Rápida passagem na
panificadora, onde senhores e senhoras apressadas – certamente para ter mais
tempo de ócio – reclamam a lentidão do atendimento. Ao adentrar o carro e voltar
para casa não me contive e me permiti deixá-lo deslizar pelas ruas asfaltadas, ir
para “onde quisesse”.
O trânsito
tranquilo, calmo, consequência do feriado prolongado trazem de volta o prazer
de dirigir devagar, sem pressa, podendo detalhadamente ver tudo que acontece em
volta. As ruas estão tomadas por acácias floridas. Nas calçadas inúmeros pés de Eugênia deixam o chão avermelhado com os folículos caídos das flores que, tocadas pelo
vento ou provocadas pelos pássaros formam belo e majestoso tapete vermelho
vivo.
Observo um casal
de velhinhos – com mãos entrelaçadas - a caminhar lentamente. Ele a conduz com
extremo cuidado e muito carinho, pois os passos são menos firmes que os dele. O
pequeno degrau da rua para a calçada, que outrora talvez nem fosse notado,
agora parece barreira intransponível. Mas
com zelo e paciência ele faz com que ela vença o obstáculo. E recebe terno afago
de carinho nas mãos, tão significativo como um beijo de amor.
O canto de bem-te-vis
e pardais se mistura à poesia de Chaul, e me faz adentrar aos recônditos do
coração, onde fica guardada a saudade.
Chego em um local
maravilhoso, belo, onde a natureza se sobrepõe magnifica e exuberante. Pessoas
anônimas fazem caminhada, correm. Ali inúmeras vezes conversei comigo mesmo,
revisitei meus momentos, minha vida, meus últimos meses. Ao sentar no pequeno
banco me vem à mente excertos das canções que ouvi no carro.
Assim a
poesia invade meu ser no clima ameno da bela manhã, onde sobre plantas rasteiras e
verdes o orvalho da madrugada/noite teima em resistir aos raios de sol. Sol que
tenta a todo custo transpor os prédios que ficam ali perto. Gotas de orvalho
seriam lágrimas de uma madrugada finda?
A poesia invade
meu ser. “Sabe o que eu quero agora, meu bem? Sair, chegar lá fora, encontrar
alguém que não me dissesse nada, não me perguntasse nada também. Que oferecesse
um colo, um ombro...” A canção talvez reflita algo de mim. Mas, “o amor só tem
saudade do que não conquista?” ou talvez, “metade das coisas que sinto é amor
por você, a outra metade, é mistura de sonho e prazer...”. O certo é que “O meu
peito goiano é assim, de saudade brejeira, sem fim...”.
Ah, saudade... Saudade
do que vivenciei ou quase vivenciei, do que foi bom ou que sonhei um dia
ser bom. Saudade de momentos felizes, significativos, momentos da juventude já
quase “tão distante”. É sentimento, nostalgia. Apenas saudade, apenas saudade...
Em momento de “preciosa solidão”
Que sensibilidade e delicadeza para captar o cotidiano. Eu também gosto de ver Goiânia assim, devagar... e bela!
ResponderExcluirO poeta é um ser quase divino que oferece a todos, através do seu dom, a realidade e a ilusão em dose bem dividida para alegrar e acalentar almas que se encontram vazias... Obrigado por nos presentear com tão belo texto, parabéns como sempre grande Poeta "Paulo Rolim"!
ResponderExcluirEssa pode ser classificada como uma "Saudade que todos nós deveríamos ter". Em conheçer o ambiente em que vivemos e tirar o máximo de proveito, por observar as belas singelas não notadas.
ResponderExcluirParabéns Américo!