sexta-feira, 12 de julho de 2013

CONRADIANAMENTE, JEAN PIERRE... CONRADIANAMENTE!

                Foi em uma tarde quente de um mês qualquer que conheci o cronista das coisas simples e belas da vida, nos corredores da Secretaria da Agricultura de Goiás,  onde ele trabalhava como médico veterinário. Fitou-me com seus olhos de um azul intenso, e estendeu-me a mão, cumprimentando-me de forma séria e compenetrada.
                Estava eu diante de um dos grandes cronistas do Brasil. Sua obra literária me encantava há alguns anos, através das páginas dos jornais em que publicava. E crônica sempre foi uma predileção minha.
                Após rápida conversa, falando de trivialidades, afirmei ao cronista achar suas crônicas “uma beleza”, mas ele nada disse em resposta. Mas soube depois que se emocionara ao ouvir minha afirmação.
                Jean Pierre Conrad era Pernambucano, mas adotara e adorava Goiás. Tinha como sua terra, sua pátria.
         Lembro-me de algumas crônicas muito interessantes. De seu ponto preferido de observação, um pequeno e simples boteco no Setor Novo Horizonte, em Goiânia, enquanto esperava o almoço e degustava uma Brahma, ele observava a vida, o dia-a-dia e as pessoas que ali passavam. E, de forma simples relatava isso. Citava em seus textos as senhoras idosas, que com dificuldade se locomoviam em busca do posto de saúde ali perto, os carregadores de caminhões de bebidas que paravam ali para almoçar. Ou mesmo quando ensinava os leitores a fazer um gesto característico de ofensa com os dedos, que usou ao ser fechado por um caminhão de transporte de valores.
                Passava um pouco, embarcava em seu velho fusca amarelo, que chamava de viatura, e saia em direção ao seu canto, em busca do almoço, para certamente, após um taco de rapadura, tirar um justo e merecido cochilo.
Jean Pierre se encantava quando, nas manhãs de sol, punha-se a observar no seu quintal a ternura e carinho das pequenas rolinhas que vinham ali se alimentar do “xerém” que diariamente jogava ali para elas. Eram doces momentos de enlevo, que tão habilmente, relatava em seus escritos.
E colocava todo o coração, quando referia-se à amada nas crônicas. Longos parágrafos dedicados a ela. Poesia pura em forma de crônica. Declarações de amor, cheias de ternura. Sabia como colocar em uma simples folha de papel seu amor e dedicação.
Um dia o visitei na pequena edícula que morava. Com certa tristeza me disse do fim do romance. “Ficou a amizade” afirmou, embora tenha deixado claro que preferia que permanecesse o amor.
Por longas horas conversamos. Aprendi um pouco mais naquele dia. Pierre era acima de tudo apaixonado pelos animais. Não admitia que judiassem ou os maltratassem. Cuidava dos da vizinhança e também dos da rua, que por ali aparecessem. Ao sair, pegou uma rapadura que estava sobre uma pequena mesa, partiu-a ao meio e me presenteou. Pelo brilho de seu olhar estava me dando um de seus tesouros.
Jean Pierre Conrad há alguns dias nos deixou. Certamente está cuidando dos animaizinhos celestes e escrevendo suas crônicas por lá. Encantando o paraíso.
Deixou sua obra, seu estilo literário e seu exemplo de amigo. Deixou acima de tudo o ensinamento de ver a vida, a partir das coisas simples e belas. A maneira Jean Pierre de ser. De Conradianamente perceber e viver a vida. E Conradianamente, vamos seguindo por aqui. Obrigado, Poeta!

Um comentário:

  1. Paulo te admiro muito pela simplicidade, competência e humildade. Ao ler esse texto em homenagem a uma pessoa que te inspirou a escrever maravilhosamente. Te desejo tudo de bom, e que você inspire outros poetas a se tornarem mestres como você!!! Você sabe o quanto é querido por todos, você plantou e colheu ensinamentos e principalmente amizades! Deus te abençoe sempre!

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