terça-feira, 11 de março de 2025

11 DE MARÇO

 



Há exatos 43 anos, em uma manhã ensolarada e quente de verão, eu chegava à metrópole de concreto e asfalto. Naquele onze de março de 1982, trazia comigo, além da pesada mala que mal dava conta de carregar, sonhos, desejos de conquistas e o alcance de vitórias.

Vinha acompanhando meu irmão, que já morava por aqui há bastante tempo e trabalhava nos Correios. Lembro que a viagem fora longa, agravada por um problema mecânico no ônibus, por isso, chegamos aqui por volta de dez horas da manhã. Conhecedor da cidade, meu irmão optou por desembarcar do ônibus na Avenida Independência, esquina com a Avenida Goiás para ganhar tempo, pois tinha que trabalhar naquele dia e antecipando o desembarque, poderia minimizar o atraso.

Assim que iniciamos a subida da Avenida Goiás, comecei a sentir o peso da mala e da mochila que trazia, que se juntava ao cansaço da viagem, da noite insone e à ansiedade antes as expectativas que ali começavam a se formar.

Eu ainda não tinha completado 16 anos, e ao deixar a casa paterna, sabia das responsabilidades que a partir dali teria que assumir: cuidar de mim mesmo, administrar a própria vida longe do conforto e da segurança da casa paterna, diante de um mundo que ainda não era o meu, e que se mostrava quase sempre impiedoso e cruel.

Mas este mesmo mundo difícil e desumano era o que me daria oportunidades e chances de alcançar meus sonhos e objetivos de vida. Estudar, adquirir conhecimento, trabalhar o suficiente para me manter logo nos primeiros meses e assim consolidar minha vinda para a metrópole, a capital do estado, onde tudo acontecia.

Era 1982, e vivíamos momentos intensos, de transição política com a busca pela redemocratização do país, com eleições diretas e livres em todos os níveis. Em Goiás, o advogado e ex-prefeito Iris Rezende Machado despontava como favorito para as próximas eleições no ano seguinte, em 1983 – a primeiras diretas para governador em muitos anos.

  Demorou, mas chegamos à pequena edícula, situada na Rua 3, esquina com a Rua 24 no centro. Um lugar simples, mas acolhedor, suficiente para o abrigo necessário aos meus primeiros passos por aqui. Havia apenas uma cama, e nestes primeiros momentos, eu teria que dormir sobre um tapete – o que não me assustou.

Meu irmão, após um banho rápido, foi para o trabalho, me deixando ali, sozinho. Diante do cansaço, ainda tive tempo para ligar um rádio e ouvir pela primeira vez o som limpo e cristalino de uma emissora de FM. Eram três, à época, aqui em Goiânia: RBC (Brasil Central) FM, Araguaia FM e Musical FM. Em um curto espaço de tempo, viriam outras, mas àquela época, eram somente estas as opções no dial.

Deitado no tapete, com o coração repleto de saudades de casa, dos meus pais, do meu canto, dos amigos, mas cheio de esperanças, ainda demorei a adormecer. O calor era forte, e ainda estávamos no verão, quente. Logo viriam outono, e inverno. E a primavera, embora distante, era certa.

E ao som de canções no rádio FM, sem perceber, adormeci e claro, sonhei. Sonhei com meu futuro de trabalho, buscas, batalhas e conquistas, com alegria, felicidade e realizações.

O que se confirmou.

Obrigado, Goiânia. 


#Travessia

       

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