sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

CARNAVAL... DA INFÂNCIA E DE HOJE

A primeira vez que fui a uma matinê de carnaval – digo matinê, pois tinha perto de cinco anos de idade – foi na querida e saudosa São Miguel de minha infância. Foi de forma um tanto quanto casual.
    À época, morávamos ainda na Fazenda Nova América e meus pais foram visitar meus Tios Cazuza e Justina que moravam a algum tempo na cidade. Tia Justina desdobrava-se cuidando da casa e dos filhos e o Tio Cazuza tinha um pequeno curtume e uma artesanal fabrica de calçados.
    O pequeno curtume do Tio Cazuza era um mundo à parte. Era interessante ver como funcionava, desde quando chegava o couro “verde” diretamente do açougue, até a fase final, quando ficavam por algum tempo estirados ao sol, para que ficassem secos. Secavam, mas mantinham-se macios, resultado do excelente tratamento que recebiam.
Não havia nenhum, produto químico industrializado, mas única e exclusivamente cascas de diversas espécies de madeira. Cobriam totalmente as peças de couro, que ficavam dentro de uma espécie de tanque, imersas em água. Diariamente movimentavam-nas e mudavam de tanque, para que houvesse o contraste entre os efeitos das diversas cascas que faziam com que o couro se tornasse maleável o necessário para a confecção de diversas peças de calçado.
    Quando prontos se transformavam pelas mãos hábeis e pacientes do Tio Cazuza em belos calçados, masculinos ou femininos, que fabricava desde botas grandes e utilizadas por boiadeiros até o mais suave e delicado par de sandálias femininas. Os itens mais vendidos eram as botinas rangedeiras e as alpercatas, muito utilizadas pelos nordestinos que viviam na região.
    Voltando ao carnaval, nessa visita de meus pais coincidiu com a data festiva e minha irmã Francisca não quis perder a oportunidade. Havia uma matinê em um clube social quase ao lado. Vestido com estava de repente me vi “maquiado” por suas mãos delicadas, com um imenso bigode e uma barba quase rala, a pontear pelo meu queixo de menino.
    Confesso que adorei a tal matinê. Era um mundo diferente, de sons e cores, com uma banda alegre que tocava efusivamente marchinhas e sambas daquela época. Saí dali maravilhado e esperando que logo tivesse outra oportunidade como aquela.
    Essa tarde nunca saiu de minha memória, de minhas reminiscências. Vez por outra ao ouvir certas canções, volto àquele tempo. Tempo tão bom da infância.
    Hoje quando chega o carnaval, busco me refugiar em lugares mais bucólicos e calmos, como a Fazenda do Tio João. Vou em busca de sossego, canto de pássaros, céu estrelado e madrugadas acolhedoras.
    Mais tarde, fazer doces na quase centenária fornalha. Doces de goiaba, de leite com pau de mamão, ou simplesmente, reunir mais alguns amigos e em alegre e ruidoso mutirão, fazer aquela pamonhada.
    A Fazenda do tio João me espera. Com sua costumeira alegria e hospitalidade. Será bom rever aquele lugar. Onde meu coração se fortifica e viaja aos alegres momentos da infância querida.

Um comentário:

  1. Boas lembranças! Bons tempos! Sem violências e sem as terríveis drogas que assolam nossos jovens, hoje em dia, nas festas de carnaval.
    A fazenda do seu querido Tio João o espera! Vá, Guerreiro_Escritor! Aproveite e volte em paz!
    Abraços,
    Reinaldo Bueno

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