A cortina a abre e o palco, misterioso e encantador desnuda-se diante de
uma plateia ansiosa pelo que há de vir. Luzes intensas de variadas cores e
formatos ilustram o som da orquestra, que começa suave, tênue, para aos poucos,
evoluir e se tornar forte, vigoroso.
Sutilmente, uma bailarina entra em cena, evolui ao compasso da orquestra que,
regida por jovem e atento maestro, mostra a perfeita sintonia entre arranjos e
movimentos. A graça, a elegância, e o
sorriso firme e verdadeiro em seu rosto vai encantando, tornando aquele momento,
de muita técnica, dela e da orquestra, um suave e delicioso deslizar, qual voo
de beija-flor...
Súbito a música muda e um grande número de bailarinos e bailarinas entram
em cena. Uma musica alegre, misto de dança cigana e dança flamenca. A Espanha
se faz presente. O vigor e a alegria dos movimentos são valorizados pela beleza
do figurino que adorna corpos esculturais.
Na plateia, uma jovem senhora se emociona ao ver o sorriso das pequenas
bailarinas, que ora sentadas, ou em movimento, parecem ninfas a cuidar da heroína
da historia. Fica emocionada e sem que perceba, vai até a infância, ao seu tempo
de criança e adolescente, quando no antigo cinema da pequena cidade onde morava,
assistiu a um filme, em uma sessão de domingo, que contava a historia de uma bailarina.
E a partir daí, sonhou um dia ser bailarina.
Eis que a jovem senhora se viu no palco, sob as luzes do espetáculo,
acompanhada pelos bailarinos, recebendo a atenção dos acordes e arranjos da
orquestra, que tocava para ela. Tocava canções que embalaram seus sonhos de
menina-moça, sonhadora e ingênua.
A jovem senhora dançou e evoluiu naquele cenário de sonhos. Levitou e foi
feliz naquela ilusão, ainda que por breves instantes.
Foi despertada do seu torpor, ainda com o sorriso de bailarina no rosto,
pelas palmas e gritos de bravo, que ecoados da plateia atingiram seu coração. Bateu palmas acompanhando a todos, mas sentia que
os aplausos eram para ela. E o coração batia no ritmo daquelas palmas...
Era sonho, amor, lembranças. E saudade...
Ao voltar para casa, embora acompanhada de amigas, permaneceu calada, sob
o efeito da emoção vivida há pouco.
Ao lembrar que o espetáculo permaneceria em cartaz por mais alguns dias, resolveu
que viria novamente assisti-lo. Para na sua fantasia, entrar em cena, naquele
palco dos sonhos guardados e acalentados na infância.
Dançaria acompanhada pelas ninfas, seria cortejada pelo seu par bailarino
e acima de tudo, se emocionaria com as luzes, com os acordes da orquestra, com
a magia das canções e com o aplauso da plateia.
Ao voltar para casa, desta vez sozinha, a jovem senhora se sentia novamente
menina e agora bailarina. Foi feliz naqueles breves instantes de ilusão e fantasia.
Aplaudida pela plateia dos sonhos.