sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

NOS ALPENDRES DA MINHA SAUDADE


Na tarde desta sexta-feira, estive na acolhedora Nova Veneza, cidade próxima à minha Goiânia querida, com a agradável missão de proferir uma palestra, cujo tema seria literatura e a importância da boa leitura, para apresentação de projetos culturais nas diversas leis de incentivo, cujos editais estão abertos no estado de Goiás.
Ao chegar ao local do evento, o centro cultural da cidade, enquanto aguardava que o local fosse aberto e o pessoal chegasse, fiquei a observar o movimento em redor.
Não pude deixar de notar algumas casas antigas, em sequencia, construídas rente à rua, com telhados em forma de “quatro-águas” e cobertos por telhas francesas. As portas e janelas eram de madeira e em todas elas, ao centro, tinha um pequeno alpendre, como que para melhor acolher a todos que àquela casa se dirigiam.
Fitei demoradamente aquela construção e não tive como deixar de me emocionar. De imediato fui aos recônditos de minhas saudades e me encontrei na pequenina cidade onde passei grande parte da minha infância – logo após meus pais deixarem a Fazenda Nova América e partirem para a cidade.
A casa em que morávamos, em um bairro chamado “Alto alegre”, como as casas antigas de nova Veneza, também tinha telhados de           “quatro-aguas” e um pequeno alpendre.
O alpendre era, àquela época, um cômodo obrigatório nas casas. Ali, o visitante antes de bater à porta, se abrigava do sol ou da chuva e se estivesse cansado, podia sentar nas pequenas muretas que ficavam na frente.
O alpendre também era um lugar onde se sentava para conversar, em confortáveis e aconchegantes cadeiras de fio plástico que sempre ali ficavam. Não obstante o alpendre ficar para a rua e ser aberto, sem nenhuma grade a proteger, naquele tempo as cadeiras se acabavam de velhas, pois ninguém as tirava dali.
Era local preferido pelos casais de namorados. Primeiro pela comodidade das muretas, onde podiam se sentar e se abraçar, e ainda pela distancia do movimento da casa, onde circulavam as pessoas.
Nos alpendres, em madrugadas românticas as moças recebiam serenatas, e não raro, seus pretendentes deixavam ali cartas de amor acompanhadas por buquês de rosas. Era um tempo em que se faziam serenatas, se deixavam rosas e ainda se podia sair pelas ruas livres, libertos e sem medo algum. As serenatas e os alpendres, hoje são somente saudade.
Absorto que estava, demorei a perceber que me chamavam para a abertura do evento. Sai dali, e fui para a minha missão daquele dia. Concentrei-me na palestra e com alegria, cumpri meu trabalho da tarde.
E assim que deixei o centro cultural, meus olhos levados pelo coração, imediatamente procuraram aquela casa, aquela construção antiga, que tanto se parecia com a casa onde passei a infância. Imaginei o quanta gente pode ter sido feliz sob aquele telhado e no acolhedor alpendre.
Alpendres hoje, somente nas lembranças guardadas nos recônditos do coração. Nos alpendres refeitos pela minha saudade.


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