As nuvens que cobriam o céu naquela tarde quente, em seu
ir e vir, tocadas pelo vento rapidamente desfaziam as imagens que se formavam.
Naquele parque, de muito verde, centenas de pessoas
faziam sua caminhada ou corrida, crianças brincavam no amplo play-ground e
jovens, em lençóis estendidos no chão, preguiçosamente, deixavam a tarde e o
tempo passarem, como se não estivessem ali, enlevados e embevecidos em seus
momentos de ternura.
Ao longe, percebo um casal que se aproxima, em passos
lentos. As marcas do tempo estão presentes e nítidas nos cabelos e no rosto de
cada um. Calma e pacientemente, ele a ampara, cuida para que cada passo dado,
curto e trôpego, se torne seguro.
Chegam até um pequeno banco de madeira, onde ele a ajuda
a se sentar. Mesmo à distancia, percebo que um respeitoso
silencio se impõe entre os dois. Ela, olhado para o horizonte, às vezes para o
céu e ele, mirando a face dela, meio que de lado. Como se quisesse dizer: estou
aqui, para tudo que precisar.
Resolvo me aproximar. Cuidadosa e discretamente, fico ali
perto, sentado no gramado. Nesse momento, percebo que conversam entre si. Não
falam de dores, nem de saudade, mas de vida. Louvam o carinho de alguns jovens
que estão mais distantes, falam de coisas boas do dia a dia e se perguntam:
como estará a lua hoje?
As mãos entrelaçadas mostram o imenso carinho que
dividem. Desde que chegaram e sentaram no pequeno banco em nenhum momento
soltaram as mãos. Mãos dadas, carinhosamente juntas, seguras. Gesto de
amor e ternura.
Em determinado momento, ele se põe a declamar poemas. Sem
cerimônia, para que quem passasse ou estivesse perto como eu, pudesse ouvir.
Ela vira o rosto para ele e, olhando nos olhos, se deixa embevecer com aquelas
palavras de carinho. Confesso que a emoção tomou conta de mim ao presenciar
esse belo e envolvente momento.
Ao fim do poema declamado por ele, pude ouvir a voz frágil
e tênue dela a dizer “obrigado”, seguido por um “amo você”.
A tarde foi se indo e a noite começou a chegar. A luz
artificial do parque logo foi complementada por majestoso luar, que chegou aos
poucos, na companhia de estrelas tímidas, quase imperceptíveis.
E os dois ali, em obsequioso silencio, em momento
incomensurável de ternura, a se encantar.
Saí dali com a alma feliz, o coração renovado. Que esses momentos de
ternura, enlevo, paz, harmonia e alegria da presença um do outro possam
acontecer sempre.
As limitações físicas impostas pela passagem do tempo implacável não impediu
um casal - que certamente estão juntos já anos - de dedicar carinho na forma de
poemas, mãos entrelaçadas, e de namorar em uma tarde/noite em um banco de um
parque, sob a luz de belo luar.
Nem o tempo, nem brancas cãs impediram que renovassem seus laços de amor,
com o olhar terno, com mãos entrelaçadas, a dizer um para o outro: “eu te amo”.