terça-feira, 13 de outubro de 2015

DESABRIGO





Deixa estar
À lembrança
A carícia
De teus dedos
Em meus cabelos,
Quando deitava
A cabeça em teu colo...

Deixa,
Afinal
Ainda tenho
O calor
Da tua face
Em minha face... 
A doçura de tua boca
Em minha boca,
E a lembrança
De nossas mãos
Entrelaçadas
Quando entrelaçados
Estiveram nossos corpos...

Deixa estar
Em mim
Teu sorriso,
Qual
Fugidia nuvem
Rompida e
Dourada pela
Luz do sol...

E, deixa...
Deixa
Que a saudade
Seja somente
Saudade,
Apenas uma
Parte
Do todo
Que és
Em mim...

-*-

#Deumpoetaqualquer


segunda-feira, 12 de outubro de 2015

ENCONTROS, DESPEDIDAS, REENCONTROS...


Foto: internet


O choro alto de um inquieto rapazinho que tentava se desvencilhar dos braços da mãe se tornou o centro das atenções de quem estava no apertado, acanhado e pouco confortável saguão de desembarque do aeroporto de Goiânia. O guri gritava, de maneira quase ininteligível entre lágrimas copiosas e sentidas, que queria o pai, que queria logo o pai e que ele estava demorando. A mãe, talvez constrangida com o show do pirralho, se afastou da multidão, levando para longe dali.
Ao vir a calmaria, fiquei a observar as pessoas que ali estavam. Alguns com semblante de felicidade, de expectativa de chegadas, de encontros, reencontros. Enquanto esperam a bagagem, alguns passageiros acenam, gerando ainda mais ansiedade nos que os aguardavam.
Eis que a porta automática se abre e pessoas começam a surgir. São momentos de emoção, abraços de chegadas, encontros, reencontros. Oposto de despedidas! Abraços fortes, beijos de carinho, alguns com lágrimas de alegria. E mãos que se encontram e se entrelaçam, se acariciam. Que mandam a saudade para longe, por novamente estarem juntas, próximas. Que se fazem emocionar com demonstrações de alegria, de carinho, ternura.
Após a chegada da pessoa que eu esperava, conversamos sobre esses encontros, despedidas. E refletimos sobre a vida. Algumas despedidas soam como definitivas, doem. Mas podem ser apenas um até breve. Algumas vezes a vida traz isso, e penso que são etapas que se cumprem. Necessariamente se cumprem.
Com essas idas a casa fica maior e bem vazia. E o coração da gente parece ficar “faltando um pedaço”. A saudade aperta mais ainda quando se olha para um quarto que agora não está mais ocupado, onde outrora era lugar sagrado, sacrossanto, um santuário particular, onde somente a dona, qual sacerdotisa daquele templo, tinha acesso livre e irrestrito.
Aos poucos, o lugar se torna apenas mais um cômodo da casa. Os preciosos tesouros que restaram, recordações em pequenos objetos, são levados lentamente e o vazio vez ou outra é notado, sentido, lembrado.
A contrapartida é que, claramente as etapas da vida vão se cumprindo. É a sequencia da vida, o ciclo perfeito da existência. E logo frutificam, com a realização de sonhos, com a chegada de novas gerações. Que trazem encanto e alegria, suprindo e deixando esquecidas algumas saudades.
E esse vazio perde sentido quando sons de crianças ecoam pela casa, ou até mesmo quando nota-se um choro como o menino no saguão de um aeroporto. É a alegria que retorna, explicitada em forma de sorrisos de criança.
E, como diz a canção, a hora de partida também pode ser hora de chegada. “O trem que chega, é o mesmo trem da partida...”.




sexta-feira, 2 de outubro de 2015

POR GUIA, AS ESTRELAS...




Os dias extremamente quentes e secos são compensados pelo colorido de minha cidade. A primavera chegou e encontrou as ruas e avenidas floridas, belas, onde há ipês de variadas cores, o dourado das sibipirunas, o perfume das acácias, e tantas outras encantadoras espécies.
Nos quintais, as mangueiras com galhos baixos e carregados de frutos mostram que a criançada irá novamente se fartar esse ano. E a goiabeira, ainda que tardiamente, mostrou qual brancas grinaldas, as flores que em breve tornar-se-ão frutos, doces, vermelhos e saborosos. Talvez a florada das goiabas tenha atrasado, pela generosa safra temporã que acabou há pouco, quando as maritacas e periquitos a cada barulhenta aparição, fizeram a festa.
No alto das arvores os ninhos ocupados trazem a certeza que a vida se renova. A natureza agasalha pequenos ovos, que logo haverão de eclodir trazendo novos e belos pássaros para encantar nosso universo.
A noite chega, mas o calor do dia continua. Embora mais amena, a temperatura impede de ficar dentro de casa. Ideal buscar a companhia das estrelas, em confortável e amiga cadeira de fios, perto da jabuticabeira, que em sua primeira safra, depois de tanto tempo, começa a mostrar as flores se transformando em frutos.
E ali me deixo ficar, na noite quente, com o inseparável rádio que traz canções, e estrelas distantes como companhia.
Aliás, as estrelas parecem querer fazer uma festa particular. O céu vai ficando cada vez mais intenso e, apesar da claridade das luzes urbanas, é possível ver o quanto é mágico e misterioso o infinito.
O espetáculo me leva ao tempo de criança, onde observar o céu nas noites calmas da Fazenda Nova América era a diversão principal.
Como hoje, lá, tínhamos como fundo musical as canções do radio – no caso, o velho ABC – A Voz de Ouro - ou o violão plangente de meu pai, que depois do dia corrido e difícil, se punha a dedilhar canções, qual poemas, sob olhar plácido de minha mãe.
Aqui e ali a melodia é interrompida por comentários de meus irmãos ou por versos declamados por minha mãe. A harmonia era presente.
Mas o céu e a noite estrelada era o que mais me encantava. Tentava adivinhar perto de qual constelação as inquietas estrelas cadentes iam deslizar e me punha a fazer pedidos, como rezava a lenda que quem visse uma estrela cadente e fizesse um pedido, seria atendido. E eu ficava assim, até que mamãe viesse me chamar para que fôssemos todos dormir.
Já na cama, me punha a “adivinhar” o céu pelas frestas do telhado, que traziam a luz das estrelas. E sob o acalento dos sons diversos da noite, adormecia.
Hoje, em uma noite quente, sentado na cadeira acolhedora, também me vejo contemplando o céu e as estrelas como fazia quando criança. É o mesmo céu de minha infância e as mesmas estrelas. O tempo passou para mim, mas o céu continua o mesmo. Como os sonhos que acalento, e estão guardados no infinito do coração. Sonhos que nunca mudaram.
Afinal, ainda tenho por guia, as estrelas.