segunda-feira, 26 de setembro de 2011

O PORQUÊ DE ESCREVER E CONTAR HISTÓRIAS

Era muito criança quando ganhei de presente de minhas irmãs meu primeiro livro. Não era bem um livro de histórias, um romance – até porque eu ainda não sabia ler – mas um livro de histórias em quadrinhos muito colorido, de um super herói pra lá de esquisito, mas que pela forma, pelas cores e pela novidade fez com que me encantasse.
Passados poucos anos ainda na infância, aprendi a ler. Foi uma descoberta, uma transformação. As pessoas ficavam admiradas ao ver aquele pirralho a decifrar placas de lojas comerciais, revistas, livros.
Na Fazenda Nova América havia uma pequena escola rural, mantida por meu pai, onde estudavam os filhos dos agricultores da vizinhança. Foi ali que dei meus primeiros passos com os livros. Nas tarefas de leitura, eu era sempre o primeiro a querer apresentar meus conhecimentos, para que me fosse tomada a lição do dia.
Lia com imensa satisfação e prazer os livros de História Geral e do Brasil que meu pai possuía. Viajava ao mundo da civilização grega, da civilização romana e me encantava com as realizações daquele povo.
Adolescente, ganhei uma coleção de livros intitulada “Para gostar de ler”. Eram crônicas escritas por Paulo Mendes Campos, Rubem Braga, Fernando Sabino e o grande Carlos Drummond de Andrade. Viajava nas pequenas historias contadas de forma inteligente, divertida e genial.
Conheci os clássicos brasileiros, de Alencar a Machado de Assis, de Raul Pompéia a Jorge Amado, passando pela magnitude da obra do José Mauro de Vasconcelos. Aliás, durante muito tempo o meu livro de cabeceira onde abria para ler ou reler em qualquer página, foi o singelo e belo “Vamos aquecer ao Sol”. Impossível não me identificar dom o menino Zezé, com seu sapo imaginário chamado Adão, que morava em seu peito, em seu coração. Com o sonho do menino que adotara como pai o ator Maurice Chevalier, de quem recebia visitas constantes e o chamava de “monpti”. Tudo isso apenas nos sonhos e em sua mente de criança.
Depois de algum tempo conheci a beleza da poesia de Cora Coralina, a menina Aninha dos becos e ladeiras de Goiás Velho e da Fazenda Paraíso. Veio junto com a sutileza e sabedoria dos escritos de Carmo Bernardes, cuja obra completa fiz questão de conhecer.
Lia as crônicas dos jornais diários daquela época. Havia mais jornais do que hoje. Assim, conheci João Bênnio, cujas estórias sobre os acampamentos do Rio Araguaia divertiam bastante. Também o maravilhoso Jean Pierre Conrad, que escrevia com inigualável conteúdo poético as coisas simples do nosso dia-a-dia. Coisas simples e belas.
Sobre o Jean Pierre, a quem chamamos apenas de Pierre, tenho uma recordação interessante. Um dia, nos corredores de uma empresa onde ele trabalhava me apresentei como seu leitor, não obtendo muita atenção do mesmo. Ainda assim afirmei taxativamente a ele: “suas crônicas são uma beleza”. Ele virou as costas despedindo-se rapidamente. Depois fui saber que o mesmo enchera os olhos de lágrimas pelo reconhecimento de sua arte.
Já adulto segui lendo Luiz de Aquino, cuja poesia forte e intensa trouxe momentos como “Direi esta noite das coisas que sinto e que às vezes doem…” ou “não sei se te faço um poema ou se te mando à merda”. Nesta época me aventurei a escrever minhas primeiras poesias. Ainda as guardo em folhas de papel amarelado pelo tempo e também nos escaninhos do coração.
Faz algum tempo que me meti a escrever crônicas. De forma simples e até atrevida, às vezes consigo enxergar detalhes do cotidiano, momentos, pessoas, situações. Como na história da pequena Simone, menina adolescente que vende balas nos semáforos da cidade. Emocionava-me todos os dias quando passava por ela, naquele momento, àquela hora da manhã a lutar pela vida. Poderia estar em sua casa embalando seus sonhos de menina-moça, em um colo de avó ou mesmo na escola desenhando nas letras da vida seu futuro.
Não tenho a pretensão de ser comparado ou me igualar, pois sequer chego perto da qualidade dos autores que citei acima. Mas apesar da minha insignificância, deixarei meus escritos como prova da minha vida, da minha existência.

2 comentários:

  1. Nosso querido escritor goiano, Paulo Rolim; Sua arte, suas crônicas e belas histórias tão bem escritas, já estão fincadas em nossos corações e mentes! Você simplesmente existe pra todos nós goianos! Abraço fraterno!!! Reinaldo Bueno

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  2. Cara, ler suas crônicas nos da sabedoria, e de tal forma nos da um nó na garganta, as vezes meus olhos enchem de agua como aconteceu ao ler a ultima que você escreveu. Você faz lembrar nossa infancia que foi simples mas rica em leldade como nosso pai sempre nos cobrava. Um beijo com carinho do mano que te admira sempre.

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