Quando menino eu me
encantava com os sons advindos do velho e surrado violão que meu pai costumava
tocar quase todas as noites – ou quando o cansaço da lida diária permitia. A
singela calçada de chão batido, escorada por velhos troncos de madeira era seu
palco, com a plateia cativa de meus irmãos e irmãs, além de minha mãe, que vez
ou outra se animava a declamar versos. A luz que costumeiramente iluminava esse
palco maravilhoso vinha da lamparina que ficava na sala da casa simples - e das
estrelas, que pareciam emitir brilhos de alegria a cada acorde que meu pai
dedilhava ao violão e a cada sorriso daqueles que estavam ali a se encantar.
E vez em quando ela aparecia. No início eu
apenas a percebia pelas frestas do telhado, juntamente com estrelas. E ela, a lua, assim como as estrelas companheiras aos poucos se iam deixando de certa forma
confuso meu pensar de criança, que se encantava com o barulho da noite e a
claridade do céu.
Mas eis que em algumas
vezes ela vinha imponente, em início da noite com as luzes do entardecer ainda
se despedindo do dia. Chegava imensa, clara, mágica e bela e se postava no
firmamento, trazendo raios de luz que acalentavam ainda mais aqueles momentos
de poesia, canções e felicidade.
A vida seguiu. A poesia,
que conheci e senti quando minha mãe cantava ao me embalar na rede da pequena
casa onde morávamos, ou nos singelos porem líricos momentos de enlevo ao som de
canções, acordes e declamações, me acompanha até hoje.
Seguiu comigo na adolescência,
no primeiro amor, nos poemas que me atrevi a compor ouvindo o coração, no andar
pelas ruas de mãos dadas com a amada e a ela dedicar canções, como fazia meu pai
à minha mãe.
Esteve nos momentos da infância
de minhas filhas, em cada conquista que tiveram e sobretudo nos momentos de
alegria que nos permitimos dividir. E na maioria das vezes com o som de um violão,
mas agora, tocado por mim.
E a poesia se faz
presente no sorriso de criança do pequeno Gabriel, que se encanta com coisas
simples porem indispensáveis ao coração, como o canto de galo no terreiro, mugir
de gado no campo, o diálogo ininteligível de um casal de araras que corta o céu na beleza de um entardecer, ao caminhar lenta e calmamente por uma estrada de
fazenda, acompanhado pelo espevitado e irrequieto cãozinho Bidu.
Hoje recordo esses momentos,
diante da mesma lua, das mesmas estrelas e do som da noite que um dia me fizeram
companhia na infância. O tempo inexoravelmente passou, a vida trouxe novos e
alegres momentos.
E com ela, sempre ela,
a me acompanhar: a indispensável Poesia.