A Operação Lava Jato,
desencadeada pela Policia Federal há alguns anos desnudou práticas que incluíam
e sacramentavam a corrupção de agentes públicos e privados, levando ao
conhecimento do cidadão um lamaçal que há décadas cobre o país, e de maneira
ainda mais grave, tornando isso como “normal” e “parte do jogo”, no entender da
maioria dos políticos.
Com as armas - ou a legislação - que
dispunham, a Policia Federal, o Ministério Público Federal e Procuradoria da
República promoveram verdadeira devassa em partidos políticos e líderes dessas
agremiações, além de empresas que, para obter préstimos e benesses dos governantes,
dividiam o quinhão, municiando com polpudos e generosos valores, oriundos
claro, do pântano fétido da corrupção. Organizações políticas e suas cúpulas se
tornaram, à luz da Policia Federal, do MPF e confirmado em todas as instâncias da justiça, organizações criminosas, cujo único
fim era o de se manter no poder e se locupletarem indefinidamente.
A reação do povo
brasileiro, com claras mostras de indignação e repulsa a essas práticas
criminosas veio nas urnas, parcialmente. Afirmo parcialmente, pois elegeu um
presidente da república que se apresentou com um discurso simples, de moralidade
e cuidado com a coisa pública. Mas por outro lado, ainda elegeu para os
parlamentos, apesar de uma certa renovação, políticos da velha guarda, ou da
velha política, que ainda cultivam os hábitos nada republicanos “do toma-lá, dá
cá”, ou “do é dando que se recebe”.
E prevaleceu o fato que
toda ação gera uma reação. Os membros das organizações criminosas apesar do
susto inicial e do baque que sofreram, procuraram se organizar, o que conseguiram
rapidamente. E onde foi o local que mais se percebeu essa reação? No congresso nacional.
Aquela que em tese deveria ser a “casa do povo”, estraçalhou e inverteu projetos como “As dez medidas contra a corrupção”,
aprovou leis, como a famigerada "lei do abuso de autoridade" que dificultam, constrangem e tentam engessar os atos de instituições
constitucionalmente sólidas como o judiciário, o MP e as polícias, além de práticas condenáveis como uso irrestrito de
jatinhos da FAB por parlamentares, procrastinação e engavetamento da votação e
aprovação do projeto que prevê o fim do foro privilegiado para políticos e outros
atos absurdos e que dificultam o combate à corrupção e beneficiam o crime
organizado.
Em outro vértice da
Praça dos Três Poderes, os atos e decisões do STF, que em tese deveria ser o
guardião da constituição e não legislador, chocam a opinião pública e trazem
total descrédito ao tribunal. Inquéritos ditos ilegais, decisões monocráticas
que favorecem criminosos contumazes de colarinho branco, expedientes onde certo
ministro diz que um cidadão, servidor público, não deve se dirigir a ele diretamente
nivelam por baixo e tornam a suprema corte brasileira igual ou pior que o congresso
nacional. Suprema corte que têm servidores para carregar guarda-chuvas abertos para
as excelências, que exigem para seu prazer gastronômico lagostas e vinhos de
safras especiais. Esquecem que são servidores públicos e o régio e amplo luxo
que têm é pago com dinheiro do contribuinte.
Já no caso do
Presidente da República, pouco ou nada afeito ao que se denomina “liturgia do
cargo”, o estado é de beligerância constante, seja contra veículos de comunicação
e seus servidores, jornalistas independentes, ou mesmo instituições que de uma maneira
ou de outra, colaboram para o bem do país e do mundo. É fato que certas ONG’s
precisam ser acompanhadas e até investigadas em sua atuação, pois ultrapassaram
em muito suas atribuições e desrespeitam a soberania do país, embora não se deva
generalizar.
Ainda sobre a presidência,
a beligerância segue sua trilha através de atos, palavras e publicações em
redes sociais dos filhos do presidente. Quem discorda ou não comunga do mesmo
pensamento da trupe governista, é execrado publicamente – independente se é
jornalista, parlamentar, membro do MP ou do judiciário ou mesmo um cidadão
comum no uso de sua liberdade de expressão.
Por fim, um dos últimos
absurdos do presidente Jair Bolsonaro foi no episódio da morte do miliciano e
ex-militar Adriano da Nóbrega, foragido da justiça e procurado pela polícia,
que através de suas declarações contra a ação da polícia da Bahia, fez o caso
parar no âmbito da presidência da república. Totalmente descabida e fora dos
padrões, a atitude foi considerada desnecessária e sem precedentes.
Outro fato que chama a
atenção e preocupa é o presidente afirmar que, em reunião com entidades
empresariais no estado de São Paulo – com cujo governador vive às turras – irá solicitar
às empresas que fazem partes dessas associações não anunciem ou destinem verbas
publicitárias a veículos de comunicação teoricamente “não simpáticos” ao
governo federal. Esquece sua excelência que hoje, ele não governa e representa
apenas os 57 milhões de eleitores que o elegeram, mas os mais de duzentos
milhões de brasileiros. E em tempos bicudos, de alto desemprego, PIB mínimo e dificuldades
imensas, se uma empresa anuncia é porque precisa melhorar suas vendas, e
escolhe o veículo conforme orientação de uma agência e de seu departamento de
marketing – não de políticos do momento.
O fato é que hoje, temos
um congresso nacional e uma suprema corte fracos e desacreditados pela
população brasileira e o instituto da presidência segue no mesmo caminho. Estão
cada vez mais iguais e imersos no mesmo lamaçal, em um jogo perigoso e
insensato, fomentado pelo presidente da república e seus apoiadores.
Sore as manifestações convocadas
para o dia 15 de março, creio que haverá até muita gente nas ruas, mas limitado
aos apoiadores do presidente. O cidadão de bem, que foi o fiel da balança que
levou Jair Bolsonaro à vitória nas urnas em 2018, se manterá seguro, distante e
quieto em casa, esperando que os poderes da república tomem juízo e ajam com parcimônia,
competência, em defesa do interesse público e que busquem o fim da corrupção e
o bem da nação.
Utópico isso? Entendo
que sim. Mas, não resta outra alternativa.
Os poderes da república
estão cada vez mais se apequenando e perdidos, longe da vocação para a qual
foram criados.
Ainda assim, espera-se que o
Brasil sempre seja maior que políticos e autoridades de ocasião.