Imagem de Heiko Behn por Pixabay |
Havia um tempo em que conhecer o Rio de Janeiro era sonho de
dez entre dez brasileiros, e destino de turistas vindos do mundo inteiro. A “malandragem”
carioca ficou de certa forma eternizada em quadrinhos de Walt Disney com o
personagem Zé Carioca, com seu inseparável companheiro Nestor.
A malandragem romântica de Zé Carioca começou a ter outras
formas. De malandragem pura passou a malandragem criminosamente explícita, nada
romântica. O Rio de Janeiro foi a gênese de grupos que surgiram nos porões da
ditadura que se perpetuaram e se tornaram facções, que geraram congêneres em outras
regiões do país que hoje tem a mesma envergadura – ou maior ainda – e atua como
um forte poder paralelo ao estado.
Em determinado momento da história do país, notadamente no século
passado existiam dois Brasis: um, representado pelo Brasil do interior, que
vivia sob as leis e o jugo dos coronéis, onde o estado só se apresentava para
atrapalhar ou buscar para si, sem oferecer nada em troca; e outro Brasil,
representado pela Corte real, imperial e depois republicana, situada no Rio de
Janeiro, espécie de paraíso na terra e extensão da Europa por aqui, guardadas
as proporções.
Mas, o Rio de Janeiro continua distante do país? Não é à toa
que os últimos cinco governadores estão enrolados com a justiça – alguns,
condenados a inúmeros anos de prisão. Mas, o que poderia explicar tamanho
desgoverno no Rio de Janeiro, se a cada dois anos se pode escolher os
governantes, seja para comandar os municípios ou o governo estadual? Seriam os
cariocas incapazes de distinguir políticos capazes de incapazes, ou, honesto de
desonestos?
Não podemos culpar somente o povo do Rio de Janeiro por tais
escolhas. Escolher equivocadamente é um fenômeno que ocorre em todo o país, ou
em muitos lugares do mundo.
O que assusta no estado cuja capital leva o título de “Cidade
maravilhosa” é a frequência com que o desgoverno ocorre, os altos números da
corrupção, o deboche representado por guardanapos na cabeça em restaurante caro
de Paris, ou a situação cada vez mais precária de direitos, em teoria, constitucionalmente
assegurados como acesso pleno à saúde, educação, justiça e liberdade de ir e
vir.
A geografia privilegiou durante certo tempo o Rio de Janeiro.
De onde se olha, ao longe, é realmente um cenário maravilhoso. Mas de perto, o
Rio transborda sangue e tristeza com o crime organizado ocupando morros, florestas,
avenidas e de certo tempo para cá, palácios.
Aparentemente, corrupção desenfreada vai vencendo e o crime
organizado tomou conta de tudo. Há esperanças?
Estamos a poucos meses de uma nova eleição para prefeitos e
vereadores e a pouco mais de dois anos de novamente eleger integrantes do
congresso nacional e presidente da república. Portanto, é preciso começar já. Espera-se
que o Rio de Janeiro, bem como todo o país, vote bem, sem cabrestos ideológicos
ou em retribuição migalhas que serviram em alguns momentos para mitigar a fome.
Voto consciente, ainda que difícil, é necessário. Chega de
político-bandido de estimação, que “rouba mas faz”. Se é bandido, ou rouba, tem
que sofrer os rigores da lei, embora seja difícil – até impossível – político criminoso
puxar cadeia hoje, pagando por seus crimes.
O Rio de Janeiro, como o Brasil, precisa ser maior que o
crime organizado – embora este esteja enraizado nos diversos poderes – e
começar a mudar esse estado de coisas é absolutamente necessário. Talvez “o Rio”
seja hoje o estado de maior visibilidade do país e urgentemente precisa de paz.
Paz que pode começar a novamente existir com o fim da corrupção.
Reflexão que também serve para todo o Brasil.
Nenhum comentário:
Postar um comentário