sexta-feira, 28 de agosto de 2020

O RIO DE JANEIRO CONTINUA...



Imagem de Heiko Behn por Pixabay
 


Havia um tempo em que conhecer o Rio de Janeiro era sonho de dez entre dez brasileiros, e destino de turistas vindos do mundo inteiro. A “malandragem” carioca ficou de certa forma eternizada em quadrinhos de Walt Disney com o personagem Zé Carioca, com seu inseparável companheiro Nestor.

A malandragem romântica de Zé Carioca começou a ter outras formas. De malandragem pura passou a malandragem criminosamente explícita, nada romântica. O Rio de Janeiro foi a gênese de grupos que surgiram nos porões da ditadura que se perpetuaram e se tornaram facções, que geraram congêneres em outras regiões do país que hoje tem a mesma envergadura – ou maior ainda – e atua como um forte poder paralelo ao estado.

Em determinado momento da história do país, notadamente no século passado existiam dois Brasis: um, representado pelo Brasil do interior, que vivia sob as leis e o jugo dos coronéis, onde o estado só se apresentava para atrapalhar ou buscar para si, sem oferecer nada em troca; e outro Brasil, representado pela Corte real, imperial e depois republicana, situada no Rio de Janeiro, espécie de paraíso na terra e extensão da Europa por aqui, guardadas as proporções.

Mas, o Rio de Janeiro continua distante do país? Não é à toa que os últimos cinco governadores estão enrolados com a justiça – alguns, condenados a inúmeros anos de prisão. Mas, o que poderia explicar tamanho desgoverno no Rio de Janeiro, se a cada dois anos se pode escolher os governantes, seja para comandar os municípios ou o governo estadual? Seriam os cariocas incapazes de distinguir políticos capazes de incapazes, ou, honesto de desonestos?

Não podemos culpar somente o povo do Rio de Janeiro por tais escolhas. Escolher equivocadamente é um fenômeno que ocorre em todo o país, ou em muitos lugares do mundo.

O que assusta no estado cuja capital leva o título de “Cidade maravilhosa” é a frequência com que o desgoverno ocorre, os altos números da corrupção, o deboche representado por guardanapos na cabeça em restaurante caro de Paris, ou a situação cada vez mais precária de direitos, em teoria, constitucionalmente assegurados como acesso pleno à saúde, educação, justiça e liberdade de ir e vir.

A geografia privilegiou durante certo tempo o Rio de Janeiro. De onde se olha, ao longe, é realmente um cenário maravilhoso. Mas de perto, o Rio transborda sangue e tristeza com o crime organizado ocupando morros, florestas, avenidas e de certo tempo para cá, palácios.

Aparentemente, corrupção desenfreada vai vencendo e o crime organizado tomou conta de tudo. Há esperanças?

Estamos a poucos meses de uma nova eleição para prefeitos e vereadores e a pouco mais de dois anos de novamente eleger integrantes do congresso nacional e presidente da república. Portanto, é preciso começar já. Espera-se que o Rio de Janeiro, bem como todo o país, vote bem, sem cabrestos ideológicos ou em retribuição migalhas que serviram em alguns momentos para mitigar a fome.

Voto consciente, ainda que difícil, é necessário. Chega de político-bandido de estimação, que “rouba mas faz”. Se é bandido, ou rouba, tem que sofrer os rigores da lei, embora seja difícil – até impossível – político criminoso puxar cadeia hoje, pagando por seus crimes.

O Rio de Janeiro, como o Brasil, precisa ser maior que o crime organizado – embora este esteja enraizado nos diversos poderes – e começar a mudar esse estado de coisas é absolutamente necessário. Talvez “o Rio” seja hoje o estado de maior visibilidade do país e urgentemente precisa de paz. Paz que pode começar a novamente existir com o fim da corrupção.

Reflexão que também serve para todo o Brasil.