sexta-feira, 6 de setembro de 2013

AMOR... INCONDICIONAL


                O modo carinhoso de um casal de pequenas araras que vieram visitar meu quintal, em busca de goiabas temporãs me trouxe momentos de enlevo e extrema ternura.
                Quase fim de tarde, e o sol no horizonte dando mostras que em breve iniciaria sua rápida descida rumo ao poente, despedindo-se do dia e deixando que a noite viesse com quietude e paz.
                O meu dia foi difícil. Correrias, muito trabalho, preocupações. Mas, nada fora da rotina, nada que trouxesse aflições.
                Ao chegar em casa, me permiti ficar sob a sombra da jabuticabeira, sentado na confortável e amiga cadeira de fios, em precioso e calmo momento, de quase solidão...
                Enlevado pelo carinho e cuidado dos pássaros que se movimentavam no alto, deixei o tempo passar, despreocupado e encantado com o que via.
                Chegada a hora da caminhada diária ainda permaneço com imagens das aves no meu quintal no pensamento. Fico a observar as pessoas que todos os dias em respeitoso e às vezes em indiferente silêncio passam por mim. Indo, vindo, passamos pelos outros sem um cumprimento, um meneio de cabeça. Às vezes sequer dirigimos o olhar.
                Mas o parque tem seus personagens. São cativos daquele horário, estão diariamente a aproveitar aquele maravilhoso espaço, verdadeiro pedaço de natureza dentro da cidade grande. Embora cercado por arranha-céus, ainda temos ali mata fechada, um pequeno córrego que deságua em um lago, muito verde e a segurança, feita pelos gentis e educados guardas municipais que ali trabalham.
                Dirijo meu olhar a um casal que ocupa sempre o mesmo banco, próximo às margens do lago. Não é um casal comum, como tantos que ali vão para namorar e colocar o papo em dia. Os cabelos brancos de ambos mostram que já viveram muitos momentos na vida. E um detalhe: o extremo cuidado que ele devota a ela. Isso os diferencia.
                Sentados lado a lado, eles sempre tem as mãos unidas, entrelaçadas. E o usual gesto de ternura, ao acariciar a face dela, cujas marcas do tempo são aparentes. O cuidado sugere que está sempre a zelar de preciosa joia. São inúmeros os gestos de carinho e ternura que destinam um ao outro, como um constante afagar nos cabelos brancos. Confesso que tenho imensa vontade de ficar pertinho deles, apenas para ouvir seus diálogos, que certamente são entremeados por declarações de amor e lealdade.
                Voltando a atenção à pista de caminhada, ao longe vislumbro outro casal, aparentemente pai e filha. Vão no mesmo ritmo, no mesmo caminhar, seguem com passos lentos e trôpegos.
                À minha passagem os cumprimento e recebo de volta um sorriso amistoso e um boa tarde de satisfação. Continuam em seu caminhar, com intensos e interessantes os diálogos, embora baixinho e discretamente, como que para não incomodar a quem cruza por eles. Muita demonstração de alegria de ambas as partes. Não caminham por toda a pista, apenas onde ela é plana, para que o esforço da subida não os sobrecarregue.
                Carregam limitações que a vida impôs. O caminhar lento, pelo lado dele, é fruto do peso dos anos, explicitado em brancas cãs e em traços do rosto. O corpo esquálido mostra leve curvatura. As cargas, o peso da toda a vida.
                Ela, sempre muito elegante, com perfume que transcende, traz as limitações em seu caminhar lento por necessidades especiais. Mas passam a imagem que se completam ao se amparar. Que um não vive sem o outro. E parecem fazer daquela caminhada um momento social muito importante em suas vidas.
                Me emociono sempre ao perceber esses momentos, desde as ternas araras no quintal em busca de alimento, o casal de brancas cãs que namoram no banco de madeira com extrema ternura, ou pai e a filha que se amparam e não fazem de suas limitações motivo de desistir e viver a vida solitária e mente.

                Vejo nesses momentos a felicidade muito presente. Em gestos, cuidados e elevadas demonstrações de cuidado, carinho e amor. Muito amor! Assim, deve ser nossa vida.

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