Nas últimas semanas,
enquanto a população de Goiânia clamava por chuva e água nas torneiras, a paisagem
nas ruas da cidade era o retrato fiel do clima. O excesso de carros, não
obstante a maioria das avenidas serem largas e amplas, trazia a sensação de
sufoco e de imobilidade.
As árvores
que ornamentam a cidade parecem dividir a agonia trazida pelo calor intenso,
pelo clima com umidade próxima do zero, comparável aos maiores e mais secos
desertos do mundo. Às vezes, uma rara, graciosa e furtiva brisa movimenta os
galhos, com poucas folhas, mostrando ainda assim que a natureza apesar de tudo
resiste e está viva.
Em Goiânia, em algumas avenidas prevalecem imponentes e belos flamboyants. No outono ficam com
a aparência judiada, após deixar cair as folhas, ficando somente os galhos
com aparência de ressequidos e de uma tonalidade negra. Têm a aparência de uma arvore fadada ao fim.
Mas, eis que chega a
primavera, a mais bela das estações, e ainda que as chuvas não tenham dado o ar
da graça, começa-se a notar que cachos de futuras flores estão saindo de seus
galhos. É como se respondessem às indagações dos motoristas, que o tempo não
ajuda e a chuva está demorando muito a vir. A mensagem dos cachos que logo hão
de virar belas e majestosas flores é que apesar da sequidão e do calor, a vida
continua, apesar dos maus tratos que a mãe natureza recebe.
O flamboyant é o símbolo
pujante da primavera em Goiânia. Passado o tempo e antes que viessem ainda que
tardiamente as primeiras chuvas, em uma manhã de de sol brilhante ele aparece todo
coberto de flores. Flores vermelhas, amarelas, alaranjadas e algumas de um tom cinza
forte, meio que voltado para o azul. A força que vem através dessas flores, apesar
do tronco ainda ressequido e do clima quente e abafado, enche a vida de beleza
e alegria. Os flamboyants parecem nos dizer que de fato a primavera chegou.
E com a presença das inúmeras
flores começa-se a ver que no céu as nuvens que andavam sumidas e fugidias, se
aproximaram e juntas parecem mais densas. Como se concordassem com a alegria, a
resistência e força das flores que os flamboyants desabrocharam. E com isso,
parecem ter trazido para si a responsabilidade de mostrar que era hora de
mandar chuva, para alivio de todos.
Às vezes sou flamboyant.
Não obstante em alguns outonos da vida perder folhas, e o tronco ficar
fragilizado, o coração e a poesia fazem com que logo flores apareçam e tragam
novamente a alegria.
Comparo a chegada das
chuvas que trouxeram acalento, com a poesia que flui do coração. Não obstante
momentos de incerteza e dificuldade.
O flamboyant e a vida,
a vida e os flamboyants: sempre com a perspectiva e esperança de flores e a
certeza que após o outono, a primavera chega. Com renovação, flores e muita,
muita beleza. E também alegria e felicidade.
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