Enquanto tentava de uma
ou outra forma minimizar o calor que tomava conta da noite da última
quarta-feira, acabo por vir para o pequeno canto onde escrevo minhas
simplicidades. E ao ligar o rádio, eis que ouço uma canção do rei Roberto Carlos.
Canção antiga, salvo engano de um disco lançado em 1971, com uma letra intensa,
onde se fala de recordações. Inevitavelmente me deixo levar por esses
sentimentos de nostalgia e saudade.
Me vem à lembrança que
a primeira vez que ouvi canções do rei Roberto Carlos, eu era ainda muito
criança. Foi na sala da fazenda do meu avô, que ficava vizinha à saudosa e
querida Fazenda Nova América, onde morávamos.
Ocorre que alguns
primos meus que haviam se mudado para São Paulo fazia alguns anos vieram visitar
a família e trouxeram uma novidade, algo até então praticamente desconhecido de
todos ali: uma radiola, espécie de aparelho de som que funcionava à pilhas e
rodava discos pretos, amparados por um pequeno braço.
A radiola tocava
canções que de imediato achei pouco alegres e chatas. Muito monótonas para um
menino tímido, de pouco mais de cinco anos. Mas o que me encantava mesmo era
olhar para o pequeno alto-falante que ficava na tampa e, como no rádio, ficar
imaginando como caberiam ali pequenos homens que cantavam.
Meus primos Dedé e Elídio,
minhas irmãs e meu tio Marcelino passaram a tarde daquele longínquo dia de
minha infância, salvo engano um sábado, ouvindo canções. E ao irmos embora, eles continuaram entoando o
refrão das músicas que ouviram. Assim, pela estrada que dava acesso à nossa
casa, cantaram “Quando” e outras. Essa canção “Quando” marcou, e até hoje me
faz recordar as cenas daquela tarde distante de minha infância, momentos que
ficaram para sempre guardados no coração.
Um dia entendi que não
haviam homenzinhos naqueles aparelhos, mas a tecnologia – à época, pouca se
comparada com a de hoje – que se apresentava trazia diversão e alegria.
O rádio, talvez por ser
tão presente e fazer parte de minha infância me acompanha até hoje. Companheiro
inseparável e indispensável. E a partir disso foi inevitável notar que as
canções do rei eram presença constante na programação das emissoras de rádio.
Àquela época ouvia-se a
Rádio Globo do Rio de Janeiro, a Rádio Brasil Central de Goiânia e a noite era
obrigatório ouvir a Rádio Record de São Paulo e a Rádio Tupi do Rio, que tinha um
programa alegre, com a famosa “Turma da maré mansa”.
O tempo passou e as
canções do rei sempre estiveram presentes em minha vida, seja em momentos de
alegria, tocando violão, fazendo serenatas, em momentos românticos com a
amada, ou mesmo deixando-me embalar, quase sem perceber, enquanto escrevo meus
textos em uma noite de calor intenso, à espera da chuva que está demorando a
vir.
Canções como "Detalhes", "Amada amante", "O portão", "Meu querido, meu velho, meu amigo" e tantas outras,
além das recentes, sempre trazem um quê de romantismo, saudade, acalento.
As canções do rei: sempre
eternas, no coração dos românticos. E no meu, no seu, em nossos corações.