Imagem retirada da internet. |
A partida do sertanejo – outrora "cantor internacional" de estilo romântico – Chrystian me faz ir
a diversos e marcantes instantes da vida.
Desde a adolescência, na pequena e querida São Miguel do Araguaia até momentos de começo de vida a dois, em pequenas e agradáveis viagens no primeiro carro – um fusca 1977 – com minha pequena filha que em sua alegria e felicidade de criança curtia os movimentos da estrada, e logo adormecia no banco de trás.
Na
pequena e saudosa São Miguel do Araguaia, antes da explosão da MPB de Zé Ramalho, Amelinha,
Zé Geraldo, Belchior e outros, ouvíamos canções românticas “internacionais” do
Grupo ABBA, Bee Gees, The Marmelade, Afrodite’s Child e de uma leva de
cantores que cantavam em inglês, que depois soube-se que eram brasileiros.
Esta
estratégia foi um investimento da indústria fonográfica do Brasil e países
latino-americanos que deu certo. Cantores como Morris Albert, Terry Winter,
Pete Dunaway, Steve Maclean, Michael Sullivan fizeram grande sucesso. Alguns ficaram
pelo caminho, praticamente no anonimato, pois contratualmente sequer podiam cantar
em português utilizando seu nome artístico. Mas alguns continuaram e se
consagrariam em suas carreiras, como Fábio Júnior, Jessé e Chrystian (ao lado
do irmão Ralf).
As
canções em inglês que Chrystian cantava fizeram parte de minha adolescência. Era
momento de descobertas, de início e de vivência de emoções. O coração começava
a dar seus primeiros passos em afetividade e amor. Impossível não lembrar dos
bailinhos de sábado à noite onde timidamente dançava-se de rosto quase colado
com aquela menina que causava batidas mais fortes no coração.
Ou
das serenatas feitas com toca-fitas nas janelas das pretendidas que quase sempre
eram motivo de comentários, além de suaves e ternos sorrisos direcionados quando das reuniões do grupo de jovens no Salão Paroquial,
após a missa das manhãs de domingo.
Chrystian
gravou baladas de fácil tradução, com letras que traziam histórias, decepções (Lies
é um exemplo) que caiam bem aos ouvidos e enlevavam a alma.
O
tempo passou e em uma manhã de domingo do ano de 1983, no programa
Som Brasil da Rede Globo – durante muitos anos, ao lado da Fórmula 1, audiência
obrigatória dos brasileiros – vejo o Mestre Rolando Boldrin anunciar uma nova
dupla: Chrystian e Ralf, O primeiro eu reconheci, mas o segundo não, embora depois
eu soubesse que ele também fizera parte do grupo de cantores de sucesso “estrangeiros”
dos anos 1970.
A
afinação da dupla era algo de extraordinário e a carreira explodiu em incomparável
sucesso, em grandes momentos da música sertaneja que à essa época já tinha
ares de modernidade tecnológica e artística. Milhões de discos vendidos, shows em
todo o Basil, na Europa e nos Estados Unidos da América.
Para
mim, algumas canções da dupla se tornaram icônicas. Nova Iork, de 1989 (Essa é
a história de um novo herói...), a emocionante e profunda Mia Gioconda (1996) uma
regravação de um clássico de Vicente Celestino, originalmente gravada em 1946 e
que fez parte da novela O Rei do Gado da Rede Globo, que tinha como protagonistas Antônio Fagundes,
Patrícia Pilar, Raul Cortez e Glória Pires. E o
clássico poético-musical de Chico Buarque e Pablo Milanés Yolanda – que chamo à atenção para o registro em DVD, facilmente encontrável no YouTube, em que eles são acompanhados por uma orquestra.
Nesse
momento de tristeza e despedida de um artista, impossível não recordar as
viagens no velho e eficiente Fusca, em direção ao norte goiano. Quando
parávamos nos postos de combustível ou lanchonetes à beira da rodovia, de
imediato vendedores ambulantes ofereciam fitas cassete gravadas. E dentre estas fitas,
sempre havia uma de Chrystian e Ralf, e a canção preferida era Nova Iork.
“Essa
é a história, de um novo herói...” Ou: “Tinha um sonho: ir pra Nova Iork, levar
a namorada...”
Descanse em paz, Chrystian!
Obrigado por sua arte e talento!
Que bela homenagem! E ótima crônica.
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