O menino da Rua São Pedro está volta ao lugar de onde seu coração nunca
saiu. Aquelas calçadas em frente às casas, os paralelepípedos - que o tempo se
encarregou de torna-los lisos - de um negror quase brilhante estão no mesmo lugar,
como a querer saber o porquê do menino estar por tanto tempo tão distante, sem pisá-los
com os pés descalços, como a acariciá-los.
E onde estará a velha e antiga bola de meia, onde o menino, juntamente
com seus amigos vizinhos, se punha a correr atrás, em alegre e ruidosa
brincadeira? E aquele céu azul de mês de abril, em que soltavam pipas, que
sumiam no horizonte, levando às alturas os sonhos adolescentes?
A Rua são Pedro hoje está silenciosa. Silenciosa, a ponto de permitir ouvir-se
somente o bater apressado do coração do menino que volta no tempo. As flores
dos jardins em frente às casas parecem ser as mesmas. As cores desbotadas das
fachadas das casas simples, não mudaram. Talvez os quintais ainda sejam os
mesmos e nas varandas dos fundos das casas, e as velhas senhoras matriarcas
ainda se ponham a falar de dificuldades, de
saudades e desejos de bem aventurança.
Nos quintais, as arvores antigas ainda estarão lá... A velha mangueira,
generosa e sempre com a sombra amiga oferecia flores, frutos e abrigo para os
pássaros. Os pés de seriguela, o imenso e imponente pé de cajá rivalizava com o
pé de jenipapo em pujança, confrontado com o belo abacateiro. Era um tempo em
que havia quintais...
De volta á rua, o menino desvia o olhar e volta a face para a velha
construção, de portas de madeira, com pintura apagada e que se abriam para a
freguesia entrar no velho armazém. O armazém da Rua São Pedro. Agora, de portas
fechadas. Mas o menino ainda se lembra da velha caderneta, em que se anotavam
as compras vendidas à prazo, e de onde ele um dia pegou um pedaço de folha
branca e se atreveu a fazer um poema, buscado no coração, para aquela menina
linda, que o fazia sonhar...
Atrás dos balcões marcados pelo tempo do velho armazém, a saudade refaz a
imagem da saudade do velho patriarca, de mãos grossas e dedos longos, que do
alto de sua sabedoria se punha aconselhar os mais jovens - para que se tornassem
homens honrados, mas sem jamais perder princípios com generosidade e solidariedade.
Ah, Rua São Pedro. Seu menino está de volta. Está de volta, caminhando
descalço pelas suas pedras lisas, com o coração imerso na saudade e com os
olhos marejados. Coração que nunca saiu dali, nunca deixou aquele lugar. Não
obstante as asas da Pan Air o terem levado para outros cantos, para outras
terras, onde o menino tornou-se homem, tornou pai e avô. Mas continua a ser o
menino. O menino que ao olhar os arredores de sua cidade teve a certeza que
poderia remover montanhas russas, realizando seus sonhos.
Na Rua São Pedro, o menino um dia escreveu poemas para a amada, declamado
e difundido em velhas radiadoras, unidas pelo fio da esperança.
As ondas do rádio se encarregaram de espalhar ainda mais poesia e
sentimentos. E assim, a amada trouxe aconchego e ternura e assim, ao lado do
menino construiu castelos de sonhos alicerçados em realidades.
A Rua São Pedro está lá. Recebe o menino com suas pedras e com seu
encanto. O menino da Rua São Pedro está lá hoje, em velhas pedras de saudade!