Gabriel resolveu dar o ar da sua graça em uma noite de verão, quase
outono. Apressado, adiantou em alguns dias sua chegada, que estava prevista
mais para o final do mês. Depois de avisar que queria vir, seus pais Bruno e
Thais foram ao hospital e receberam a informação e confirmação do médico, Dr.
João Batista Alencastro, que ele chegaria ainda naquela noite.
Quando o meu telefone tocou e veio a noticia, corremos para a maternidade
e foi aquela espera, que de certa forma, era motivo de muita ansiedade.
Enquanto esperava, voltei no tempo, e me vi também em uma maternidade, enquanto
esperava a chegada de minhas meninas. A mãe do Gabriel, Thais, chegou também em
uma noite como essa, há quase trinta anos. Alline, a tia-coruja, preferiu chegar
em manhã de sábado, bela e ensolarada.
A ansiedade da espera do menino Gabriel foi a mesma de anos atrás. Andando
pra lá e para cá, sem muito assunto, apenas preocupado e rezando, pedindo a
Deus que ele viesse com saúde.
Eis que surge uma enfermeira trazendo cuidadosamente para o berçário o
pequeno anjo. Momento de expectativa e emoção incontida, de certeza que finalmente
estava entre nós o tão sonhado e esperado menino Gabriel.
Enquanto a enfermeira tomava as providencias pós-nascimento, Bruno, o
feliz e orgulhoso pai do Gabriel chega trazendo noticias da mãe, dizendo que
está bem e apenas finalizando os procedimentos inerentes ao parto.
Logo, ele vem para o berçário e podemos, e ainda que isolados por um vidro,
chegar bem perto e contemplá-lo. E ele a nos fitar com olhinhos negros e
brilhantes, como a perguntar quem somos e o que fazemos ali. Olhos brilhantes,
vivos, que passeiam de um lado para outro, como que reconhecendo o ambiente em que
acabara de chegar.
Assim, olhando naqueles olhos, me
vejo pensando no futuro com Gabriel. Não há duvida que ouviremos canções, que
nos emocionaremos com a perfeição das melodias dos Beatles, nos encantaremos
com poemas de Vinicius e Pessoa, ouviremos rock progressivo e pesado e iremos ao estádio ver
os jogos do Vila Nova.
Ah, haveremos também de nos permitir que, em madrugada, quase dia sentir
a emoção de ver quando a noite se vai e o dia se apresenta, com a madrugada
dizendo adeus e ao longe, no infinito, sinais do dia, que aos poucos irá se
tornar pequenos feixes de luz até que gradativamente o sol, pleno e imponente, venha
tomar conta. Sonhos e devaneios de avô.
Enquanto esse tempo não chega, será como hoje, em que durante todo o dia,
seja no trabalho, no trânsito ou onde que estivesse, fiquei a recordar a doçura
e a ternura que vieram daqueles olhinhos negros e brilhantes.
Que sua vida seja abençoada e muito feliz. Que seja muito bem vindo,
amado e querido Gabriel. Hei de tê-lo sempre dentro do coração. E entre momentos
de emoção e alegria, compor uma canção de amor. Uma canção de amor para Gabriel.
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