Sentado na antiga e recém restaurada cadeira de fios, que sempre está no
mesmo lugar, ponho-me a observar as samambaias que ornamentam a varanda de
minha casa. São muitas, quase uma dezena, penduradas rente aos beirais,
tornando o lugar agradável e bastante acolhedor.
A maioria dessas samambaias foram mudadas há pouco mais de um ano. Vieram
se juntar a outras que já estavam aqui. No início eram pequenas mudas e
sobravam nos vasos onde foram plantadas, mas com o passar do tempo, zelo e
muito cuidado tornaram-se pujantes e volumosas.
Por estarem penduradas rente aos
beirais da varanda recebem suave e tranquilamente, sempre que chove, uma parte
dos generosos pingos que caem, alimentando sua sede de vida. E assim vão
ficando cada vez mais belas, principalmente quando a luz do sol vem abraça-las,
depois de uma chuva de verão.
Não estão sozinhas, pois têm por companhia exemplares de espécies como
avencas, lírios e uma variedade diferente, conhecida como “beira d’água”, certamente
colhida às margens de algum córrego por aí.
Imerso em minhas reflexões, ao desviar o olhar e o pensamento e contemplar
a beleza das samambaias, é impossível não traçar paralelos com a vida. Parece não
fazer muito tempo, éramos pequenos, frágeis e dependentes. Mas o tempo veio
trazendo consigo a alegria da vida e ao mesmo tempo, as responsabilidades, as obrigações
quase sempre pesadas que a vida traz.
A vida, como na rotina das samambaias, alterna momentos de chuva – as vezes
forte, algumas tempestades, e momentos de sol e luz. E apesar dos ventos que
sempre vêm nos balançar e tentar nos levar, estamos amparados por raízes que embora
pareçam frágeis, são firmes e apegadas àquilo que nos sustenta e mantém em pé.
É impressionante como tudo é muito rápido. A rotina que vivemos, talvez
faça com que não percebamos a velocidade do tempo e o sutil, porém constante passar
das horas, dias, meses e anos.
Nem notamos mas passamos a infância, a adolescência, que logo deu lugar
mocidade – tempo de amores, paixões, sonhos e de consolidação daquele que será
o futuro. E logo veio casamento, seguido de filhos, até que um dia, a vida nos
surpreende trazendo a incomparável alegria da presença dos netos.
É marcante a busca que fazemos em direção ao futuro. Lembro o tanto que
queria que chegassem logo os quinze anos, a maioridade aos dezoito e a
consequente conquista de liberdade, de sonhos como faculdade, a carteira de motorista,
independência financeira. De repente o
futuro era presente, delineado e vislumbrado bem diante de nós.
Assim caminhamos. Um dia distante, nossos pais e irmãos comemoraram
nosso primeiro aniversário. Nem percebemos, mas chegamos muito rápido aos
vinte, trinta, quarenta anos de idade.
Em momentos de absoluta tristeza, pessoas queridas se foram, nos deixaram
para sempre, porém como costumam dizer: é o destino.
O tempo, esse nosso amigo inseparável, porém implacável, nos mostra que
devemos viver bem e intensamente cada momento que a vida nos proporciona.
Dessa forma, chegar aos sessenta, setenta e outros tantos anos de vida plenos e felizes.
Que a vida queira sempre assim.