O homem magro, esquálido e com o dorso queimado pelo sol arrastou e empurrou
pela areia da praia, em um esforço sobre-humano, a pequena embarcação. Com
dificuldade conseguiu colocá-la na água, em direção às ondas do mar, que
naquele momento não estavam muito calmas ou amigáveis. Era uma embarcação
pequena, uma metade de jangada, com cerca de dois metros por um e meio, um
quase quadrado, onde ele subiu e passou a empurra-la em direção ao mar amparado
por uma imensa vara de bambu.
Parecia uma luta inglória. Eu mesmo cheguei apensar que ele não
conseguiria sair dali, afinal, as ondas eram altas e constantes. Mas, aos
poucos, com paciência e empurrando o bambu em direção ao fundo do mar, foi
lenta e vagarosamente alcançando seu objetivo.
Ao me aproximar percebi que ele buscava alcançar uma rede lançada na
água, a cerca de cem metros da praia. A pequena embarcação parecia não sair do
lugar, e algumas ondas que quebravam antes da praia, o jogavam para trás. Mas
nem assim, ele desistia. Aos poucos, com calma e manobrando o imenso bambu, que
além de impulsionar a embarcação servia para que ele se equilibrasse.
Chegando ao local almejado, ele verificou as redes, e a intervalos,
levantava e acenava positiva ou negativamente em direção á praia onde outro homem
parecia dar apoio a ele.
Após esse trabalho, hora de voltar. O local, embora tivesse ondas fortes
e constantes, não tinha grande profundidade, o que facilitava o manuseio do
imenso bambu. E ele repetiu a operação, e lentamente foi chegando,
chegando, até aportar na praia.
Fiquei reflexivo. Certamente aquele homem repetia aquela operação
cotidianamente, em todas as manhãs e com o resultado da pesca, garante o
sustento da família.
Para ele, navegar é preciso, mesmo enfrentando ondas fortes, insistentes
e nervosas, que dessa forma tentam impedir o deslocamento da frágil embarcação.
Ele, persistentemente, conseguiu seu objetivo, chegou até as redes que
horas antes colocara naquele pedaço de mar. Ante a imensidão ao oceano atlântico,
aquela era sua hora e na manhã de beleza e sol brilhante - talvez ele pouco
tenha tido tempo para perceber isso – importava que as redes estivessem
abarrotadas de peixes.
No outro dia, logo bem cedo, fui ao mesmo local, e percebi ele novamente
lá, desta feita, já manuseando e verificando as redes, como no dia anterior.
Parecia uma cena de filme que se repetia.
Diante do azul do mar se confundindo como azul do céu deixei-me ficar
ali, ouvindo o barulho das ondas que vez em quando vinham mais fortes e tocavam
meus pés. Ondas generosas, que embora
possam não parecer, garantem a vida de muita gente.
Navegar, é preciso... Viver é
preciso! E a vida é uma grande viagem, onde navegamos sobre ondas fortes e por vezes,
aparentemente insuperáveis, mas entre idas e vindas, saídas e chegadas,
cumprimos nossas metas e alcançamos nossos sonhos.
Hoje me vejo com quase meio século de vida, por vezes, lutando contra ondas
fortes e difíceis. Mas, como aquele homem da pequena embarcação, sigo em frente,
na busca da rede farta e da volta à praia, ao continente, com certeza de
missões cumpridas.
Tenho muitos sonhos por realizar! O
que me move e traz ânimo, são esses sonhos. Na minha inquietude, estou sempre
em busca deles. Assim, navegar é preciso.
Belíssima crônica! Amei.
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