sexta-feira, 12 de abril de 2013

DE UM ENTARDECER DE ABRIL



                Nezinho fita o horizonte e com olhar distante, imerso em seus pensamentos demonstra se encantar diante daquele belo entardecer, que leva os últimos raios de sol para cada vez mais longe, pressupondo para breve o anoitecer...
                Vê pequenos fragmentos de nuvens brancas tardias, espalhadas e disformes naquela tarde. Logo, darão lugar às estrelas e a uma bela lua crescente que está por vir. Lua que em breve será cheia, bela, magnífica, dominando os céus.
                A safra fora generosa. Significa que a colheita foi farta. Que valeu a pena tanto sacrifício, diversas vezes ter tomado chuva ou mesmo sob sol inclemente, quase todos os dias, durante aquele período, ter cultivado a terra, carpido a roça, plantado e cuidado com desvelo e esperança. O resultado estava na tulha e no paiol cheios.
                Esperanças renovadas, certeza de que daria conta das obrigações assumidas e os sonhos planejados poderiam se realizar. Que a família estaria segura, inclusive a educação das filhas, que estudavam em colégio de freiras, distante da fazenda. Havia a saudade, mas a certeza de futuro melhor aliviava o coração.
                Nezinho nem percebeu quando a esposa amada se aproximou, sobressaltando-se com sua voz. Perguntava algo que ele respondeu ainda meio absorto com a beleza da tarde.
                Sorriu ao vê-la se aproximar. Tocou-lhe as mãos em suave e delicada caricia e se emocionou com sua presença. “O que foi, Nego véio” ouviu ela dizer carinhosamente.
                O velho rádio “ABC - A Voz de Ouro” distante trazia um dolente fundo musical. Nezinho mesmo permanecendo calado, encheu-se te ternura e sentiu carinho pela esposa e companheira de lutas. Comentou que estava feliz com o resultado de tanto trabalho, de tanta labuta na terra. Poderiam, na sequencia da vida, ter mais tranquilidade e segurança, inclusive podendo guardar alguns volumes de mantimentos para os anos que viriam.
                Percebeu a alegria e sinceridade do cachorro Guamá que veio deitar-se aos pés, esperando o afago. Sorriu com a folga daquele animalzinho, tão fiel e verdadeiro.
                Mas a luta não findara ali. Era hora de, terminado o período chuvoso, a partir daquele abril, abrir nova frente de serviço na fazenda. Consertar as cercas para o gado nã fugir, adquirir novos animais de trabalho e uma pequena e necessária reforma na casa simples que morava. Talvez agora desse para realizar o sonho de pintar a casa de branco.
                 Aos poucos a tarde se foi, trazendo o anoitecer. Depois do o filho mais novo trouxera o violão. Era hora de tocar ao seu modo, de forma singela canções da época, dobrados, valsas e o que de ouvido, conseguira aprender ouvindo o rádio. Canções de Bach, tocadas por suas mãos rudes e calosas. A esposa, o filho e alguns empregados da fazenda ali, em silenciosa e respeitosa atenção.
                Por algumas horas, o violão plangente dominou sonoramente o ambiente. Tendo como testemunha a família, os amigos, o belo céu estrelado e a lua crescente.
                Ao se recolher, Nezinho fez sua oração. Agradeceu ao Pai a bem aventurança da colheita. O resultado de seu trabalho. Trabalho árduo, incansável, mas plenamente recompensado.
                Enfim Nezinho adormeceu. E sonhou como o futuro cheio de alegrias, paz, serenidade e fartura.
                Sonhou acordar em nova manhã radiante e encontrar pela frente mais um dia. De trabalho árduo, como árdua era sua rotina. Mas feliz e pronto a enfrentar aquilo que a vida lhe trouxesse. E ainda viver bem consigo, com a família e ser feliz. Sempre!




                

3 comentários:

  1. Belíssima crônica!!!! É sempre um prazer e alegria ouvir todas as sextas no seresta na voz do sobreira tudo que que sai de seu coração e vai para a pontinha dos desdos. Amei

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  2. Paulo linda Crônica, linda família do Nezinho que planta e colhe amor! Grande poeta o dom que vc tem para escrever e tocar nossos corações com textos sempre grandiosos e de forma singela e natural é maravilhoso! Parabéns pelas Crônicas e por Seresta, saiba que vc nos proporciona momentos de puro prazer e alegria, com seu Blog e com Seresta na Rádio UFG. Felicidades a vc e Sobreira dois grandes incentivadores da Cultura. Abraço

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  3. Pois é né? Com tanta coisa bonita eu é que fico sem palavras. Aguardando o livro.
    Abraços.

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