Os dias extremamente quentes e secos são
compensados pelo colorido de minha cidade. A primavera chegou e encontrou as
ruas e avenidas floridas, belas, onde há ipês de variadas cores, o dourado das
sibipirunas, o perfume das acácias, e tantas outras encantadoras espécies.
Nos quintais, as mangueiras com galhos
baixos e carregados de frutos mostram que a criançada irá novamente se fartar
esse ano. E a goiabeira, ainda que tardiamente, mostrou qual brancas grinaldas,
as flores que em breve tornar-se-ão frutos, doces, vermelhos e saborosos.
Talvez a florada das goiabas tenha atrasado, pela generosa safra temporã que
acabou há pouco, quando as maritacas e periquitos a cada barulhenta aparição,
fizeram a festa.
No alto das arvores os ninhos ocupados
trazem a certeza que a vida se renova. A natureza agasalha pequenos ovos, que
logo haverão de eclodir trazendo novos e belos pássaros para encantar nosso universo.
A noite chega, mas o calor do dia continua.
Embora mais amena, a temperatura impede de ficar dentro de casa. Ideal buscar a
companhia das estrelas, em confortável e amiga cadeira de fios, perto da jabuticabeira,
que em sua primeira safra, depois de tanto tempo, começa a mostrar as flores se
transformando em frutos.
E ali me deixo ficar, na noite quente, com
o inseparável rádio que traz canções, e estrelas distantes como companhia.
Aliás, as estrelas parecem querer fazer uma
festa particular. O céu vai ficando cada vez mais intenso e, apesar da claridade
das luzes urbanas, é possível ver o quanto é mágico e misterioso o infinito.
O espetáculo me leva ao tempo de criança,
onde observar o céu nas noites calmas da Fazenda Nova América era a diversão
principal.
Como hoje, lá, tínhamos como fundo musical
as canções do radio – no caso, o velho ABC – A Voz de Ouro - ou o violão
plangente de meu pai, que depois do dia corrido e difícil, se punha a dedilhar
canções, qual poemas, sob olhar plácido de minha mãe.
Aqui e ali a melodia é interrompida por comentários de meus irmãos ou por versos declamados por minha mãe.
A harmonia era presente.
Mas o céu e a noite estrelada era o que mais me encantava. Tentava
adivinhar perto de qual constelação as inquietas estrelas cadentes iam deslizar
e me punha a fazer pedidos, como rezava a lenda que quem visse uma estrela
cadente e fizesse um pedido, seria atendido. E eu ficava assim, até que mamãe
viesse me chamar para que fôssemos todos dormir.
Já na cama, me punha a “adivinhar”
o céu pelas frestas do telhado, que traziam a luz das estrelas. E sob o acalento
dos sons diversos da noite, adormecia.
Hoje, em uma noite quente, sentado na
cadeira acolhedora, também me vejo contemplando o céu e as estrelas como fazia
quando criança. É o mesmo céu de minha infância e as mesmas estrelas. O tempo
passou para mim, mas o céu continua o mesmo. Como os sonhos que acalento, e estão guardados no infinito do coração. Sonhos que nunca mudaram.
Afinal, ainda tenho por guia, as estrelas.