Nezinho Américo toca violão para Elvira... "Momento de amor e carinho."
Meu pai chamava-se Manoel, mas desde a infância, todos o conheciam pela alcunha de Nezinho. Nezinho Américo. Homem de bem, pai de família exemplar, tinha honestidade e honra não como virtudes, mas obrigações comuns a todo cidadão.
Papai era um homem
calmo. De doçura e leveza de voz incomensuráveis, que despertava confiança.
Nunca o vi reclamar da vida, não falava mal de outras pessoas e tratava a minha mãe e
meus irmãos com extremo carinho, ternura e respeito. Nunca os vi discutir nada,
e se um dia tiveram algum diálogo mais intenso, foi entre quatro paredes. Carinhosamente,
chamava a minha mãe de “Nêga véia”.
Guardo muitas lembranças
de minha primeira infância. Recordo quando nas primeiras luzes da manhã, via meu pai se preparar para o trabalho na roça,
de machado e enxada no ombro, vestindo as surradas roupas de trabalhar. Acompanhava
uma cabaça cheia de água fresquinha e um pequeno embornal onde levava o
almoço simples. Pela distancia não valia a pena vir em casa para a
refeição, fazia-se ali mesmo na roça, sob frondosa arvore.
Nesses momentos,
eu chegava a insistir para ir, mas ele dizia que eu era muito pequeno, e deixasse para quando crescesse. Mesmo diante de minha insistência, com choro e
certa birra, papai não brigava, limitava-se a me pegar nos braços, e carinhosamente
conversar, explicar que um dia eu iria junto. Aos poucos, eu me absorvia com
outras coisas e esquecia.
Por tantos fins de tarde, por tantas vezes, “vi meu pai chegar cansado” depois de um dia de trabalho
árduo. A surrada camisa vinha ainda molhada de suor. E ele chegava sempre com seu sorriso e sua candura. Procurava à minha mãe como havia sido o
dia, se estava tudo bem e em paz. Então, me chamava para ir tomar banho no
pequeno riacho da Fazenda Nova América, ali nas imediações da casa.
Era hora de felicidade. Como dois meninos, brincávamos na água. Eu adorava
ver meu pai dar braçadas fortes na parte funda do córrego, e sonhava um
dia fazer aquilo. Cuidadoso, papai não permitia que eu saísse da rasura, e
quando queria ir mais longe, me amparava, segurando-me para que não corresse o
risco de afundar.
Logo, íamos jantar
na sala da humilde casa. Papai à frente da mesa, minha mãe ao lado e o rádio
dando o fundo musical. Após isso, “o violão alguém trazia” e papai ia dedilhar dobrados, valsas, canções...
Eu, ali por perto,
em minhas brincadeiras, mas atento ao que acontecia. Mamãe, sentada de frente
ouvindo as canções e de vez em quando, se arriscava a declamar um poema. O
preferido de todos eram os versos do conhecido “Pavão Misterioso” que ela sabia
de cor. Nas noites de lua, eu me deliciava com esse “show” particular, meu pai
ao violão e mamãe com sua voz doce a declamar poemas.
A vida passou, e o
tempo, implacavelmente foi junto... Logo me vi adolescente e distante da querida
Fazenda Nova América. Papai a vendera e passou a tocar um pequeno armazém na
cidade.
Papai sempre
manteve seu sorriso, sua doçura e elegância. Mesmo em meus arroubos e adolescente,
sem a educação necessária, achando que sabia de tudo, ele jamais levantou a
voz, perdeu a calma ou a candura. Limitava-se a sorrir e me olhar firme nos
olhos, derrubando dessa forma qualquer argumento. Era um olhar de amor, de extrema
ternura, mesmo em momentos difíceis como esse.
Ah, seu Nezinho... Meu pai... Quanta
saudade... Meu coração ainda guarda muito vivamente o som das canções que tocava
ao violão e o tom doce de sua voz... Quanta saudade...
Para sempre. Meu Pai!
Belíssima crônica amigo. A figura de um pai em nossas vidas é muito importante! Quando se vão deixam seus exemplos e muita... Mas muita saudade!
ResponderExcluirFalar sobre pai é falar de amor... Linda sua Crônica e homenagem ao seu pai, linda família abençoada e feliz! O nosso lar não é apenas uma casa, mas também o lugar onde a família é feliz por estar nela, onde refazemos nossas energias, nos alimentamos de afeto, encontramos o conforto do acolhimento e a construção de valores e princípios! Feliz dia dos Pais Paulo Rolim, grande poeta... Parabéns!
ResponderExcluirFalar sobre pai é falar de amor... Linda sua Crônica e homenagem ao seu pai, linda família abençoada e feliz! O nosso lar não é apenas uma casa, mas também o lugar onde a família é feliz por estar nela, onde refazemos nossas energias, nos alimentamos de afeto, encontramos o conforto do acolhimento e a construção de valores e princípios! Feliz dia dos Pais Paulo Rolim, grande poeta...
ResponderExcluirLinda demais. Emocionante. É isso que fica na vida
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