Razões de segurança e
bom senso exigiram que eu retirasse do meu quintal uma mangueira que se tornava
cada vez mais imponente, imensa, dominando grande parte do quintal, além de
estender seus galhos sobre a varanda de minha casa e o quintal do vizinho.
Fiquei triste ao tomar
tal decisão, afinal, ainda nem bem terminara sua última e generosa safra, deixando
entrever entre suas folhas algumas mangas tardãs. Mas, era imperioso que o
serviço fosse feito, para evitar prejuízos a mim e problemas ao vizinho. A árvore,
generosa que sempre foi, pagava um alto preço por cumprir sua sina de crescer e
dominar espaços.
E em uma triste tarde de
sábado, um eficiente e cuidadoso “cortador” chegou, acompanhado de um ajudante
e munido de motosserra, facão, cordas e outras ferramentas necessárias ao
serviço. Embora pela manhã não houvesse prenúncio de chuva, o início da tarde
veio com leve e suave chuva, como lágrimas de despedida dos céus.
Tive que acompanhar o trabalho
de derrubada e retirada da mangueira, que aos poucos foi sendo desnudada, mostrando
sua intimidade, de galhos fortes, mas não o suficiente para enfrentar a força e
a rapidez da motosserra que com seu barulho característico, constante e até
irritante ia aos poucos vencendo a agora indefesa árvore. Doía no coração, na
alma o barulho de cada galho que caía.
Ao lado, no alto da
goiabeira, um casal de pombas-do-bando que habita o quintal há muitos anos, observava
e parecia perguntar o que era aquilo, o porquê daquele ato tão radical, afinal,
era ali que eles há anos faziam seus ninhos, tinham seus filhotes, davam sequência
à vida. Interessante é que nesse ano, resolveram fazer seu ninho um pouco
afastado da mangueira, em um ponto alto e protegido da goiabeira.
Ao final, o quintal ficou
órfão de sua árvore mais imponente, que dominava totalmente o ambiente. Por
outro lado, a visão do céu, dos telhados vizinhos, do alvorecer e do entardecer
ficaram mais amplos.
Aos poucos, fui me
acostumando ao novo visual. Com a ausência da mangueira, o pé de goiaba se
animou a novos galhos em direção ao vazio que ficou, a varanda ficou mais clara
e ao alvorecer, as primeiras luzes do dia, seguidas do sol encontram espaço
para gentilmente abraçar o meu canto.
Aliás, falar em alvorecer,
começo sempre o dia muito cedo. Nem bem a madrugada se despediu da noite, já
estou instalado em meu canto de home-office, na velha e quase secular mesa situada
na varanda da cozinha, trabalhando em meus textos, sentindo o friozinho típico
de Goiás, na companhia de canções vindas através das ondas do rádio e de uma
generosa xícara de café, forte e com pouco açúcar.
O dia vai dando sinais
que logo chegará. Primeiro, o som nostálgico de alguns resistentes galos em
quintais da vizinhança, depois a chegada de tênues luzes no horizonte, quando o
céu começa a adquirir cores fortes em tons amarelos e avermelhados, que parecem
dialogar carinhosamente com as nuvens para que receba o irmão-sol em harmonia e
plenitude. Os pássaros, ante as luzes que chegam começam sua sinfonia e seus
movimentos de ir e vir, saudando o dia.
É meu recanto. Embora sinta
saudades da imponente e generosa mangueira, ainda tenho por companhia uma
pequena horta com pés de jiló, pitaya, açafrão, cebolinha, salsa, alecrim,
capim santo (ou capim cidreira) e também uma parte com alguns poucos pés de
mandioca, pé de goiaba, mamão, acerola, jabuticaba, uma imensa roseira que não
tem espinhos, além de samambaias, orquídeas, e outros pequenos arbustos que dão
belas flores que, embora os tenha há bastante tempo, não sei o nome.
Gosto muito daqui, onde posso ouvir canto de pássaros, ter bom ar para respirar e assim, poder ter uma vida saudável na metrópole. Preciosidade para mim que tenho minhas origens na roça, na querida e saudosa Fazenda Nova América.