de uma flor.
Haverá mais ternura e felicidade no nosso mundo.

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

DE CHUVA E LUA CHEIA... LEMBRANÇAS

          A lua sempre foi uma grande companheira. Lua dos amantes, dos namorados, dos românticos, do menino Luis que, em sua ingenuidade de criança, se perguntava, porque ela não era clara e bonita todos os dias.
            Ela, a lua, foi cúmplice e testemunha dos enamorados e apaixonados que, sob sua tênue luz, um dia trocaram juras de amor eterno.
            Lembro-me que, muito criança eu já tinha admiração por ela. Na longínqua e distante Fazenda Nova América, da minha meninice, via meu pai chegar de suas viagens a cavalo, fatigado, mas agradecendo que a viagem rendera, pois a lua estava clara. Também, quando conheci a minha irmã Josefa, que viera para a capital estudar e tornar-se religiosa salesiana, foi em uma noite de luar.
            Ouvia, mas não acreditava, nas lendas do homem cabeludo que, na Lua cheia, vinha buscar as crianças que eram teimosas e desobedeciam a seus pais. Ora, eu não tinha medo, pois me achava um bom menino. E a lua sempre foi tão bonita que, para mim, ela jamais traria algo tão feio como pintavam o tal lobisomem.
            Era comum nas noites de lua cheia, meus pais receberem a visita de meus avós e tios em alegre reunião. A lua iluminava os caminhos e facilitava o deslocamento de uma fazenda à outra, afastando os perigos. Nessas noites enluaradas, ouviam musica em um imponente rádio de mesa, ABC A VOZ DE OURO, e jogavam A Sueca, um jogo de baralho muito apreciado á época. Meu avô, com sua gargalhada retumbante e suas historias alegres, dava ritmo á reunião. Para os homens, era servido um conhaque, e para as mulheres, um suco. Às crianças, recomendava-se não ficarem no meio dos adultos atrapalhando. Mas ainda assim, era divertido ver aquela algazarra.
            Apesar das dificuldades da época, meus pais eram felizes em seu pequeno torrão, em seu pequeno sítio, de onde tiravam o sustento da família.
            Assim, a vida foi passando. E como foi rápido. A fazenda Nova America é apenas um pequeno pedaço nos escaninhos da minha lembrança.          
            Hoje, tão distante daquele lugar, sem perceber, em um desses sábados da vida, acabei sentindo saudades. E nessas saudades, me permitindo alguns momentos comigo mesmo. Perdi um pouco a noção do tempo. Não sei quanto tempo ali fiquei, a cismar, como diziam os antigos.
            Imerso nessas elucubrações, vejo desfilarem, de forma silenciosa alguns momentos recentes da vida. Uns, felizes, outros, nem tanto.
            Ainda bem que os momentos felizes sempre superam os difíceis.
            Nessa letargia, a tarde foi caindo e a noite chegando. Mirando sobre o muro do meu quintal, observo um clarão, e de repente, vem ela, majestosa, elegante, soberba. Saindo por entre dois esqueletos de prédios em construção - bem no meio -, ela trouxe àquela paisagem cinza de concreto, beleza, poesia, encanto. Mesmo caindo uma leve e delicada chuva, o caminho da lua estava quase livre, apesar da tentativa de algumas nuvens que queriam obstruir seu caminho de luz. Rapidamente ela galgou o alto do céu, ficando ali, como a me dizer: alegra-te!
            Ah, amiga lua. Eu te peço que nunca deixe de iluminar minha vida, de me levar à saudade da infância, me fazer feliz e iluminar meus caminhos.

terça-feira, 22 de novembro de 2011

BRASIL: UM POVO SOLIDÁRIO E AMIGO



Conheço quase todos os estados desse nosso imenso Brasil. Posso dizer que, em momento nenhum fui mal recebido em qualquer lugar que seja. O brasileiro gosta mesmo de receber pessoas. Povo hospitaleiro e de bom coração.
Pena que tenhamos tanta desigualdade, tantas diferenças sociais, mas mesmo assim, o fato de ser rico ou pobre, não muda o jeito de ser das pessoas daqui.
E alegria mesmo é, quando estamos longe de casa e encontramos um amigo que está, assim como nós, fora do torrão natal. É um tal de querer saber noticias disso, daquilo, de pessoas próximas, e das novidades.
Viajando pela região Nordeste do Brasil, para onde fui a trabalho, encontrei uma economia forte nas capitais e no interior, um comercio dinâmico e um povo muito trabalhador. Deixei ali grandes amigos, com os quais mantenho contato até hoje.
Não é de se estranhar que tenhamos grandes colônias de imigrantes, que um dia deixaram seu país, seus familiares, suas culturas, e vieram para esta terra acolhedora, amiga. Aqui fincaram raízes, tiveram seus filhos, netos e geraram, com o seu trabalho, riqueza e progresso. Grande foi a contribuição destes nossos irmãos que vieram de tão longe para viver aqui. E se orgulhar de também serem brasileiros.
Temos vários brasis dentro do Brasil. A multiplicidade de costumes, comidas, culturas é tão grande que não é exagero afirmar que somos um país continente.
Aqui, apesar da violência que teima em se aproximar de nós, podemos ainda ir ao cinema, ao zoológico com as crianças, ao barzinho no fim de semana, à feira livre aos domingos. Podemos chamar a isso de paz.
Por falar em povo hospitaleiro, jamais esquecerei um fato ocorrido em uma das minhas viagens ao Pará. Região norte no país.
Viajando de Belém para Goiás, após almoçar na cidade de Marabá, com o sol a pino e um calor de quarenta graus, não deu outra: o sono começou a perturbar. Senti vontade de tomar um café, que serviria em tese para espantar o sono e despertar, pois dirigir assim é muito perigoso.
Naqueles rincões, não se tem uma boa estrutura de comércio à beira das estradas. O que existe são pequenos botequins, com cobertura de palha e, normalmente, de pau-a-pique. Sempre à margem de um córrego ou ribeirão, o que, certamente garante fartura de alimentos.
Parei em um desses locais, que são chamados por aqui de “venda” ou “vendinha”. Comercializam, além de cerveja e cachaça, bolachas, bolos e até peixe pescado ali mesmo.
Ao adentrar no local, vieram me atender um senhor e uma senhora já com certa idade, morenos, com traços indígenas, me cumprimentando com um sonoro boa-tarde. Perguntei por café, disseram que não tinha pronto, mas faria um naquela hora mesmo, tal sua disposição.
Observando melhor o local, logo vi algumas crianças brincando no terreiro arenoso ali nos fundos. Perguntei se estudavam, mas ela disse que não, pois não tinham condições para colocá-los na escola.
O café feito no fogão a lenha, logo começou a deixar seu aroma no ar. Passados alguns minutos, a senhora me serviu o delicioso e quentinho café, me oferecendo em uma xícara, fazendo um prato de bandeja. Sorvi o delicioso líquido, perguntei quanto era e ela disse que não custaria nada, que fosse com Deus e que de outra vez, passasse por ali. Coisas do Brasil, de um povo solidário e amigo.

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

O MENINO LUIS


O menino Luis nunca teve a vida fácil. Quando criança, era apenas mais um, dentre doze irmãos. Seus pais, morando de agregados em uma fazenda tinham uma vida muito difícil quando ele chegou. Era mês de Novembro, quase final do ano, e seu pai preparava a terra para o plantio da lavoura, que garantiria o sustento, o alimento à prole por todo o ano.
O menino Luis chegou em uma manhã chuvosa, de parto normal, em casa mesmo, pelas mãos experientes da dona Corina, parteira de muitos anos de experiência. Dona Corina – um dia escreverei sobre ela, eu prometo - tinha lá seus rituais que garantiam sempre o sucesso do parto.
Após preparar a parturiente, dar-lhe a tradicional pinga queimada no prato e rezar a oração de Santa Margarida, com calma e tranqüilidade, rezando sempre, trazia ao mundo as crianças. E foi assim que veio ao mundo o Menino Luis.
O tempo, implacável, foi passando. De criança de braço a pequeno trabalhador na roça, foi um pulo. A infância passou muito rápido. Apesar de franzino e magrinho, ainda muito pequeno, já ajudava o pai, puxando a enxada no eito da roça e cuidava dos animais da fazenda. Divertia-se muito em suas brincadeiras de criança. Caçava passarinhos, na sua inocência, andava com os irmãos pela mata, e na época dos ventos, adorava soltar pipas pelo pasto afora.
Apesar das dificuldades da família, da pobreza extrema de seus pais, o Menino Luis era feliz. Dormia em uma pequena esteira de palha, em um dos cantos do quartinho ao lado dos seus irmãos maiores. Nas noites em que o sono demorava a vir, ficava a fitar as estrelas pelas frestas do telhado. Adorava as noites claras, onde a lua cheia, clarinha se derramava por toda a fazenda. Isso deixava o menino Luis intrigado. Porque a lua não era clara todos os dias? Porque ela somente aparecia de vez em quando? E se sentia mais seguro nas noites claras de lua.
Naquele tempo, não havia energia elétrica na fazenda. Usavam lamparinas abastecidas com querosene, que refletiam na parede de forma desordenada as sombras das pessoas. E um pequeno e velho rádio de pilhas, era a diversão noturna.
Aos oito anos, foi para a escola, em uma vila próxima. Andava todos os dias seis quilômetros de ida, mais seis de volta. Chovesse ou fizesse sol. E, apesar da distância, ele fazia a caminhada com entusiasmo, juntamente com outras crianças da vizinhança, que eram seus amigos de infância.
No início, muita dificuldade de entender aqueles símbolos desconhecidos. Como aqueles rabiscos se transformavam em palavras, em sons? Outro mundo a partir dali ele descobriria. E logo, inteligente que era, passou a dominar a escrita e a leitura.
O difícil mesmo era suportar as brincadeiras e gozações dos outros alunos, e não raro, conforme a ofensa, tornava-se luta renhida, para defender a sua honra e de seus familiares – mãe, principalmente - perante os outros colegas. As brigas não eram raras, embora o menino Luis fosse de boa índole e de paz. Mas não costumava levar desaforos para casa, mesmo que apanhasse dos outros moleques. Mas, ainda era infância e no outro dia, já esquecia tudo, sem rancores nem ódios guardados do outro colega.
Um dia, o menino Luis foi pra cidade morar com uma irmã, já casada. Mais um mundo novo e diferente. Novas descobertas. Logo chegou a adolescência e a responsabilidade agora era trabalhar de dia e estudar á noite.
Com o tempo, deixara a casa da irmã e passou a morar no trabalho, uma pamonharia em um bairro nobre da cidade. Mais aprendizado e responsabilidades. Tornara-se também o esteio dos pais, trazendo-os para morar na cidade. Construiria uma pequena casa, apesar do salário apertado e tirara os pais das dificuldades da roça, já nesse tempo, não tão farta como antigamente. Sabiam seus pais que podiam contar sempre com o filho.
Apesar de homem feito, o menino Luis continua como sempre foi: batalhador, humilde, lutador com a vida.
Faz pouco tempo o menino Luis começou a batalha para realizar mais um sonho: o de tornar-se advogado. Deu os primeiros passos na Universidade, fazendo o curso de Direito. Será mais uma caminhada difícil. Mas vencerá.
Pela sua história e pela sua vida, certamente será um grande profissional, um brilhante advogado.
Talvez, nas noites enluaradas da infância, ele não imaginasse onde poderia chegar. Mas o menino Luis, que um dia viveu na roça e lutou sempre por seu espaço na vida, nunca deixou de sonhar.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

NAS ONDAS E CAMINHOS DA VIDA ATRAVÉS DA RÁDIO 730



(Singela homenagem aos oito anos da emissora goiana)

                Ainda madrugada, longe da chegada dos raios solares, Seu João, velho e experiente vaqueiro pula da cama juntamente com a esposa, que se encaminha para a cozinha para preparar o café e assar o pão de queijo, para o desjejum.
                Ao molhar o rosto com a água fria da bica que passa no rego d’água em frente à ampla varanda da casa, espantando de vez o sono, ele ouve Dona Corina, sua esposa ligar o rádio. Presta atenção na hora certa após o sinal eletrônico que parece desperta-lo daquela letargia: “Em Goiânia cinco horas”, diz com voz firme o locutor Justino Guedes, como a  lembrá-lo que as vacas o aguardam tirar o leite.
                Toma café calado, apenas prestando atenção em uma letra dolente de uma canção antiga. Canção que o leva ao tempo da mocidade, quando gostava de aos finais de semana se divertir nas festas das fazendas vizinhas, folias de reis e outros festejos da região.
                Não se contendo, vai até o quarto e pega outro radinho de pilha – se pegasse o da cozinha era briga na certa – e junto com sua tralha de tirar leite - banquinho, balde e corda – leva-o para o curral, o pendurado no local de costume. Durante algumas horas, viaja nas canções e nas noticias de futebol e também nas informações sobre preços de arroba de boi, do feijão, do milho e outros assuntos de seu interesse.
                Longe dali na cidade Dr. Agenor, patrão de Seu João acaba de deixar a filha na porta da faculdade, com o rádio sintonizado na 730. Ouvindo as noticias do Brasil e do mundo com a Teresa Ribeiro. Os pitacos e comentários do Altair Tavares complementam as noticias. O trânsito difícil parece ficar mais rápido por causa do noticiário.
Ao adentrar o escritório começa a se deixar levar pela rotina de trabalho, procedimentos, processos. Recebe a ligação de seu filho que mora e estuda em Atlanta, nos Estados Unidos da América, que pergunta sobre as melhorias que estão acontecendo em seu bairro, informação ouvida via internet na entrevista do diretor da empresa de limpeza urbana. Sorri quando ouve um “Pô, pai, estou tão longe e sei mais do nosso bairro que você”. Lembra que está na hora de saber noticias do esporte, pelo note book sintoniza na “730 ao vivo” e com um coração apertado, ouve as más noticias do seu querido Vila Nova, do descenso à serie C e outros problemas inimagináveis. Hora de voltar a dedicar ao trabalho, afinal, seu combalido vila Nova não está merecendo seu tempo.
Ouve resignado a comentarista Cecília Barcelos afirmar que dificilmente o Vila Nova terá um futuro melhor no ano próximo. Concorda com o comentário franco e espontâneo do Edson Rodrigues. Comenta algo no twitter e ouve a pronta resposta do Cleisson Teixeira. Não era o que gostaria de ouvir, mas se o próprio Vila Nova não ajuda, fazer o quê?
Na pequena lanchonete a poucos quilômetros dali enquanto faz mais um suco, atendendo um cliente, a proprietária está com o rádio ligado no Repórter Cidade, programa apresentado por Amaury Garcia e Flávia Vinhal. Ela tem boas lembranças do Amaury Garcia: quando era sua aluna de Matemática em uma escola pública e quando ele participou ao lado de outros goianos ainda em LP de vinil o disco Elos, ao lado de Luiz Augusto. A canção Aragem ainda toca seu coração. Bons tempos, lembra.
Já mais tarde no táxi parado no trânsito confuso da cidade, as ultimas noticias do esporte entretém aquele passageiro que, embora seja de outra cidade ouve com atenção. E usa como motivo para puxar conversa com o motorista, que não perde a oportunidade de declarar sua felicidade e amor ao Atlético – GO, “o time goiano da série A”, afirma efusivamente.
À noite, enquanto luta com suas revisões e textos do dia o cronista, no sossego de seu lar, em um bairro de periferia vê desfilar nas ondas do rádio o humor inteligente no programa Fanáticos. Novela?  Programa do Ratinho? Não, nem pensar. O bom mesmo é embarcar na alegria e bom astral do Beto Brasil, que  com seu bordão “você sumiu deu...” faz uma viagem ao mundo do futebol e interage de forma muito espontânea com seus ouvintes que apesar de ficarem na espera um bom tempo, participam,  dando sua opinião no ar, sem censura e seguindo o astral do programa. São ouvintes cativos desde o início do programa.
Quando acaba, hora de dormir, desligar. Vem mais coisa por aí, mas o corpo e a mente pedem descanso. Amanhã tem mais.
No outro dia, ainda madrugada, Seu João, o vaqueiro, acorda mais cedo e vê que não está na hora de levantar. Enquanto pensa na vida, na lida diária e em suas obrigações, liga o radio e encontra ânimo e disposição ao ouvir o Madrugada Viva. Engraçado, pensa, o que faz o Barack Obama ali? Ele não é Presidente dos Estados Unidos? Mais um pouco, e retoma a rotina diária, afinal, Justino Guedes já vem chegando e anunciando: “em Goiânia, cinco horas”! É hora de começar mais um dia.
-*-

Parabéns pelo aniversário de oito anos, Rádio 730! Continuem entretendo e levando a informação correta a seus inúmeros ouvintes, pelo mundo inteiro.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

NA FAZENDA DO TIO JOÃO

Fazendo o maravilhoso doce de leite goiano

Lugar bucólico, de um entardecer maravilhoso

Na fazenda do Tio João, o cair da tarde traz a paz e a quietude que fazem bem ao coração e à alma.
O sol, despedindo do dia e buscando seu refugio, deixando atrás de si belíssima claridade traz o intenso movimento dos pássaros em busca de seus ninhos, o canto das araras azuis, sempre em dupla ou casal e o mugir melancólico do gado, recolhido e apartado, faz sonhar e imaginar ser a vida apenas aquele momento, de tranqüilidade e sossego.
À noite, vem a visita dos vagalumes. Ao longe, observo pequenos sapos que buscam refugio em um lugar escondido e seguro. Apurando mais os ouvidos, escuto a imensa cantoria que vem da pequena mata próxima.
Sentado na pequena cerca que fica em frente à casa, vejo o surgir das estrelas. No começo, tímidas, apenas uma aqui, outra acolá. Mas, em pouco tempo, um céu maravilhoso e iluminado resplandece. Belíssimo céu. Fez falta apenas a lua nesse instante, mas pela madrugada adentro, ela aparecerá e iluminará até pela fresta da janela do quarto.
Na fazenda do Tio João, devido á pouca freqüência da irmã-chuva neste ano, o milho ainda não está totalmente granado, no ponto de fazer pamonhas. Talvez daí a uns vinte dias esteja no ponto, mas, sapiência da mãe natureza, ainda não chegou lá.
O alvorecer, depois de noite calma e repousante, vem com os pássaros em festiva sinfonia, o barulho das galinhas no quintal e o mugido triste das vacas no curral, a chamar seus bezerros, para receber a parte do leite que lhe é de direito.
Em breve, estou ao lado dos amigos, reunidos em volta de uma grande fornalha, a preparar um delicioso doce-de-leite. Á moda antiga, com muito cuidado, mexendo sempre para não pregar no fundo do tacho. Depois de algumas horas de paciência e trabalho, a primeira prova. Mais um pouco, é só retira-lo e chamar a meninada (e alguns adultos) para raparem o tacho.
No imenso quintal, com suas mangueiras antigas oferecendo generosa sombra, tem uma quantidade imensa de guarirobas de variadas idades. Fico a imaginá-las na panela sozinhas ou acompanhadas do delicioso frango caipira, à moda goiana.
Apesar de todo este paraíso, desta vez a fazenda do Tio João estava um pouco mais sem-graça. Faltava algo. Ou melhor, alguém.
Acometido de forte gripe, o Tio João não estava lá. Todos sentiram imensa falta de suas brincadeiras, de sua habitual mania de oferecer aperitivo aos presentes – os mais afoitos acabam no chão -, de seu carinho com as crianças. Sua presença sempre é motivo de alegria e satisfação.
Que da próxima vez estejamos juntos novamente. E com o Tio João gozando de plena saúde.

sábado, 12 de novembro de 2011

O MELHOR LUGAR DO MUNDO


"Faze de tua casa um pasaiso e o paraiso será tua casa"

Na parede da sala de minha casa tem um pequeno quadro. Pequeno, humilde, singelo, mas com uma paisagem e uma mensagem fantástica. Sua moldura, já marcada pelo tempo, tem uma cor bege, meio de empoeirado, meio de muito tempo.
É uma pintura feita à mão, com três palmeiras em destaque à frente, uma estradinha em perspectiva que vai até uma pequena casa de taipa, coberta de palha, um lago do lado com um barquinho distante e um belo pôr-do-sol, com nuances de amarelo vivo e vermelho-alaranjado. É uma palhoça simples, mas dá a impressão de um lugar de pessoas felizes.
Traz o ano e as iniciais de quem pintou o pequeno quadro. O ano: 1972 e as iniciais: I. C.G., de Irmã Cirene Garcia, uma religiosa salesiana, que morou em Goiânia nessa época, em um colégio que fica na Praça do Cruzeiro, região sul de Goiânia, chamado Instituto Maria Auxiliadora.
Em 1972 eu era ainda muito criança, tinha apenas seis anos. Goiânia também era uma cidade adolescente e tranqüila. Não havia a loucura dos enormes engarrafamentos de hoje, tampouco o telefone era como hoje, inconveniente, móvel, os chamados “celulares”.
Sobre a Praça do Cruzeiro, naquele tempo era um lugar encantador. A imensa fonte luminosa, com seus surpreendentes e coloridos jatos d’água me fazia ficar parado, encantado, a admirá-la. Maravilhosas canções eram transmitidas pelos auto-falantes da fonte, que faziam uma perfeita harmonia com os jatos coloridos. Seus gramados de um verde muito vivo eram completados por pequenas plantas que sempre derramavam flores e mais flores. Um jardim de encanto. Havia também roseiras floridas, dos mais diversos tons e tamanhos.
O pipoqueiro, com seu carrinho e sua palavra amiga conquistava as crianças. Não havia o medo, era de confiança, tratava a todos com cortesia e conquistava amigos. Durante o dia, eu ficava contando as horas para que chegasse logo a noite, para que pudesse ir para a praça, rever a bela fonte luminosa, ouvir canções que encantavam e brincar com os amiguinhos da vizinhança.
Era um tempo em que as pessoas encontravam mais tempo para conversar, para trocar idéias. Era muito comum os vizinhos serem compadres e as crianças tomarem a benção aos mais velhos. A televisão não era tão obrigatória, impositiva, fazendo com que todos ficassem mudos, lado a lado, olhar fixo na tela, sem conversar, como hoje. Havia confraternização, alegria de encontros. Era uma praça muito bonita e alegre.
Hoje, a praça ainda está lá. Como na Avenida Tocantins, sobre quem já escrevi um dia, suas árvores e seus arbustos estão negros pela fuligem. A fonte não funciona mais e tampouco tem musica. Mesmo que tivesse, com o intenso barulho dos ônibus e veículos que passam ali seria impossível ouvir. Apesar dos modernos sistemas de iluminação, a praça está quase às escuras. Não vemos mais crianças a brincar, nem carrinho de pipoca.
O pequeno quadro me leva a esse tempo. Hoje, somos obrigados a ficar seguros, trancados em casa. Cada um com sua ocupação, sua obrigação a fazer.
Costumo afirmar que o melhor lugar do mundo deve ser a nossa casa. Ao lado, em um canto da linda paisagem do quadrinho, uma pequena mensagem que nos leva a refletir: “Faze de tua casa um paraíso, e o paraíso será tua casa”.