domingo, 1 de junho de 2014

SAUDADE, ACONCHEGO, TERNURA...


Eis que as últimas chuvas se foram. Esse ano, um pouco tardiamente, já no mês de Maio. Os dias, igualmente proporcionais às noites, indicam que estamos no Outono. Do Solstício - o início - até o Equinócio, o fim do Outono, o clima fica diferente, ameno, bem mais aconchegante.
            Não há como negar que na hora em que preciso levantar da cama tenho a vontade imensa de ficar, nem que seja mais um pouquinho, sob as cobertas. Um minutinho a mais que seja. Mas a responsabilidade dos horários que a vida impõe faz com que eu deixe o calor maravilhoso da minha cama e comece logo o dia.
            Ao levantar e visitar meu quintal ao fim da madrugada e começo do dia, percebo o ir e vir intenso de passarinhos. Em busca de construir seus ninhos, embalados pela alegre orquestra que compõem. Algumas espécies todos os anos refazem suas casas, para a sequência da vida. Logo, à época certa, na primavera nascem os filhotes, que em breve serão adultos, no perfeito ciclo da vida, da renovação.
            Não tenho como negar: gosto do frio do outono. Embora grande parte do ano seja de dias muito quentes em nossa cidade, quando vêm os dias frios sinto algo diferente no ar, nas pessoas. Semblantes parecem ficar menos franzidos, olhares mais ternos, corações aquecidos.
            Em Goiânia, a chegada do frio do outono coincide com a Exposição Agropecuária, ou simplesmente Pecuária, como a chamam. Para alguns e hora de botar um chapéu, tirar o casaco do guarda-roupa, calçar uma bota. Apreciar os animais expostos ou simplesmente se divertir com aquilo que a atração oferece. Em tempo: se beber, nunca dirija.
            Mas o frio do outono me leva mesmo a outra viagem. Volto à Fazenda Nova América da minha infância distante. Ainda muito pequeno, agasalhado com as roupas quentes e pelos cobertores feitos ali mesmo em casa pela minha mãe, de retalhos de tecido, forrados com flanela. Tinha também seu imenso cuidado, o aconchego o carinho. Dormia sem pressa de acordar e quando levantava, buscava o calor próximo ao fogão a lenha, onde ficava quietinho buscando me aquecer.
            Dali observava sobre o pequeno córrego que passava nas imediações a neblina que o encobria. Em minha ingenuidade de criança não conseguia entender porque o céu estava tão perto.
Os animais da fazenda, com exceção das espertas galinhas que ciscavam pra todo lado – e eram muitas por lá – ficavam quietos, inertes. Os cachorros deitados em circulo, formando algo parecido com uma bola escondendo seus focinhos gelados entre as patas, tinham com o corpo bem quentinho, protegidos pelo casaco de pelos que a mãe natureza lhes deu.
            Minha mãe, cuidadosa mais ainda à essa época, me dava alimentos considerados fortes, sadios, para que não sucumbisse às gripes e doenças respiratórias. E no jantar servia os deliciosos pratos à base de angu de milho, sopas ou deliciosos caldos para aquecer os pulmões. Ah, minha infância querida.
            O Frio do outono me faz reviver tudo isso. Depois que deixei a fazenda Nova América, me fiz homem, assumi responsabilidades e atribuições não tenho tanto tempo para observar as minúcias do dia-a-dia. Mas, inegavelmente o frio me traz a sensação de aconchego, de mundo melhor.
            Assim, bem vindo, irmão frio!

Nenhum comentário:

Postar um comentário