Nezinho fita o horizonte
e com olhar distante, imerso em seus pensamentos demonstra se encantar diante
daquele belo entardecer, que leva os últimos raios de sol para cada vez mais
longe, pressupondo para breve o anoitecer...
Vê pequenos
fragmentos de nuvens brancas tardias, espalhadas e disformes naquela tarde.
Logo, darão lugar às estrelas e a uma bela lua crescente que está por vir. Lua
que em breve será cheia, bela, magnífica, dominando os céus.
A safra fora
generosa. Significa que a colheita foi farta. Que valeu a pena tanto
sacrifício, diversas vezes ter tomado chuva ou mesmo sob sol inclemente, quase
todos os dias, durante aquele período, ter cultivado a terra, carpido a roça,
plantado e cuidado com desvelo e esperança. O resultado estava na tulha e no
paiol cheios.
Esperanças
renovadas, certeza de que daria conta das obrigações assumidas e os sonhos
planejados poderiam se realizar. Que a família estaria segura, inclusive a
educação das filhas, que estudavam em colégio de freiras, distante da fazenda.
Havia a saudade, mas a certeza de futuro melhor aliviava o coração.
Nezinho nem
percebeu quando a esposa amada se aproximou, sobressaltando-se com sua voz.
Perguntava algo que ele respondeu ainda meio absorto com a beleza da tarde.
Sorriu ao vê-la se
aproximar. Tocou-lhe as mãos em suave e delicada caricia e se emocionou com sua
presença. “O que foi, Nego véio” ouviu ela dizer carinhosamente.
O velho rádio “ABC
- A Voz de Ouro” distante trazia um dolente fundo musical. Nezinho mesmo
permanecendo calado, encheu-se te ternura e sentiu carinho pela esposa e
companheira de lutas. Comentou que estava feliz com o resultado de tanto
trabalho, de tanta labuta na terra. Poderiam, na sequencia da vida, ter mais
tranquilidade e segurança, inclusive podendo guardar alguns volumes de
mantimentos para os anos que viriam.
Percebeu a alegria
e sinceridade do cachorro Guamá que veio deitar-se aos pés, esperando o afago.
Sorriu com a folga daquele animalzinho, tão fiel e verdadeiro.
Mas a luta não findara
ali. Era hora de, terminado o período chuvoso, a partir daquele abril, abrir
nova frente de serviço na fazenda. Consertar as cercas para o gado nã fugir,
adquirir novos animais de trabalho e uma pequena e necessária reforma na casa
simples que morava. Talvez agora desse para realizar o sonho de pintar a casa
de branco.
Aos poucos a tarde se foi, trazendo o
anoitecer. Depois do o filho mais novo trouxera o violão. Era hora de tocar ao
seu modo, de forma singela canções da época, dobrados, valsas e o que de
ouvido, conseguira aprender ouvindo o rádio. Canções de Bach, tocadas por suas
mãos rudes e calosas. A esposa, o filho e alguns empregados da fazenda ali, em
silenciosa e respeitosa atenção.
Por algumas horas,
o violão plangente dominou sonoramente o ambiente. Tendo como testemunha a
família, os amigos, o belo céu estrelado e a lua crescente.
Ao se recolher,
Nezinho fez sua oração. Agradeceu ao Pai a bem aventurança da colheita. O
resultado de seu trabalho. Trabalho árduo, incansável, mas plenamente
recompensado.
Enfim Nezinho
adormeceu. E sonhou como o futuro cheio de alegrias, paz, serenidade e fartura.
Sonhou acordar em
nova manhã radiante e encontrar pela frente mais um dia. De trabalho árduo, como
árdua era sua rotina. Mas feliz e pronto a enfrentar aquilo que a vida lhe
trouxesse. E ainda viver bem consigo, com a família e ser feliz. Sempre!
Belíssima crônica!!!! É sempre um prazer e alegria ouvir todas as sextas no seresta na voz do sobreira tudo que que sai de seu coração e vai para a pontinha dos desdos. Amei
ResponderExcluirPaulo linda Crônica, linda família do Nezinho que planta e colhe amor! Grande poeta o dom que vc tem para escrever e tocar nossos corações com textos sempre grandiosos e de forma singela e natural é maravilhoso! Parabéns pelas Crônicas e por Seresta, saiba que vc nos proporciona momentos de puro prazer e alegria, com seu Blog e com Seresta na Rádio UFG. Felicidades a vc e Sobreira dois grandes incentivadores da Cultura. Abraço
ResponderExcluirPois é né? Com tanta coisa bonita eu é que fico sem palavras. Aguardando o livro.
ResponderExcluirAbraços.