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Sou de uma geração que viveu momentos da história do país em que as
eleições não eram gerais e haviam senadores, prefeitos de capitais e
governadores nomeados e o presidente da república era escolhido por um colégio
eleitoral formado por deputados e senadores, a grande maioria do partido político
da situação, chamado Arena. Era o tempo de bipartidarismo e a oposição se
chamava MDB – não confundir com o atual, de Lobão, Jucá e similares.
Sou de uma geração que foi às ruas pedir eleições “diretas já” e viu
Tancredo Neves ser eleito indiretamente, para na madrugada do dia de sua posse
ser internado, vindo depois a falecer. Vimos José Sarney assumir a presidência,
convivemos com inflação galopante de 84% ao mês e vibramos com a promulgação da
constituição cidadã, hoje esfarrapada e vilipendiada.
Minha geração viu depois de muito tempo, um jovem político nordestino
ser eleito presidente da república pelo voto direto, mas não demorou viu a
juventude com a cara pintada de verde e amarelo ir às ruas gritar “Fora Collor”
e pedir pelo seu impeachment.
Minha geração viu um plano econômico dar certo, depois de tantos que
deram errado, acostumou-se a eleger pelo voto direto seus representantes nos
parlamentos e no executivo. Viu Itamar Franco passar a faixa presidencial a seu
sucessor, o ex-ministro FHC, que hoje no doce exilio de um apartamento
milionário em Paris se dedica a dar pitacos errados sobre o Brasil, além de defender
pelas redes sociais a liberação das drogas que aniquilam nossos jovens.
Minha geração viu um ex-operário ser eleito presidente, aproveitando os
rumos certos da economia vigente, o que levou o país a um tempo de crescimento.
Mas em razão da corrupção generalizada que ele e seu grupo aperfeiçoaram, o
Brasil foi à bancarrota e hoje temos milhões de desempregados e subempregados.
Sou de uma geração que em junho de 2013 foi às ruas em todos os estados
do Brasil protestando contra aumentos abusivos nas tarifas do transporte
coletivo – movimento que começou em Goiânia – e se tornou protesto contra a
corrupção e em apoio à Policia Federal e ao poder judiciário. Eram os tempos do
mensalão...
Presenciamos a ex-presidente Dilma ser cassada e logo depois, o mesmo deputado
que comandou o ato político que a retirou do poder ser cassado, condenado e
preso por corrupção.
Em 2018 o país elegeu presidente da república Jair Bolsonaro, ex-deputado,
capitão da reserva do exército brasileiro. Porém para nossa tristeza, até o
momento ele ainda não se deu conta do significado de sua eleição, tampouco dos
motivos que levaram o povo brasileiro a escolher seu nome para gerir os
destinos do país por quatro anos.
À época das eleições, Bolsonaro não era o melhor quadro que se apresentava,
mas o eleitor percebeu que seria o único capaz de agregar forças políticas e derrotar
uma bilionária organização criminosa. Sem surpresa, deu a ele pelas urnas o
mandato de presidente da república, com expressiva renovação na câmara dos deputados
e no senado federal.
O presidente monta seu governo e como ele mesmo admitiu, com figuras
inexpressivas. O primeiro ministro da educação, Vélez, o breve, foi indicado
por um certo astrólogo, vidente ou sei lá o quê, e rapidamente teve confirmada
sua inapetência total para o cargo. Sai Velez e veio outro, com fama de durão,
prometendo enquadrar os servidores públicos de sua pasta, bem como os alunos
das universidades e institutos federais país afora.
Novamente, a juventude, os estudantes vão às ruas contra atos do
governo que podem inviabilizar a educação, e eis que o ministro ataca e denigre
a imagem desses estudantes e professores que democrática e legalmente exercem
seu direito a protestar contra o que acham estar errado.
Curiosamente, o ministro da educação disse ter recebido cartas (cartas?)
de cidadãos indignados com a atitude dos jovens e de professores. Será que houve tempo para serem postadas, encaminhadas e entregues pelos correios? E em tempos de e-mails e WhatsApp, ainda há quem
escreva cartas? Aliás, o presidente recentemente mandou uma carta ao
congresso... Mas isso é para outra análise.
E sobre as críticas do mal-educado, incompetente e provavelmente futuro
ex-ministro da educação, ele há de convir que tem que se submeter às leis
vigentes do país, onde a liberdade de expressão e de livre manifestação ainda
estão na constituição.
E a minha geração que lutou por democracia e liberdade, bem como a que
aí está, não admitem que as universidades se transformem em madraçais do
pensamento um grupo político instável e desorientado.
Evolução na educação, sim! Liberdade e democracia, sim! Madraçais,
jamais.
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