No inicio da década de
1980, cheguei a Goiânia, repetindo o ato de tantos que por aqui chegaram em
busca de melhores condições de estudo e formação. À época, o país passava por
um período difícil, com a economia estagnada e vivendo a transição do final do
período autoritário para a democracia plena, através do exercício do direito de
eleger seus representantes para os cargos do executivo e do legislativo.
Cheguei aqui cheio de
sonhos e de imediato me deparei com as realidades. Embora morasse com meu
irmão, eu tinha que sobreviver às minhas expensas. Meus pais não tinham
condições financeiras de me manter por aqui e dessa forma, eu precisava fazer
minha parte.
Fui em busca de
trabalho. Lavei calçadas em lojas da Rua 68, mas logo os donos do pedaço
educadamente me convenceram que para minha saúde física era bom cair fora dali.
Consegui um trabalho em um piti-dog no final da rua três, bem perto da
república onde eu morava, porém, o horário era extremamente difícil: das 23h
até o último cliente. Mas, era o que eu tinha em mãos e enfrentei.
Uma manhã, passando em
frente ao então centro administrativo, hoje palácio Pedro Ludovico Teixeira,
perguntei a um senhor que saía de lá se ele poderia me arrumar um trabalho. Era
um senhor moreno, magro, da “cara boa” e ele perguntou por qual motivo eu estaria
ali pedindo trabalho. Contei a ele minha história e ele ficou pensativo por
alguns instantes e depois, pediu meu nome, o número de documento de identidade
e orientou que voltasse no dia seguinte no mesmo horário e o procurasse. Informou
o número da sala, do andar e sumiu no meio das pessoas que dali se afastavam.
No dia seguinte eu
estava lá e ele me recebeu de maneira cordial, de imediato me encaminhando para
uma moça em uma sala próxima, que preencheu na máquina de datilografia uma
ficha com meus dados e pediu que voltasse dali dois dias, quando então fui
encaminhado para um endereço com uma carta de recomendação pedindo que me
atendessem.
Ao chegar no local
indicado, fiquei surpreso com a boa recepção das pessoas que ali estavam. Passei
por uma entrevista com uma moça simpática, um rápido treinamento e dois dias
depois, estava com a indicação para a vaga de office-boy em uma empresa de
turismo.
O programa chamava-se
“Pro-jovem” e era mantido pela então “Fundação Legionárias do Bem Estar Social”,
entidade do Governo de Goiás que anos depois se tornaria OVG.
Foi a partir dali que
eu de fato comecei minha vida profissional. Passei a receber meus proventos de
maneira rigorosamente pontual, e com os cursos que o Pro-jovem oferecia, fui
crescendo dentro da empresa. Onze meses depois, estava sendo contratado para o
quadro efetivo e abrindo vaga para outro jovem aprendiz na função que
desempenhei.
Não posso negar a
importância do Pro-jovem em minha vida. Ali eu tive orientação, acompanhamento
e acima de tudo valorização como ser humano.
Passados muitos anos,
eu vejo que o Governo de Goiás, agora chefiado pelo ex-senador Ronaldo Caiado,
joga uma pá de desconfiança no programa. Um dos maiores programas do Brasil de
inclusão de jovens no mercado de trabalho, contemplando jovens que como eu, um
dia buscaram oportunidades, adquirir experiência e acima de tudo, seguir pelo caminho
do bem e da boa convivência com a sociedade. Lembro que à minha época as coisas
eram bem mais fáceis e a violência não era tanta como hoje. As más influências
eram mais distantes.
Tal fato gerou imensa
preocupação na sociedade, e pelo que soube, exigiu atuação da justiça do
trabalho que interferiu colocando regras e impedindo que de imediato, milhares
de jovens ficassem sem trabalho, afinal muitos usam os salários recebidos para
se manter ou ajudar na sobrevivência da família.
Se o programa “Jovem Aprendiz”
precisa de ajustes, que sejam feitos, até discutidos com a sociedade. Mas de maneira
unilateral e absoluta simplesmente acabar, pode comprometer o futuro de muitos
jovens.
Soube que o Pro-jovem,
da minha época e o Jovem Aprendiz são os mesmos, havendo apenas adequações e
mudanças de nome.
Acabar o que está sendo
feito, apenas por ter sido apoiado pelo governo que antecedeu Ronaldo Caiado, é
pensar pequeno e deixar de se preocupar com os imensos reflexos negativos que
tal ato pode ocasionar.
A sociedade precisa de
meios de formar os jovens e motivá-los a trilhar o caminho do bem. O
traficante, o bandido está em cada esquina e o jovem precisa de boas
oportunidades e acompanhamento da família e de entidades sérias. Portanto, mais
que nunca, o jovem em início de carreira e formação profissional precisa desse
fantástico impulso que é o programa “Jovem Aprendiz.”
Espera-se que o
governador e sua equipe reflitam e ajam sempre de acordo com os interesses da
sociedade. E o Jovem Aprendiz é sim, de extremo interesse do povo de Goiás.
-*-
Paulo Rolim – Jornalista, Produtor
Cênico e ex-integrante do Pro-Jovem
Twitter: @americorolim
Nenhum comentário:
Postar um comentário