Às vezes, deixo-me levar pelos
embalar da vida e qual uma rede a balançar, e não percebo o tempo passar. É como
se estivesse em absoluta letargia e ainda que com a ocorrência das manhãs ou dos
maravilhosos entardeceres do outono passado e agora do inverno – sempre tão belos
–, simplesmente não mensuro o quão rápido o tempo se esvai, qual areia entre os
dedos das mãos.
Isso reflete em meu rosto, e as
poucas, brancas e desalinhadas cãs combinam bem com a barba – também branca –
que recobre minha face.
Entre os últimos meses do outono e
este inicio de inverno, o coração se voltou para outros rumos, que não a aparência.
As prioridades passaram a ser a vida, o ser e a fé de que tudo se restabeleça,
e volte à parâmetros rotineiros.
De repente tudo passa a ser a
partir de determinado ponto, de determinado momento. Parece que o antes, o
tempo passado e vivido se torna leve e suave lembrança, permeada de saudades de
bons e alegres momentos.
Passa a contar a partir de uma
madrugada fria de maio, quando por uma questão de minutos a vida permanece. A dedicação
de socorristas ante a cena que imaginava ser apenas de filme, passa a ser o real
e uma espécie de marco zero. É no instante
que se inicia uma luta ferrenha pela vida, luta esta amparada pela fé, pela
confiança inabalável no Médico dos médicos que norteia a perícia e sabedoria
dos profissionais de múltiplas áreas, que em equipe compartilham conhecimento e
exercem seu sacerdócio, buscando a saúde e o bem estar de quem tanto precisa deles.
E agora o tempo, senhor da razão
que é, passa a ser aliado. A cada movimento, por menor que seja, traz esperança
e aumenta a certeza de que em breve, se possa ouvir uma voz ou mesmo perceber
uma resposta consciente de que tudo pode ficar bem. Dessa forma os dias e noite
do inverno e tornam mais suaves, pois a esperança se amplia.
Voltando para mim, quanto às brancas
cãs em desalinho e à barba por fazer, penso que o que tenho de mais importante
é a essência, aquilo de bom que está contido em meu coração e que norteia meu jeito
de ser e de proceder.
Assim, continuar dando valor à coisas
aparentemente pequenas e quase imperceptíveis, mas que se olharmos mais detidamente,
são gigantes e muito mais importantes que questiúnculas, que sempre levam a lugar
nenhum.
Viver em paz e harmonia, se
permitir receber a brisa suave da manhã, acompanhada pela luz que vence a
escuridão e faz o dia perfeito, quase sempre com fundo musical executado por
gorjeios de pássaros.
É assim que tornamos melhor a vida,
o existir, o cotidiano... E assim, seguimos, assim caminhamos!
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