sexta-feira, 24 de junho de 2016

O MÊS DE JUNHO E O CORAÇÃO DO POETA





O mês de Junho sempre me trouxe alegria. Desde muito criança, me alegrava quando na simplicidade do humilde e singelo lar da Fazenda Nova América, recebia o carinho e o abraço de meus pais e meus irmãos.  Foi assim que aos poucos o tempo passou, e eu entendi que em Junho eu fazia aniversário.
À medida que crescia, passei a esperar ansioso o mês de Junho. Percebia que estava próximo, quando se comemorava o aniversário de minha mãe, que era no mês de maio. E também quando o estoque de roupas de frio, era renovado e eu ganhava novos pijamas de flanela, com pequenos desenhos de bichinhos. Roupinhas simples, feitas ali mesmo na fazenda pelas mãos hábeis de minha mãe, na velha e eficiente máquina de costura Leonam.
Ainda na Fazenda Nova América, eu me lembro muito bem, que no mês de Junho logo após meu aniversário, os vizinhos vinham para uma noite de alegre folguedo, repleta de alegria e harmonia, quando se reuniam em volta de uma imensa fogueira, e o violão de meu pai e os versos declamados por minha mãe eram a maior atração.
Em alguns anos, apareciam por ali outros violões ou mesmo, o som dolente de uma sanfona, que manejados habilmente pelas mãos calosas de seus donos, emitiam sons que faziam a alegria dos presentes.
Os muitos meninos, filhos dos vizinhos que compareciam à festa, se deliciavam com a fartura de doces e comida. Depois de se fartar, vinham as brincadeiras de pique-esconde, não sem antes recebermos os “conselhos” e as observações dos adultos para que tivéssemos cuidado e não corrêssemos muito, pois com a barriga cheia poderíamos “passar mal”. Mas, ninguém obedecia a esses conselhos e a brincadeira continuava até que cansássemos,
O tempo passou, os saraus de alegria e felicidade das noites Juninas da Fazenda Nova America permaneceram nos recônditos do meu coração, e o mês de Junho continuou sendo marcante e significativo para mim.
Foi também em uma noite de Junho que comecei o romance com a minha amada. Foi em uma festa Junina que começamos o namoro, que depois de algum tempo, resultou em casamento e a chegada de filhas queridas e amadas.
Foi em Junho que uma das minha filhas nasceu. Naquela bela e encantadora manhã de um sábado de sol brilhante e clima ameno, que Alline, minha segunda filha chegou, trazendo alegria e felicidade.  Vinha fazer companhia à linda menina Thais, que ansiava pela chegada da irmã.
Hoje, em Junho, além da alegria de comemorar meu natalício e da minha filha Alline, recebo a visita do menino Gabriel. Gabriel, aos três meses de idade vem também trazer alegria e felicidade, com seu sorriso encantador e suas brincadeiras de bebê.
Junho é assim para mim. Tão bom como os outros meses do ano - afinal a vida é algo de fantástico. Mas Junho, tem sim, algo de muito especial. Celebremos a vida. E viva Santo Antônio, São João e São Pedro.
Que o mês de Junho, que antecede as férias de Julho, seja sempre de muita alegria! Para enlevo do coração de um simples Poeta.

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sexta-feira, 10 de junho de 2016

FOLHA SECA, OUTONOS...




A leveza e a suavidade com que uma pequena folha seca ia e vinha, ao sabor do vento, sobre o asfalto daquela rodovia, impassível diante do carro ou do caminhão que transitava ali, mostrava que ela, a pequena folha, superava e suportava a tudo que se apresentava. Era apenas uma singela folha seca, que destemida diante dos gigantes da estrada, parecia não querer sair daquele lugar.
Embora o deslocamento de ar causado pelo trânsito de veículos insistisse em tirá-la do caminho, inexplicavelmente ela permanecia. Permanecia imóvel até que outro carro, caminhão ou motocicleta viesse movê-la.
Estava uma tarde espetacular de outono. O sol, encaminhava seus últimos momentos na jornada do dia. Despedia-se e dourava de luz e beleza a vegetação dos verdes campos daquela terra. O céu, de um azul suave, com algumas nuvens brancas que a cada momento variavam suas formas, parecia que, por pura cumplicidade com o sol, juntava-se a ele e completava a beleza da tarde, ao fim daquele dia.
O carro deslizava pelo asfalto, e a folha seca logo ficou pra trás. Era apenas uma rara e tênue lembrança dentre todos os fatos daquele dia. Ao fim das ultimas luzes da tarde cheguei ao meu destino e ao lado dos companheiros de viagem, dirigimo-nos ao teatro onde faríamos uma apresentação musical.
A rotina foi a mesma de cada show. Chegada, sendo sempre muito bem recebidos. Verificar o local, fazer vistoria técnica, organizar camarins, e após breve descanso, os músicos e o artista principal daquela apresentação, iriam passar o som.
A pequena folha seca, volta e meia permeava minhas lembranças. E com isso, minhas  reflexões vieram à tona. Comecei a lembrar o movimento da pequena, aparentemente frágil e indefesa folha seca com a vida, com o existir. Pensei como aquela folha saiu de um caule, tenra, pequenina, broto ainda. Depois, cresceu e foi apenas mais uma folha verde e viçosa junto com outras, em uma arvore imensa, grande. Teimosa, seguiu ali até o dia em que, perdendo o vigor, o viço, a cor verde deu lugar à amarela, e aos poucos foi secando. Outras vieram nova, um pouco mais no alto e a substituíram, e naquele outono, ela finalmente, desprendeu-se do caule que a sustentava e deixou-se levar pelo vento. Cumpria assim sua sina. Agora, era somente o esperar que alguma lavareda de fogo, ou algum inseto ou fungo, dela viesse se alimentar.
Mas a pequena folha, inquieta como era, aproveitou a força de um vento mais forte e deixou-se levar, pois queria conhecer outros lugares, outros mundos. Estava no outono, onde tantas outras folhas caíram junto com ela, mas ainda assim, permitiu-se conhecer o outro lado da vegetação, onde havia a estrada e movimento e sons que a encantavam.
Foi assim que a pequena folha chegou àquela tarde, àquele local na estrada, onde eu passava junto com amigos, indo para mais um trabalho, mais um show, mais uma produção.
Comparei a vida, o existir, com a imaginada trajetória da pequena e frágil folha. Poeticamente, situei cada momento dela com momentos da minha vida, onde os outonos chegam sempre.
Logo, serão muitos: cinquenta outonos vividos, completos. Passarei por esse outono, irei em busca de superar invernos, para chegar à primaveras de flores e amores e viver verões intensos. Assim, logo, mais um outro outono, no venturoso ciclo da vida.
E sempre com a inquietude de uma folha, que mesmo seca, frágil e indefesa, desprendida de seu caule, vai em busca de uma estrada, uma estrada de alegria, sons e movimentos.
Depois de mais um outono... Cinquenta outonos.