sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

VENTOS DO NORTE, CHUVA DE VERÃO




Os ventos fortes que sopram, vindos do norte, trazem consigo o prenúncio de chuva forte. Nuvens densas e baixas dão a impressão de uma quase noite, tal a intensidade com que vêm. Certeza de muita água por cair.
Ao chegar ao meu destino, ainda ao abrir o portão, recebo no rosto os primeiros pingos de chuva. E eles vêm grossos, muitos e fortes. Ao adentrar minha casa, sinto-me em segurança, no aconchego que representa meu canto.
A chuva prossegue, agora com ventos ainda mais fortes, que trazem a sensação de frio.  Ouço no telhado o barulho típico de granizo e ao ir até a varanda, vejo inúmeras pedrinhas de gelo caindo dos céus.
Eu gosto de chuva, não importa se daquelas calmas, médias ou fortes, como a dessa tarde que descrevo. Chuva é fertilidade, é renovação, certeza de ciclos que trazem o maravilhoso seguir da vida.
Nesse pensamento, me deixo enlevar pelo bailado irregular das pedrinhas de granizo que caem à minha frente. Protegido pelo telhado da varanda de casa, observo como a chuva e o vento se entendem, cada um em seu compasso, em sua nota musical, apresentando uma sinfonia regida pela mãe natureza.
E aos poucos, depois da tormenta, tudo foi se acalmando. Como em um passe de mágica, a chuva se foi e o vento deu lugar a leve brisa. O negror das nuvens de há pouco e o claro característico da chuva deram lugar à plácida tarde de céu de um azul tímido, calmo, como que a pedir para ficar ali. O sol, logo voltou a brilhar com seus raios longos e imponentes, dividindo espaços com as poucas nuvens que ainda restam, mostrando toda a sua beleza.
Eu, que há pouco me deliciava com o vigor e pujança da chuva, que mesmo em grande volume, parecia trazer certa poesia no bailado das pedrinhas, no contraste entre o momento em que caiam e se integravam à agua que corria no piso cimentado, agora fico deslumbrado com o cenário que vejo.
O céu, abraçado e emoldurado pela luz do sol de verão, com um dourado de indescritível beleza. Nesse mesmo céu, pássaros a voar para lá e para cá, como a agradecer à mãe natureza a presença da irmã chuva, que trouxe certeza de alimento e vida a eles.
E ao me dirigir ao quintal, as arvores estão em um tom verde, que parece  sorriso de agradecimento. E as outrora pequeninas, agora já grandes, touceiras do milho plantado em dezembro, me fizeram voltar aos tempos de criança, quando ia com o meu querido e saudoso pai às roças de milho e arroz da Fazenda Nova América.
Despertou em mim mais ainda a saudade, ao perceber o aroma das goiabas vermelhas que, caídas pela força do vento, se espalhavam pelo chão.
Fico a refletir o quanto é sábia a natureza: de um momento de tormenta, de chuva forte, com pedras de granizo caindo, a uma tarde maravilhosa e perfeita, com nuances de luz de sol poente e cheiro de terra molhada, o maravilhoso espetáculo do existir.
Que seja sempre assim a vida: depois de tormentas e chuvas que trazem pedras, venha uma tarde de luz e beleza.
Como na tarde mágica, de uma chuva de verão.




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