Meu
primeiro contato com livros ocorreu muito cedo e lembro como hoje: nos bancos toscos
de madeira bruta da humilde sala da Fazenda Nova América, onde funcionava a
Escola Rural Santa Genoveva. Apesar de tenra idade eu acompanhava com grande
interesse as aulas ministradas por meu pai.
Não
obstante brincadeiras e desatenções dos meninos maiores – o que incluía jogar
pequenos torrões arrancados da parede em mim – eu pegava um livro qualquer e
mesmo sem entender o significado daqueles símbolos, me punha a folheá-los, como
se estivesse lendo atentamente.
Nos
intervalos da lida diária e quando não dava aulas, meu pai sentava debaixo da
frondosa mangueira e se punha a ler. Como ele tinha o habito de ler em voz
alta, eu me deliciava com o que ouvia. Viajava na História dos grandes
Imperadores, Faraós, Reis e Rainhas que esse mundo viu. Divertia-me com Monteiro
Lobato, seu Jeca Tatu e chegava a imaginar todos os animais da fazenda calçando
botinas.
Um
dia pedi ao meu pai que me ensinasse a ler e ele, carinhosa e pacientemente me
iniciou nas primeiras combinações de símbolos e sons. De molde que rapidamente
eu estava lendo de tudo. Rapidamente li todos os livros existentes na pequena
biblioteca da escola – sim, na escola tinha uma pequena quantidade de livros
que meu pai singelamente denominava “a biblioteca”.
Depois
disso nunca mais fiquei sem livros. Conheci
a obra dos grandes escritores brasileiros, de Zé Lins do Rego, Machado de
Assis, Alencar, Jorge Amado, Graciliano, Guimarães Rosa a Jose Américo de
Almeida. Visitei e conheci detalhadamente a Catedral de Notre-Dame em atenta imersão
na romântica e triste saga do sonhador corcunda Quasímodo, de Vitor Hugo. Sem esquecer-se
de Os Miseráveis e outras obras intrigantes e interessantes do mesmo autor.
Apesar
da difícil hermenêutica, por influência de um Professor do antigo Ginásio entrei
de cara nos clássicos da literatura universal. A gênese da Filosofia e do
pensamento. Que legado os Gregos nos deixaram.
Encantei-me
com a obra de Carmo Bernardes, que me levou a viagens em histórias de pescaria,
amores platônicos e quase impossíveis de pessoas simples do meio rural, sem
esquecer seus belos contos onde o bom humor prevalecia. Carmo também fez críticas
sociais e denuncias sobre perseguições a estudantes em um Goiás onde era
difícil até pensar. Tal como hoje?
A
crônica de Jean Pierre Conrad me trouxe o encantamento de enxergar coisas simples
e belas como o arrulhar de rolinhas no quintal ou a beleza das pequenas flores
que povoam os lotes baldios.
Hoje
ao visitar salas de aulas ministrando palestras, percebo as dificuldades que
enfrentam alunos de ensino médio de escolas publicas ao tentar formatar
palavras simples, cotidianas. Pergunto quantos livros este aluno leu nos
últimos anos e a resposta é quase sempre a mesma: nenhum, Professor. Alguns mais corajosos e
sinceros têm a honestidade de afirmar que “quando precisam pegam o resumo na
internet”.
Causa-me
tamanha tristeza isso. Não se formarão homens cultos sem a presença constante dos
livros. Vejo o Secretario de Educação de Goiás, de forma espalhafatosa bradar aos
quatro ventos que premiará com míseros reais
os melhores alunos. Que pena. Penso que a educação não precisa de migalhas, mas
de políticas sérias e efetivas. Por que não valorizar os escritores brasileiros
e incentivar a leitura nas salas de aula? É bem mais interessante e produtivo
dotar alunos com a aquisição do conhecimento e não com a distribuição de parcos
reais que de nada servirão ao seu desenvolvimento intelectual.
Dia
desses tive uma notícia alvissareira: foi-me dado um livro de presente. Tenho
comigo que não há presente melhor. Infelizmente ainda não pude tomar posse
desse precioso bem, pois questões pessoais impediram que isso ocorresse.
Ao
querido amigo e irmão que a mim concedeu essa dádiva, muito obrigado. Nenhum
presente se comprara a um livro, sempre uma jóia de muito valor.
Voltando
ao passado, revejo a frase tão atual do inesquecível Monteiro Lobato onde ele
diz que “um país de faz com homens e livros”.
Como sempre são ótimas as crônicas do nosso querido Escritor Goiano!
ResponderExcluirGrato por nos proporcionar mais esse passeio agradável em suas saudosas e boas lembranças!
Reinaldo Bueno
O Américo sempre inovando. Agora as crônicas tem até ilustrações. Sempre melhorando. Está certo.
ResponderExcluirQuanto a crônica, verdade. No apanhado de livros que você resumiu, muitos eu mesmo nem cheguei a ler.
Vivemos, realmente, em uma cultura eletrônica, onde o povo tá com preguiça de ler.
Tem que ser mudado.
Algumas escolas tem bons programas de leitura. Mas como dito, precisa ser algo global, atitudes da SEC, que realmente valham a pena e não apenas o valor financeiro, passageiro.
Excelente artigo.
Ter um filho, plantar uma árvore e escrever um livro é fácil. Dificil é criar o filho , regar a árvore e ter alguem que leia o livro! O hábito da leitura tem que vir desde cedo, assim como vc teve dentro de casa. Linda sua crônica , ela fala de tudo o que precisamos para um mundo melhor.... Educação e Cultura!
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