Conheci o sr. José
Silvério em um quarto de hospital - na Santa Casa de Misericórdia de Goiânia - quando
acompanhava meu irmão em uma de suas muitas internações. Estava absorto em meus
pensamentos, quando vi chegar aquele senhor tímido, vestido com roupas simples,
trazido em uma cadeira de rodas, acompanhado de um filho.
Um hospital não é um
lugar onde se pode desejar boas vindas, mas cumprimentei a ele e ao filho, desejando-lhes
uma boa noite, ao que eles responderam timidamente.
Com ajuda dos enfermeiros
do plantão acomodou-se na cama alta daquele quarto de hospital e foi se
ajeitando e aos poucos, se situando naquele lugar de paredes frias e cheio de
aparelhos e equipamentos médicos.
Iniciou uma breve
conversa perguntando sobre meu irmão, o motivo da presença dele ali, e aos
poucos foi se soltando, informando sobre seu problema no pulmão, que o havia
obrigado a procurar ajuda médica.
Como a noite era longa
e era impossível dormir ali, ele com sua voz calma e firme, apesar dos 83 anos
de idade, começou a falar de sua vida, dos tempos de rapaz, da luta para criar
com honra e dignidade seus dez filhos, as dificuldades que passara nesse tempo
todo.
Falou dos quarenta anos
em que trabalhou “na roça”, fazendo cercas de arame, construindo currais, derrubando matas, cuidando
da terra.
Depois, veio para a cidade,
de onde não saiu mais e exerceu diversas atividades, sempre de maneira honrada
e honesta. Foi vigilante de uma empresa chamada Orgal, trabalhou como gari
limpando as ruas do centro de Goiânia, mas seus olhos se iluminaram mesmo
quando falou do trabalho como vendedor de pipocas em um carrinho, o tradicional
e até certo ponto difícil de encontrar, pipoqueiro, na acepção verdadeira da
palavra.
Contou como ao lado do
filho Dário, o mesmo que o acompanhava no hospital, ganhava mais que o salário
mensal como porteiro do Colégio Bbjetivo, vendendo pipocas. E ficava feliz ao
fazer a alegria da criançada, que faziam fila para adquirir pipocas das mais
variadas formas, como a tradicional de sal, ou as de doce, coloridas e
chamativas.
Falou dos momentos difíceis,
quando sempre com o filho Dário, catava papel nas ruas, para revender a
empresas de reciclagem e assim, dar conta de suas obrigações como pai de
família. E da alegria de ter tornado a todos os filhos homens e mulheres de
bem, honrados e corretos em seu proceder.
Mas o que me chamou a
atenção naquele senhor de pele morena e brancas câs foram duas coisas: seu
gosto pela música, pelas artes, pelo rádio e seu sorriso franco, simples e
muito verdadeiro. Me confidenciou ainda que tem um sonho a realizar: conhecer a
apresentadora da TV Record Silvyê Alves. Quer conhecer aquela moça simpática
que, através da telinha da TV traz a ele as notícias mais importantes do dia –
sejam boas ou ruins.
Não sei mais se a vida
permitirá que ocorram novos reencontros com ele, afinal, Sêo Zé Silvério já
deve ter tido alta hospitalar, o que eu de fato desejo que tenha acontecido.
A vida traz certas
nuances, que cabe observar: ainda que em momento difícil, lidando com
dificuldades, é possível encontrar uma figura humana, simples e tão cativante
como ele. Assim, caminhamos.
Que ele obtenha a saúde que precisa e continue a espalhar alegria e otimismo, tão necessários ao mundo. A “bença”, Seu José
Silvério!
Belíssima crônica, meu caro poeta PAULO ROLIM. Depois de apresentar, modestamente, seu trabalho no Universitária em Seresta, fico daqui na expectativa do retorno com ótima saúde do Sr. José Silvério. E um fato interessante: ao vê-lo, pela foto, parece que nos conhecemos ou, no mínimo nossas almas estão interligadas ! Muita saúde e paz. João Sobreira Rocha
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