A expressão triste
daquela senhora, que embora tentasse mostrar simpatia ao servir o café no
pequeno copo de plástico descartável me chamou à atenção. Embora tentasse
estabelecer uma conversa ao afirmar que seu café era torrado e moído em sua
própria casa, seu semblante não escondia por certo algumas angústias.
Iniciei a conversa com
ela, confirmando o sabor amargo forte do café, com pouco açúcar, exatamente como
eu gosto.
Àquela hora da manhã,
por volta de nove horas ela já se preparava para ir embora. Disse que chegara
as cinco da madrugada naquele “ponto”, onde de segunda a sexta-feira vendia
café, leite, salgados, suco, bolos e claro, pão de queijo.
Sua clientela era
formada por pessoas que desciam no ponto de ónibus ali perto – muitos operários
de obras de construção civil – além de pessoas como eu que, passando por ali avistaram
a banquinha e resolveram se aproximar.
Reclamou de algumas
continhas de fiado que deixou de receber de gente que trabalhava ali perto e ao
ser demitida, não voltou para pagar o que devia. Segundo ela, era pouco, mas
importante para ela.
Pedi mais um café e ela,
enquanto organizava suas coisas, ligou para o esposo afirmando que em meia hora
poderia vir buscá-la. De ônibus, tinha que ser os dois...
Por fim sentou, se serviu
de um café com leite e escolheu um pão de queijo, dizendo que merecia, afinal
também era filha de Deus.
E ali contou parte de
sua história. Ela e o esposo tinham uma panificadora pequena, mas que dava para
sobreviver e pagar as despesas da família, inclusive manter um filho na
faculdade particular. Mas por volta de 2015 as contas não fechavam, a despesa
aumentou e eles tentaram vender o estabelecimento, porém não conseguindo,
resolveram fechar definitivamente. Com a venda do pouco estoque que tinham e dos
fornos, pagaram os acertos trabalhistas de três funcionários e tristes e
desesperançados voltaram para casa. Ao dizer isso, ela encheu os olhos de
lágrimas. Confesso que também me emocionei, sentido um nó na garganta.
Continuando o relato, disse
que aos poucos as coisas começaram a apertar. O esposo foi trabalhar como
terceirizado em uma empresa de telefonia, vendendo planos “absurdos e irreais” e
ela começou a fazer quitandas por encomenda.
Mas isso não foi
suficiente e as coisas somente começaram a andar quando resolveu que poderia
vender diretamente aos consumidores, procurando minuciosamente e escolhendo
aquele ponto, onde disse ter acertado, como um local razoável.
O que ganhava ali não dava
para pensar em futuro, uma vida melhor, “mas a gente garante ao menos o pão de
cada dia e o pagamento de contas básicas como água e energia elétrica.”
Quanto ao esposo, ele
deixou a empresa de telefonia e se dedica a ajudá-la, fazendo as quitandas,
salgados e bolos para vender. Mostrou com orgulho fotos no celular do local
onde fazem os produtos, realmente muito limpo e bem cuidado. E eles usando sempre
aquela touquinha branca na cabeça.
Paguei minha pequena conta
e saí dali com o coração apertado e reflexivo. A situação daquela senhora é a
de tantos brasileiros, que sem emprego ou tendo perdido seus empreendimentos,
buscam no comercio ambulante o único meio possível de sobrevivência.
São pessoas que estão
esquecidos pelos governos, seja dos anteriores ou dos que tomaram posse no
primeiro dia de janeiro. O eleitor pelas urnas retirou uma corja e elegeu um presidente
e governadores com grande esperança, mas até agora, as coisas não andaram. Parece
que o eleito está sempre em campanha, acompanhado de sua prole, e único assunto
que tem é a reforma da previdência. Além, claro, da bagunça que reina entre
seus ministros.
O brasileiro segue sua
sina. Parece que tudo está bem somente para os detentores do poder, que podem dizer e fazer as besteiras que quiserem, afinal o seu polpudo salário está garantido
antes do final do mês.
Enquanto isso, a luta é
para sobreviver com o mínimo de dignidade e honra. Um povo bom, correto, e trabalhador
precisa ser melhor cuidado pelos que têm essa obrigação.
É preciso ações para
que se possa recuperar a confiança de dias melhores, ter esperança e acreditar que
tudo pode mudar. E assim, voltar a sorrir!
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