sexta-feira, 11 de maio de 2012

DIA DAS MÃES: SAUDADE...



                Assim que me levantava da cama, logo cedinho, instintivamente buscava a presença de minha mãe. Normalmente a encontrava próximo ao fogão de lenha, mexendo nas panelas, atiçando o fogo e cuidando dos afazeres da lida domestica. Ao me ver, e dar sua bênção – “Deus te faça feliz” – cuidava logo que eu fosse me alimentar, sentadinho na pequena mesa que ficava na sala contígua à cozinha. Enquanto arrumava meu lanche matinal, composto de cuscuz com nata e uma xícara de leite, encontrava tempo e carinho para um abraço e um beijo de ternura, a desejar: “tenha um bom dia, filho”.
                Àquela hora meu pai já havia saído para a roça. Ia bem cedo para aproveitar o ar mais fresco da manhã, pois logo o sol ficava quente e implacável, tornando o trabalho na roça muito difícil, fatigante e estafante.
             Eu ia em busca de meu mundo de criança. Brincava horas e horas sozinho no amplo quintal que ficava nos fundos da casa, sob a fronde das imensas mangueiras. Ali passava meu tempo em brincadeiras solitárias, com pequenos pedaços de ossos que viravam bois e novilhos; os maiores eram os marruás. Mamãe, apesar de me deixar á vontade permanecia sempre vigilante, com os olhos em mim para evitar que eu fosse para longe ou brincasse perto do córrego que passava nos fundos, local segundo ela, perigoso.
                Mas eu não teimava, era bonzinho e obedecia sempre. Depois do almoço, quando ela ia para o córrego lavar roupas eu a acompanhava. Levava meus cacos de ossos e ali formava outra fazenda, outra boiada imaginaria. Às vezes ficava parado, apenas ouvindo as canções que mamãe entoava.  Viajava naquelas letras tristes, dolentes. Depois eu ia para casa, enquanto minha mãe tomava seu banho em local reservado, no pequeno riacho.


                Logo meu pai chegava e descíamos juntos para o banho. Vinha queimado de sol, calado, fatigado, mas com o semblante sempre sereno. Ao deslizar na água fria do pequeno riacho ele deixava ali o cansaço do dia, cansaço da difícil e impiedosa labuta, sempre no cabo da enxada, da foice ou do machado.
                Ao voltar para casa encontrava minha mãe sentada na pequena calçada de chão batido, amparada em grossos troncos de madeira. Na sala, ouvia-se o som da Ave Maria, no velho radio ABC – a Voz de ouro. O sol preparava-se para se esconder e mandava seus últimos sinais de luz naquele dia.
     Nessa hora mamãe cuidava e penteava seus longos e negros cabelos. Presos durante o dia ali eles apareciam como de fato eram, imensos e belos. E eu já de roupa limpinha ficava por perto, observando. De repente, eu corria até o pé de açucena e voltava com as mãos cheias de flores, de suave perfume. Era o bastante para merecer ternos abraços e carinhosos beijos.


                Mudamos da fazenda para a cidade. Papai trocou a roça por um pequeno comercio e minha mãe cuidava da casa. Minhas responsabilidades vieram, aumentaram e fui estudar em um grupo escolar ali perto.
                Foi quando conheci de fato as comemorações do dia das mães. Na minha infância na Fazenda Nova America sabia que havia um dia das mães, mas na escola da cidade, a data era muito lembrada e valorizada.
         E em um segundo domingo de maio, na pequena igreja matriz da cidadezinha onde morávamos fizeram uma linda homenagem às mães. Ao fim da missa, distribuíram rosas às mães presentes e o coral entoou uma canção que nunca esqueci. Canção que afirma “ficar sempre um pouco de perfume nas mãos que oferecem rosas”.

           Nesse momento, emocionado, eu me lembrava das flores de açucena que entregava à minha mãe, naquelas tardes tranqüilas da Fazenda Nova America.
   E hoje, ao reviver tudo isso sinto que embora nas mãos o perfume não tenha ficado, no meu coração e na minha saudade, está sim muito presente.
               Às mamães, um terno e Feliz Dia das Mães.

5 comentários:

  1. Nosso escritor goiano expos seu sentimento mais puro ao escrever sobre a senhora sua mãe! Merecida e bela homenagem a sua e a nossas mães! Obrigado, escritor goiano Paulo Rolim.
    Seu fã e amigo Reinaldo Bueno

    ResponderExcluir
  2. Lindo e primoroso texto!
    Belíssima homenagem às mães, carregada de sentimentos e nostalgia...
    Parabéns, Paulo Américo Rolim!
    E parabéns a todas as mamães!!!

    ResponderExcluir
  3. Paulo lindo texto, cheio de vida, emoção e nostalgia. Mãe ser Divino!

    ResponderExcluir