A advogada Luciana estranhou que Leda, uma jovem senhora que prestava
serviços como diarista em sua residência, nunca conseguia conferir direito o
dinheiro, quando ia receber pelo serviço. Ela notou isso desde a primeira vez,
mas para não constrangê-la, evitou comentar o assunto.
Até que um dia, em momento de conversa amena das duas, Leda disse que seu
grande sonho seria aprender a ler, escrever e contar. Luciana teve então a certeza
que sua suposição se confirmara. E refletiu: como é triste ver que em pleno século
21, quando a alta tecnologia domina o mundo, Leda, diarista, pessoa honesta e
trabalhadora, casada e mãe de dois filhos, não sabe ler, escrever e contar.
Luciana ficou pensativa e resolveu agir: sem dizer nada, montou um pequeno
kit com caderno, lápis, borracha, caderno de caligrafia e resolveu, de forma
educada e natural, perguntar se Leda queria concretizar seu tão almejado
sonho. Percebeu os olhos miúdos dela
encherem de lágrimas, mas ela disse que não teria tempo, e que aquilo seria algo
impossível para ela.
Luciana insistiu e não foi difícil convencê-la a tirar alguns momentos
nos dois dias em que ela fazia o serviço em sua casa. Só pediu a ela que, por enquanto,
não dissesse nada a ninguém, nem mesmo a seus familiares. Leda respondeu que um
dia tentou aprender, mas o esposo achava uma bobagem que ela aprendesse a ler,
a final, tinha que cuidar da casa e da família. Era um bom homem, muito
trabalhador, mas tinha esse pensamento retrógrado.
Passaram-se três meses, e ainda que no início tivesse alguma dificuldade,
aos poucos o mundo das letras e dos números foram se abrindo para Leda, que passou
e entender o significado daqueles símbolos – no inicio algo tão difícil – que agora, aos
poucos se tornavam algo cotidiano, como o é para milhares de pessoas. E ela até
se anima a ler “poesias”, dizendo ficar encantada com os belos poemas que
encontra nos livros dos filhos.
A atitude da advogada Luciana foi exemplar. Ela não fez nada mais que
“olhar em redor” e perceber o mundo que a cercava. Não fosse sua sensibilidade
e seu coração bom e generoso, Leda jamais teria tido contato com o mundo
maravilhoso das letras, dos números e dos livros. Hoje, a diarista confere o
dinheiro que é resultado de seu trabalho sem dificuldade e ainda se aventura
por viajar em versos e poemas, tão necessários à alma.
É preciso sempre olhar ao que está ao redor de nós. Pode haver mundos e
pessoas que tanto precisam da gente, às vezes de um pequeno start para serem
felizes.
Como dar um sorriso, um bom dia ou dizer “como vai?”, algo tão singelo e
fácil. Partilhemos aquilo que de bom existe em nosso coração e em nossas vidas.
Hoje, Leda acompanha as tarefas dos filhos e ainda ajuda o marido a
entender um pouco as palavras. Ela se sente muito mais feliz, e em seu sorriso
demonstra o quanto sua vida mudou para melhor. Antes era escuridão e hoje, tem
noção das coisas do mundo. E sequer precisa mais perguntar às pessoas no ponto
qual o numero do ônibus que vem.
Há sempre por perto muita gente precisando de nós. Desde algo maior, como
recebeu a jovem Leda, ou algo simples e não menos importante, com um carinho,
um abraço, um olhar fraterno. E assim, podemos compartilhar felicidade. Dividir
alegrias e tornar o mundo muito, mas muito melhor!
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