segunda-feira, 3 de novembro de 2025

SOBRE GATOS – JÚNIOR/SANDY/JÚNIOR!

 


            O mestre e imortal Adalberto de Queiroz, na primeira segunda-feira deste novembro nos brinda com uma belíssima crônica em O Popular, cujo chamativo título é “Como abandonar um gato”.

            E, quando se lê sobre “gatos”, é natural uma busca nos recônditos, em uma visita aos escaninhos da saudade dos tempos da infância, onde naturalmente todo menino teve convivência com um desses acolhedores animais, muitos com fama de “marrento”, mas que raramente dispensam um bom carinho, ou um bom colo.

            Da minha infância, lembro que tivemos gatos somente na saudosa e querida Fazenda Nova América, onde o gato tinha uma função altamente necessária, com destaque para a captura e afastamento de roedores, que volta e meia apareciam. E os gatos justificavam o ditado que “Casa onde tem gato, não béra rato...”. Quando meu pai vendeu a fazenda e mudamos para a cidade, não tivemos mais nenhum, pois ele entendia que ali não eram necessários.

            Os nomes dos animais da fazenda eram uma atração à parte. Os cachorros, eram Veludo, Guamá, Jaguar, Rompe-Ferro, (que eu chamava de Runferro), Jagui, Troi... Os cavalos eram Vencedor, Mereba, Qual... E dos gatos, eu me lembro de Marujo e Pixurica.

            Um que fez história foi Zorra, criado com todo cuidado pela minha saudosa Tia Mirian, a quem carinhosamente chamávamos de “Titia”. Não sei o porquê de Zorra, e não Zorro.

            Titia era a filha mais nova de meu avô, e por ser desde criança, merecedora de cuidados, face à saúde frágil, nunca se casou. Era a grande amiga dos sobrinhos, que respeitosa e carinhosamente a procuravam para ouvir conselhos e histórias. Meu pai falava que ela teve um grande amor na vida, mas seguiu sem concretizar este romance.

            Zorra era enorme, de pelagem totalmente branca e cheio de manias. Tinha um miado grave, era bem arisco e convivia bem com outro animal da casa, o esperto e também branquinho Trouxinha, um cachorrinho de porte médio e bom para latir. Creio que somente Titia tinha “permissão” para acarinha-lo. Zorra, embora fosse castrado e já idoso, um dia desapareceu, para imensa tristeza de Titia.

            Passado muito tempo, um gato marcou também, desta vez para mim e minha filhas. Um belo dia, chego em casa e vejo um gatinho frágil, branco e amarelo, com cara de coitado. Sensibilizado pelas meninas, optei por permitir que fosse adotado, e como todo pai, disse “desde que elas cuidassem dele”. Em homenagem á dupla Sandy e Júnior, que fazia muito sucesso à época e que minhas filhas tanto gostavam, deram a ele o nome de Júnior.

            Júnior foi crescendo e logo, como a natureza não se manifestava, as meninas entenderam que era “Sandy”, mas não demorou muito e constatarem que não, era mesmo Júnior.

            Como todo gato, Júnior era folgado, manso, lerdo até, mas gostava de um carinho. Raramente entrava dentro de casa, creio que depois que foi expulso do quarto de minha filha, que ao chegar da escola o encontrou no terceiro sono sobre sua cama, ou, pior ainda, sobre seu travesseiro.

            Se relacionava bem com as cadelas de casa, e chegava a mamar nas tetas da Sacha, que mansinha, permitia que ele se deitasse sobre ela e tirasse ali seu cochilo. Quase sempre era interrompido quando Sacha, de maneira brusca, se levantava rapidamente e ia latir com alguém que se aproximava do portão de casa.

            Em uma tarde quente, ao chegar do trabalho, notei que Júnior não estava. Por alguns dias, procuramos saber na vizinhança, mas nunca mais tivemos notícias.

            E até hoje, em nossas prosas de fim de semana, lembramos com saudade do Júnior.