Foi em uma tarde quente de um mês qualquer que
conheci o cronista das coisas simples e belas da vida, nos corredores da
Secretaria da Agricultura de Goiás, onde ele trabalhava como médico veterinário. Fitou-me
com seus olhos de um azul intenso, e estendeu-me a mão, cumprimentando-me de
forma séria e compenetrada.
Estava eu diante
de um dos grandes cronistas do Brasil. Sua obra literária me encantava há
alguns anos, através das páginas dos jornais em que publicava. E crônica sempre
foi uma predileção minha.
Após rápida
conversa, falando de trivialidades, afirmei ao cronista achar suas crônicas
“uma beleza”, mas ele nada disse em resposta. Mas soube depois que se
emocionara ao ouvir minha afirmação.
Jean Pierre Conrad era Pernambucano, mas adotara e adorava Goiás. Tinha como sua terra, sua pátria.
Lembro-me de
algumas crônicas muito interessantes. De seu ponto preferido de observação, um
pequeno e simples boteco no Setor Novo Horizonte, em Goiânia, enquanto esperava
o almoço e degustava uma Brahma, ele observava a vida, o dia-a-dia e as pessoas
que ali passavam. E, de forma simples relatava isso. Citava em seus textos as
senhoras idosas, que com dificuldade se locomoviam em busca do posto de saúde
ali perto, os carregadores de caminhões de bebidas que paravam ali para
almoçar. Ou mesmo quando ensinava os leitores a fazer um gesto característico de ofensa com os dedos, que usou ao ser fechado por um caminhão de transporte de valores.
Passava um pouco,
embarcava em seu velho fusca amarelo, que chamava de viatura, e saia em direção
ao seu canto, em busca do almoço, para certamente, após um taco de rapadura,
tirar um justo e merecido cochilo.
Jean Pierre se encantava quando, nas manhãs
de sol, punha-se a observar no seu quintal a ternura e carinho das pequenas
rolinhas que vinham ali se alimentar do “xerém” que diariamente jogava ali para
elas. Eram doces momentos de enlevo, que tão habilmente, relatava em seus
escritos.
E colocava todo o coração, quando referia-se à amada nas crônicas. Longos parágrafos dedicados a ela. Poesia pura em forma de
crônica. Declarações de amor, cheias de ternura. Sabia como colocar em uma
simples folha de papel seu amor e dedicação.
Um dia o visitei na pequena edícula que
morava. Com certa tristeza me disse do fim do romance. “Ficou a
amizade” afirmou, embora tenha deixado claro que preferia que permanecesse o
amor.
Por longas horas conversamos. Aprendi um
pouco mais naquele dia. Pierre era acima de tudo apaixonado pelos animais. Não
admitia que judiassem ou os maltratassem. Cuidava dos da vizinhança e também
dos da rua, que por ali aparecessem. Ao sair, pegou uma rapadura que estava
sobre uma pequena mesa, partiu-a ao meio e me presenteou. Pelo brilho de seu
olhar estava me dando um de seus tesouros.
Jean Pierre Conrad há alguns dias nos
deixou. Certamente está cuidando dos animaizinhos celestes e escrevendo suas
crônicas por lá. Encantando o paraíso.
Deixou sua obra, seu estilo literário e seu
exemplo de amigo. Deixou acima de tudo o ensinamento de ver a vida, a partir
das coisas simples e belas. A maneira Jean Pierre de ser. De
Conradianamente perceber e viver a vida. E Conradianamente, vamos seguindo por
aqui. Obrigado, Poeta!