Todos os dias, quando eu saio do trabalho, por volta de quatorze horas, passo
em uma grande avenida de Goiânia, onde sempre noto uma pequena aglomeração de
pessoas, em frente a um restaurante - que funciona há anos naquele local.
Como o trânsito ali é muito lento, posso observar as os que ali permanecem.
São pessoas diversas. Homens, mulheres, jovens, velhos, e algumas crianças. Muitos
têm as roupas sujas, o que pressupõe que estejam já desalentados com a vida que
levam.
Na expressão do rosto de cada um, o olhar triste, perdido, como que à espera
de dias melhores. E o motivo da permanência deles naquele local é pelo fato
que, após o movimento normal dos clientes, o proprietário, em um gesto de solidariedade,
divide o que restou com eles. Interessante que todos portam nas mãos uma vasilha,
que tenho certeza, será para acondicionar a comida que o dono daquele
restaurante doará. Pelo menos, encontram alguém que os ajuda a matar a fome.
O nosso país, que em recente época, viveu dias fantasiosos de glória,
agora se depara com uma realidade cruel. Há poucos empregos, e o Ministério do
Trabalho não consegue emitir sequer uma carteira profissional. As placas de “aluga-se”
são maioria em todas as avenidas. Existem mais lojas fechadas, que abertas.
A economia passa ainda por um tsunami. Apesar das mudanças ocorridas no
campo politico, o país ainda patina, sem rumo e sem definições de onde poderá
chegar.
Temos políticos, que embora indiciados e réus em cerca de doze inquéritos
na suprema corte brasileira, com tamanha cara de pau, se prestam a adjetivar de
maneira pejorativa e desrespeitosa membros do poder judiciário, juízes de
primeira instância. Esses juízes, para chegarem onde estão, dependeram de passar
por concurso publico, ter notável saber jurídico e reputação ilibada. Observem:
reputação ilibada. Para ser politico, basta ser politico, nada mais. Reputação e
bom caráter, não precisa.
A sociedade paga caro para ter um governo ineficiente e perverso, que a todo
momento acena com aumento se impostos e diminuição da qualidade dos serviços – constitucionalmente
obrigatórios – que tem que prestar.
E a sociedade precisa reagir. Um chefe de um poder legislativo que chama um
juiz de “juizeco”, não merece estar no posto que ocupa. Jamais deveria ocupar
uma função, que ao menos na teoria, é importante para o Brasil. Creio que não
passa mesmo de um “senadorzeco”, como as redes sociais o denominaram.
Voltando à fila na porta do restaurante, penso que, felizmente, para
essas pessoas, existe gente de bom coração. Embora estejam na condição de rua,
desesperançados, sem perspectivas de futuro, o alento que recebem está
representado em um pouco de comida que recebem – fora de hora, depois que todos
almoçam – mas é o que consegue ser feito pela caridosa pessoa do restaurante.
Que a solidariedade volte a reinar em nosso país, e que políticos desavergonhados
e desrespeitosos sejam afastados. É preferível mil vezes um “juizeco” de primeira
instância, que teve que lutar muito para chegar onde chegou, que um mandatário
que se acha acima da lei e da sociedade.
Que tenhamos dias melhores. Sem filas de pedintes, à porta dos
restaurantes.
Acreditemos!!