sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

O MENINO DA RUA SÃO PEDRO




O menino da Rua São Pedro está volta ao lugar de onde seu coração nunca saiu. Aquelas calçadas em frente às casas, os paralelepípedos - que o tempo se encarregou de torna-los lisos - de um negror quase brilhante estão no mesmo lugar, como a querer saber o porquê do menino estar por tanto tempo tão distante, sem pisá-los com os pés descalços, como a acariciá-los.
E onde estará a velha e antiga bola de meia, onde o menino, juntamente com seus amigos vizinhos, se punha a correr atrás, em alegre e ruidosa brincadeira? E aquele céu azul de mês de abril, em que soltavam pipas, que sumiam no horizonte, levando às alturas os sonhos adolescentes?
A Rua são Pedro hoje está silenciosa. Silenciosa, a ponto de permitir ouvir-se somente o bater apressado do coração do menino que volta no tempo. As flores dos jardins em frente às casas parecem ser as mesmas. As cores desbotadas das fachadas das casas simples, não mudaram. Talvez os quintais ainda sejam os mesmos e nas varandas dos fundos das casas, e as velhas senhoras matriarcas ainda se ponham a falar de dificuldades, de  saudades e desejos de bem aventurança.
Nos quintais, as arvores antigas ainda estarão lá... A velha mangueira, generosa e sempre com a sombra amiga oferecia flores, frutos e abrigo para os pássaros. Os pés de seriguela, o imenso e imponente pé de cajá rivalizava com o pé de jenipapo em pujança, confrontado com o belo abacateiro. Era um tempo em que havia quintais...
De volta á rua, o menino desvia o olhar e volta a face para a velha construção, de portas de madeira, com pintura apagada e que se abriam para a freguesia entrar no velho armazém. O armazém da Rua São Pedro. Agora, de portas fechadas. Mas o menino ainda se lembra da velha caderneta, em que se anotavam as compras vendidas à prazo, e de onde ele um dia pegou um pedaço de folha branca e se atreveu a fazer um poema, buscado no coração, para aquela menina linda, que o fazia sonhar...
Atrás dos balcões marcados pelo tempo do velho armazém, a saudade refaz a imagem da saudade do velho patriarca, de mãos grossas e dedos longos, que do alto de sua sabedoria se punha aconselhar os mais jovens - para que se tornassem homens honrados, mas sem jamais perder princípios com generosidade e solidariedade.
Ah, Rua São Pedro. Seu menino está de volta. Está de volta, caminhando descalço pelas suas pedras lisas, com o coração imerso na saudade e com os olhos marejados. Coração que nunca saiu dali, nunca deixou aquele lugar. Não obstante as asas da Pan Air o terem levado para outros cantos, para outras terras, onde o menino tornou-se homem, tornou pai e avô. Mas continua a ser o menino. O menino que ao olhar os arredores de sua cidade teve a certeza que poderia remover montanhas russas, realizando seus sonhos.
Na Rua São Pedro, o menino um dia escreveu poemas para a amada, declamado e difundido em velhas radiadoras, unidas pelo fio da esperança.
As ondas do rádio se encarregaram de espalhar ainda mais poesia e sentimentos. E assim, a amada trouxe aconchego e ternura e assim, ao lado do menino construiu castelos de sonhos alicerçados em realidades.
A Rua São Pedro está lá. Recebe o menino com suas pedras e com seu encanto. O menino da Rua São Pedro está lá hoje, em velhas pedras de saudade!



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