O mestre e imortal Adalberto de Queiroz,
na primeira segunda-feira deste novembro nos brinda com uma belíssima
crônica em O Popular, cujo chamativo título é “Como abandonar um gato”.
            E, quando se lê sobre “gatos”, é natural
uma busca nos recônditos, em uma visita aos escaninhos da saudade dos tempos da
infância, onde naturalmente todo menino teve convivência com um desses acolhedores
animais, muitos com fama de “marrento”, mas que
raramente dispensam um bom carinho, ou um bom colo.
            Da minha infância, lembro que tivemos
gatos somente na saudosa e querida Fazenda Nova América, onde o gato tinha uma
função altamente necessária, com destaque para a captura e afastamento de
roedores, que volta e meia apareciam. E os gatos justificavam o ditado que “Casa
onde tem gato, não béra rato...”. Quando meu pai vendeu a fazenda e mudamos
para a cidade, não tivemos mais nenhum, pois ele entendia que ali não eram
necessários. 
            Os nomes dos animais da fazenda eram
uma atração à parte. Os cachorros, eram Veludo, Guamá, Jaguar, Rompe-Ferro, (que
eu chamava de Runferro), Jagui, Troi... Os cavalos eram Vencedor, Mereba, Qual...
E dos gatos, eu me lembro de Marujo e Pixurica. 
            Um que fez história foi Zorra, criado
com todo cuidado pela minha saudosa Tia Mirian, a quem carinhosamente
chamávamos de “Titia”. Não sei o porquê de Zorra, e não Zorro.
            Titia era a filha mais nova de meu
avô, e por ser desde criança, merecedora de cuidados, face à saúde frágil,
nunca se casou. Era a grande amiga dos sobrinhos, que respeitosa e
carinhosamente a procuravam para ouvir conselhos e histórias. Meu pai falava que ela teve um grande amor na
vida, mas seguiu sem concretizar este romance.
            Zorra era enorme, de pelagem totalmente
branca e cheio de manias. Tinha um miado grave, era bem arisco e convivia bem
com outro animal da casa, o esperto e também branquinho Trouxinha, um cachorrinho de porte médio e bom para latir. Creio
que somente Titia tinha “permissão” para acarinha-lo. Zorra, embora fosse
castrado e já idoso, um dia desapareceu, para imensa tristeza de Titia.
            Passado muito tempo, um gato marcou
também, desta vez para mim e minha filhas. Um belo dia, chego em casa e vejo um
gatinho frágil, branco e amarelo, com cara de coitado. Sensibilizado pelas meninas,
optei por permitir que fosse adotado, e como todo pai, disse “desde que elas
cuidassem dele”. Em homenagem á dupla Sandy e Júnior, que fazia muito sucesso à
época e que minhas filhas tanto gostavam, deram a ele o nome de Júnior.
            Júnior foi crescendo e logo, como a
natureza não se manifestava, as meninas entenderam que era “Sandy”, mas não
demorou muito e constatarem que não, era mesmo Júnior.
            Como todo gato, Júnior era folgado,
manso, lerdo até, mas gostava de um carinho. Raramente entrava dentro de casa,
creio que depois que foi expulso do quarto de minha filha, que ao chegar da
escola o encontrou no terceiro sono sobre sua cama, ou, pior ainda, sobre seu
travesseiro.
            Se relacionava bem com as cadelas de
casa, e chegava a mamar nas tetas da Sacha, que mansinha, permitia que ele se
deitasse sobre ela e tirasse ali seu cochilo. Quase sempre era interrompido
quando Sacha, de maneira brusca, se levantava rapidamente e ia latir com alguém
que se aproximava do portão de casa.
            Em uma tarde quente, ao chegar do
trabalho, notei que Júnior não estava. Por alguns dias, procuramos saber na
vizinhança, mas nunca mais tivemos notícias.
            E até hoje, em nossas prosas de fim
de semana, lembramos com saudade do Júnior. 
            


Que bela crônica! E que texto legal!
ResponderExcluir