Assim que me levantava
da cama, logo cedinho, instintivamente buscava a presença de minha mãe.
Normalmente a encontrava próximo ao fogão de lenha, mexendo nas panelas,
atiçando o fogo e cuidando dos afazeres da lida domestica. Ao me ver, e dar sua
bênção – “Deus te faça feliz” – cuidava logo que eu fosse me alimentar,
sentadinho na pequena mesa que ficava na sala contígua à cozinha. Enquanto arrumava
meu lanche matinal, composto de cuscuz com nata e uma xícara de leite, encontrava
tempo e carinho para um abraço e um beijo de ternura, a desejar: “tenha um bom
dia, filho”.
Àquela hora meu
pai já havia saído para a roça. Ia bem cedo para aproveitar o ar mais fresco da
manhã, pois logo o sol ficava quente e implacável, tornando o trabalho na roça muito
difícil, fatigante e estafante.
Eu
ia em busca de meu mundo de criança. Brincava horas e horas sozinho no amplo
quintal que ficava nos fundos da casa, sob a fronde das imensas mangueiras. Ali
passava meu tempo em brincadeiras solitárias, com pequenos pedaços de ossos que
viravam bois e novilhos; os maiores eram os marruás. Mamãe, apesar de me deixar
á vontade permanecia sempre vigilante, com os olhos em mim para evitar que eu
fosse para longe ou brincasse perto do córrego que passava nos fundos, local
segundo ela, perigoso.
Mas eu não
teimava, era bonzinho e obedecia sempre. Depois do almoço, quando ela ia para o
córrego lavar roupas eu a acompanhava. Levava meus cacos de ossos e ali formava
outra fazenda, outra boiada imaginaria. Às vezes ficava parado, apenas ouvindo
as canções que mamãe entoava. Viajava
naquelas letras tristes, dolentes. Depois eu ia para casa, enquanto minha mãe
tomava seu banho em local reservado, no pequeno riacho.
Logo meu pai
chegava e descíamos juntos para o banho. Vinha queimado de sol, calado, fatigado,
mas com o semblante sempre sereno. Ao deslizar na água fria do pequeno riacho
ele deixava ali o cansaço do dia, cansaço da difícil e impiedosa labuta, sempre
no cabo da enxada, da foice ou do machado.
Ao voltar para
casa encontrava minha mãe sentada na pequena calçada de chão batido, amparada
em grossos troncos de madeira. Na sala, ouvia-se o som da Ave Maria, no velho
radio ABC – a Voz de ouro. O sol preparava-se para se esconder e mandava seus
últimos sinais de luz naquele dia.
Nessa hora mamãe cuidava e penteava seus
longos e negros cabelos. Presos durante o dia ali eles apareciam como de fato
eram, imensos e belos. E eu já de roupa limpinha ficava por perto, observando.
De repente, eu corria até o pé de açucena e voltava com as
mãos cheias de flores, de suave perfume. Era o bastante para merecer ternos
abraços e carinhosos beijos.
Mudamos da fazenda
para a cidade. Papai trocou a roça por um pequeno comercio e minha mãe cuidava
da casa. Minhas responsabilidades vieram, aumentaram e fui estudar em um grupo
escolar ali perto.
Foi quando conheci
de fato as comemorações do dia das mães. Na minha infância na Fazenda Nova
America sabia que havia um dia das mães, mas na escola da cidade, a data era
muito lembrada e valorizada.
E em um segundo
domingo de maio, na pequena igreja matriz da cidadezinha onde morávamos fizeram
uma linda homenagem às mães. Ao fim da missa, distribuíram rosas às mães presentes
e o coral entoou uma canção que nunca esqueci. Canção que afirma “ficar sempre
um pouco de perfume nas mãos que oferecem rosas”.
Nesse momento,
emocionado, eu me lembrava das flores de açucena que entregava à minha mãe,
naquelas tardes tranqüilas da Fazenda Nova America.
E hoje, ao reviver tudo isso sinto que
embora nas mãos o perfume não tenha ficado, no meu coração e na minha saudade,
está sim muito presente.
Às mamães, um
terno e Feliz Dia das Mães.
Nosso escritor goiano expos seu sentimento mais puro ao escrever sobre a senhora sua mãe! Merecida e bela homenagem a sua e a nossas mães! Obrigado, escritor goiano Paulo Rolim.
ResponderExcluirSeu fã e amigo Reinaldo Bueno
Lindo e primoroso texto!
ResponderExcluirBelíssima homenagem às mães, carregada de sentimentos e nostalgia...
Parabéns, Paulo Américo Rolim!
E parabéns a todas as mamães!!!
Paulo lindo texto, cheio de vida, emoção e nostalgia. Mãe ser Divino!
ResponderExcluirVoltei ao meu passado.... linda... amei ler,,,
ResponderExcluirVoltei ao meu passado.... linda... amei ler,,,
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