Na tarde desta sexta-feira, estive na acolhedora
Nova Veneza, cidade próxima à minha Goiânia querida, com a agradável missão de
proferir uma palestra, cujo tema seria literatura e a importância da boa
leitura, para apresentação de projetos culturais nas diversas leis de incentivo,
cujos editais estão abertos no estado de Goiás.
Ao chegar ao local do evento, o centro
cultural da cidade, enquanto aguardava que o local fosse aberto e o pessoal
chegasse, fiquei a observar o movimento em redor.
Não pude deixar de notar algumas casas
antigas, em sequencia, construídas rente à rua, com telhados em forma de “quatro-águas”
e cobertos por telhas francesas. As portas e janelas eram de madeira e em todas
elas, ao centro, tinha um pequeno alpendre, como que para melhor acolher a
todos que àquela casa se dirigiam.
Fitei demoradamente aquela construção e não
tive como deixar de me emocionar. De imediato fui aos recônditos de minhas
saudades e me encontrei na pequenina cidade onde passei grande parte da minha
infância – logo após meus pais deixarem a Fazenda Nova América e partirem para
a cidade.
A casa em que morávamos, em um bairro chamado
“Alto alegre”, como as casas antigas de nova Veneza, também tinha telhados de “quatro-aguas” e um pequeno alpendre.
O alpendre era, àquela época, um cômodo
obrigatório nas casas. Ali, o visitante antes de bater à porta, se abrigava do
sol ou da chuva e se estivesse cansado, podia sentar nas pequenas muretas que
ficavam na frente.
O alpendre também era um lugar onde se
sentava para conversar, em confortáveis e aconchegantes cadeiras de fio
plástico que sempre ali ficavam. Não obstante o alpendre ficar para a rua e ser
aberto, sem nenhuma grade a proteger, naquele tempo as cadeiras se acabavam de
velhas, pois ninguém as tirava dali.
Era local preferido pelos casais de
namorados. Primeiro pela comodidade das muretas, onde podiam se sentar e se abraçar,
e ainda pela distancia do movimento da casa, onde circulavam as pessoas.
Nos alpendres, em madrugadas românticas as
moças recebiam serenatas, e não raro, seus pretendentes deixavam ali cartas de
amor acompanhadas por buquês de rosas. Era um tempo em que se faziam serenatas,
se deixavam rosas e ainda se podia sair pelas ruas livres, libertos e sem medo
algum. As serenatas e os alpendres, hoje são somente saudade.
Absorto que estava, demorei a perceber que
me chamavam para a abertura do evento. Sai dali, e fui para a minha missão
daquele dia. Concentrei-me na palestra e com alegria, cumpri meu trabalho da
tarde.
E assim que deixei o centro cultural, meus
olhos levados pelo coração, imediatamente procuraram aquela casa, aquela construção
antiga, que tanto se parecia com a casa onde passei a infância. Imaginei o
quanta gente pode ter sido feliz sob aquele telhado e no acolhedor alpendre.
Alpendres hoje, somente nas lembranças
guardadas nos recônditos do coração. Nos alpendres refeitos pela minha saudade.
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