Do alto do oitavo andar, no apartamento onde mora o pequeno Gabriel, eu
observo uma pracinha, que fica em frente ao muro lateral do prédio. Uma pracinha muito agradável, com canteiros
de grama verde, e moitas de arbustos cobertos de flores, muito parecida com
aquelas das cidades do interior, de tempos idos. Pensei: ali só falta uma fonte
luminosa e o tradicional carrinho de pipocas.
Apesar do transito e do barulho intenso na avenida que passa em frente, percebo
que aos poucos vão chegando pessoas, famílias com crianças e seus cãezinhos de
estimação. Naquele finzinho de tarde de domingo – belíssima por sinal - fazia
um calor intenso e ir até um local aprazível como aquela praça, sem duvida
alguma constituía um agradável programa.
Enquanto a tarde caía deixei-me levar pela beleza da paisagem no
horizonte, o verde e de certa forma misterioso Vale do Rio Meia Ponte, nas
imediações do Clube Jaó. Aquele seria um lugar belo, mas a poluição do rio e a
especulação imobiliária afastaram as pessoas dali. Resta a contemplação de um
verde forte e belo, cortado por voos de pássaros irrequietos e raios de sol
vindos do poente, a iluminar a copa das arvores em um belo e majestoso espetáculo
da mãe-natureza.
Voltando a atenção à pequena praça, noto que o carrinho de pipocas não
veio, mas aportou por ali um rapaz e um menino, já grandinho, com cerca de dez
anos e começam a montar um brinquedo chamado pula-pula. Apesar de não ser
pequeno, o pula-pula era fácil montar, pois se encaixavam as peças e em pouco
tempo ficou pronto. Foi o bastante para o rapazola passar a se divertir fazendo
acrobacias, como a não estar nem aí para o mundo, para as preocupações
cotidianas da vida.
No cantinho da praça, em um pequeno banco um casal parecia viver
intensamente aquela tarde. Aparentemente
em silencio, de mãos dadas e alternando suaves caricias um no outro, pareciam
não ver o tempo passar, deixando a tarde calmamente acontecer, sem pressa.
Notei que chegaram dois casais, um deles acompanhado de uma linda menina de
vestidinho rosa, cabelinhos pretos amarrados com maria-chiquinhas. O outro
casal, muito jovem trazia um bebê nos braços. Começaram a travar animada
conversa e a pequena menina, de vestidinho rosa e cabelos pretinhos pôs-se a ir
de um lado para outro. Com passos trôpegos, ora ia em um arbusto e mexia nas
flores, ora ia para o lado do pula-pula, ou ainda se punha a acariciar um cachorrinho manso, que passava por ali conduzido por sua dona.
Entre um passeio e outro intercalava pequenas quedas, porém não se deixava
vencer, levantava e imediatamente se punha na direção que o nariz apontava em
busca do reconhecer o mais rapidamente possível aquele mundo que se apresentava
a ela. Me pareceu que ela descobrira há muito pouco tempo a maravilha de andar
e estava adorando isso tudo. Fazia uma grande festa a alegrava a todos que ali
estavam.
A tarde se foi e nos primeiros momentos da noite o chorinho suave do
menino Gabriel me trouxe de volta de minhas observações. Sorri feliz ao saber
que logo, daqui a poucos meses, o adorado Gabriel estará ali naquela pracinha,
fugindo juntamente com os pais do calor, a dar seus primeiros passos. Como a menininha
de cabelos pretinhos, a descobrir aquele mundo que se apresentará a ele, de
paz, de crianças felizes em uma tarde de harmonia, com alegria e felicidade. E
quem sabe assim que cansar, procurar o colo aconchegante e seguro de seu papai
ou de sua mamãe.
A visão de tudo que aconteceu naquela pracinha, em uma tarde quente e
bela encheu meu coração de alegria. Alegria de constatar que, apesar de todas
as mazelas do mundo, ainda existem pracinhas onde uma criança pode livremente
dar seus primeiros passos, com inocente e incontida alegria ao lado de pais e
amigos.
São as coisas boas da vida. Que dessa forma, é muito, mas muito boa,
de viver!