sexta-feira, 24 de novembro de 2017

DIVAGAÇÕES




Nesses dias longos de primavera e horário de verão, ao amanhecer tenho a mania de me colocar a observar os sinais da natureza. As noites em sua maioria de clima quente me fazem ensejar que logo pela manhã, eu encontre o tempo nublado ou ainda que encontre a cair no chão os pingos alegres e irreverentes da chuva.
Estamos chegando ao final de novembro e esse ano, em poucas ocasiões a chuva veio de verdade forte e volumosa. Mas mesmo pouca, foi suficiente para que proporcionasse um certo alivio no nível dos rios e ribeirões que abastecem Goiânia e região metropolitana; porém a preocupação continua.
Observar sinais no céu me trazem sempre a lembrança de meu querido e saudoso pai. Era comum logo após o mês de agosto, quando a primavera dava sinais que em breve se apresentaria, que ele ficasse todos os dias por alguns momentos a contemplar o infinito. Procurava sinais nas nuvens, na barra do dia, no voo dos pássaros, nas flores das arvores que ficavam ali perto, e à tarde, observava a barra do poente e se havia grupos de patos a voar em formação e absoluta disciplina, para lá e para cá.
À noite, ali perto do fogão à lenha, enquanto organizava alguma coisa, eu ouvia ele comentar com minha mãe que “nesses quinze dias chove”, ou “semana que entra teremos chuva”. A “previsão” do tempo de meu pai era absolutamente precisa. Não tinha erro. E após essas constatações, ele preparava as sementes, azeitava as matracas e com a vinda da chuva, ele estava a jogar a semente na terra. Renovação de ciclos, certeza de alimento e fartura naqueles tempos difíceis, de labuta árdua, mas que sempre se encontrava motivos para ser felizes.
Hoje, enquanto observo se a manhã trouxe chuva ou sol de primavera, me vejo diante de lembranças da minha infância. Não poderia afirmar se a sabedoria ancestral que meu pai detinha teria eficácia hoje. Não que seu conhecimento fosse pequeno, é que simplesmente nos dias atuais, o homem, com suas intervenções desastrosas cada vez mais colhe o fruto de sua inconsequência ante a natureza.
A modernidade atual traz todos os dias a previsão do tempo em horário nobre e em rede nacional. Traz a informação de especialistas em previsão do tempo para hoje à noite, amanhã, daqui dez dias, um mês. Mas nem sempre acertam. A natureza sempre dá um jeito de manter seus segredos e seus mistérios.
Nessas divagações, percebo pela minha janela o barulho gostoso de pequenas gotas batendo sobre a planta que fica no muro que separa minha casa do vizinho. E esses pingos de chuva é que me trazem saudade.
Saudade de tempos que, por mais difíceis que fossem, podia-se tomar banho em riacho, tomava-se a bênção aos mais velhos, era comum e rotineiro sentar toda a família para o jantar e depois, as conversas e saraus no alpendre ao som de violão plangente e do declamar de versos poéticos. Até que o cansaço viesse e eu encontrasse um colo de mãe onde adormecia. Até que nova manhã viesse me despertar, com chuva ou sol.
Divagações do coração. De pura saudade.




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