Os ventos fortes que sopram, vindos
do norte, trazem consigo o prenúncio de chuva forte. Nuvens densas e baixas dão
a impressão de uma quase noite, tal a intensidade com que vêm. Certeza de muita
água por cair.
Ao chegar ao meu destino, ainda ao
abrir o portão, recebo no rosto os primeiros pingos de chuva. E eles vêm grossos,
muitos e fortes. Ao adentrar minha casa, sinto-me em segurança, no aconchego
que representa meu canto.
A chuva prossegue, agora com ventos
ainda mais fortes, que trazem a sensação de frio. Ouço no telhado o barulho típico de granizo e
ao ir até a varanda, vejo inúmeras pedrinhas de gelo caindo dos céus.
Eu gosto de chuva, não importa se
daquelas calmas, médias ou fortes, como a dessa tarde que descrevo. Chuva é fertilidade,
é renovação, certeza de ciclos que trazem o maravilhoso seguir da vida.
Nesse pensamento, me deixo enlevar
pelo bailado irregular das pedrinhas de granizo que caem à minha frente. Protegido
pelo telhado da varanda de casa, observo como a chuva e o vento se entendem,
cada um em seu compasso, em sua nota musical, apresentando uma sinfonia regida pela mãe natureza.
E aos poucos, depois da tormenta,
tudo foi se acalmando. Como em um passe de mágica, a chuva se foi e o vento deu
lugar a leve brisa. O negror das nuvens de há pouco e o claro característico da
chuva deram lugar à plácida tarde de céu de um azul tímido, calmo, como que a
pedir para ficar ali. O sol, logo voltou a brilhar com seus raios longos e imponentes,
dividindo espaços com as poucas nuvens que ainda restam, mostrando toda a sua
beleza.
Eu, que há pouco me deliciava com o
vigor e pujança da chuva, que mesmo em grande volume, parecia trazer certa
poesia no bailado das pedrinhas, no contraste entre o momento em que caiam e se
integravam à agua que corria no piso cimentado, agora fico deslumbrado com o cenário
que vejo.
O céu, abraçado e emoldurado pela luz
do sol de verão, com um dourado de indescritível beleza. Nesse mesmo céu, pássaros
a voar para lá e para cá, como a agradecer à mãe natureza a presença da irmã
chuva, que trouxe certeza de alimento e vida a eles.
E ao me dirigir ao quintal, as
arvores estão em um tom verde, que parece sorriso de agradecimento. E as outrora
pequeninas, agora já grandes, touceiras do milho plantado em dezembro, me
fizeram voltar aos tempos de criança, quando ia com o meu querido e saudoso pai
às roças de milho e arroz da Fazenda Nova América.
Despertou em mim mais ainda a
saudade, ao perceber o aroma das goiabas vermelhas que, caídas pela força do
vento, se espalhavam pelo chão.
Fico a refletir o quanto é sábia a
natureza: de um momento de tormenta, de chuva forte, com pedras de granizo caindo,
a uma tarde maravilhosa e perfeita, com nuances de luz de sol poente e cheiro
de terra molhada, o maravilhoso espetáculo do existir.
Que seja sempre assim a vida:
depois de tormentas e chuvas que trazem pedras, venha uma tarde de luz e
beleza.
Como na tarde mágica, de uma chuva
de verão.
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