Há
exatos 43 anos, em uma manhã ensolarada e quente de verão, eu chegava à
metrópole de concreto e asfalto. Naquele onze de março de 1982, trazia comigo,
além da pesada mala que mal dava conta de carregar, sonhos, desejos de conquistas
e o alcance de vitórias.
Vinha
acompanhando meu irmão, que já morava por aqui há bastante tempo e trabalhava
nos Correios. Lembro que a viagem fora longa, agravada por um problema mecânico
no ônibus, por isso, chegamos aqui por volta de dez horas da manhã. Conhecedor da cidade, meu irmão
optou por desembarcar do ônibus na Avenida Independência, esquina com a Avenida Goiás para
ganhar tempo, pois tinha que trabalhar naquele dia e antecipando o desembarque, poderia
minimizar o atraso.
Assim
que iniciamos a subida da Avenida Goiás, comecei a sentir o peso da mala e da
mochila que trazia, que se juntava ao cansaço da viagem, da noite insone e à ansiedade antes as expectativas que ali começavam a se formar.
Eu ainda não
tinha completado 16 anos, e ao deixar a casa paterna, sabia das
responsabilidades que a partir dali teria que assumir: cuidar de mim mesmo, administrar a própria vida longe do conforto e da
segurança da casa paterna, diante de um mundo que ainda não era o meu, e que se
mostrava quase sempre impiedoso e cruel.
Mas
este mesmo mundo difícil e desumano era o que me daria oportunidades e chances
de alcançar meus sonhos e objetivos de vida. Estudar, adquirir conhecimento,
trabalhar o suficiente para me manter logo nos primeiros meses e assim
consolidar minha vinda para a metrópole, a capital do estado, onde tudo
acontecia.
Era 1982, e vivíamos
momentos intensos, de transição política com a busca pela redemocratização do país, com eleições diretas e livres em todos os níveis. Em Goiás, o
advogado e ex-prefeito Iris Rezende Machado despontava como favorito para as
próximas eleições no ano seguinte, em 1983 – a primeiras diretas para
governador em muitos anos.
Demorou, mas chegamos à
pequena edícula, situada na Rua 3, esquina com a Rua 24 no centro. Um lugar
simples, mas acolhedor, suficiente para o abrigo necessário aos meus primeiros
passos por aqui. Havia apenas uma cama, e nestes primeiros momentos, eu teria
que dormir sobre um tapete – o que não me assustou.
Meu
irmão, após um banho rápido, foi para o trabalho, me deixando ali, sozinho.
Diante do cansaço, ainda tive tempo para ligar um rádio e ouvir pela primeira
vez o som limpo e cristalino de uma emissora de FM. Eram três, à época, aqui em
Goiânia: RBC (Brasil Central) FM, Araguaia FM e Musical FM. Em um
curto espaço de tempo, viriam outras, mas àquela época, eram somente estas as
opções no dial.
Deitado
no tapete, com o coração repleto de saudades de casa, dos meus pais, do meu
canto, dos amigos, mas cheio de esperanças, ainda demorei a adormecer. O calor
era forte, e ainda estávamos no verão, quente. Logo viriam
outono, e inverno. E a primavera, embora distante, era certa.
E ao
som de canções no rádio FM, sem perceber, adormeci e claro, sonhei. Sonhei com
meu futuro de trabalho, buscas, batalhas e conquistas, com alegria, felicidade
e realizações.
O que
se confirmou.
Obrigado, Goiânia.
#Travessia
Parabéns, vc é merecedor de seus sonhos realizados
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