Nesses dias longos de
primavera e horário de verão, ao amanhecer tenho a mania de me colocar a observar
os sinais da natureza. As noites em sua maioria de clima quente me fazem ensejar
que logo pela manhã, eu encontre o tempo nublado ou ainda que encontre a cair
no chão os pingos alegres e irreverentes da chuva.
Estamos chegando ao
final de novembro e esse ano, em poucas ocasiões a chuva veio de verdade forte
e volumosa. Mas mesmo pouca, foi suficiente para que proporcionasse um certo alivio
no nível dos rios e ribeirões que abastecem Goiânia e região metropolitana;
porém a preocupação continua.
Observar sinais no céu
me trazem sempre a lembrança de meu querido e saudoso pai. Era comum logo após
o mês de agosto, quando a primavera dava sinais que em breve se apresentaria,
que ele ficasse todos os dias por alguns momentos a contemplar o infinito. Procurava
sinais nas nuvens, na barra do dia, no voo dos pássaros, nas flores das arvores
que ficavam ali perto, e à tarde, observava a barra do poente e se havia grupos
de patos a voar em formação e absoluta disciplina, para lá e para cá.
À noite, ali perto do
fogão à lenha, enquanto organizava alguma coisa, eu ouvia ele comentar com
minha mãe que “nesses quinze dias chove”, ou “semana que entra teremos chuva”. A
“previsão” do tempo de meu pai era absolutamente precisa. Não tinha erro. E após
essas constatações, ele preparava as sementes, azeitava as matracas e com a
vinda da chuva, ele estava a jogar a semente na terra. Renovação de ciclos,
certeza de alimento e fartura naqueles tempos difíceis, de labuta árdua, mas que
sempre se encontrava motivos para ser felizes.
Hoje, enquanto observo
se a manhã trouxe chuva ou sol de primavera, me vejo diante de lembranças da
minha infância. Não poderia afirmar se a sabedoria ancestral que meu pai
detinha teria eficácia hoje. Não que seu conhecimento fosse pequeno, é que
simplesmente nos dias atuais, o homem, com suas intervenções desastrosas cada
vez mais colhe o fruto de sua inconsequência ante a natureza.
A modernidade atual
traz todos os dias a previsão do tempo em horário nobre e em rede nacional. Traz
a informação de especialistas em previsão do tempo para hoje à
noite, amanhã, daqui dez dias, um mês. Mas nem sempre acertam. A natureza
sempre dá um jeito de manter seus segredos e seus mistérios.
Nessas divagações,
percebo pela minha janela o barulho gostoso de pequenas gotas batendo sobre a
planta que fica no muro que separa minha casa do vizinho. E esses pingos de
chuva é que me trazem saudade.
Saudade de tempos que,
por mais difíceis que fossem, podia-se tomar banho em riacho, tomava-se a
bênção aos mais velhos, era comum e rotineiro sentar toda a família para o jantar e depois, as conversas e saraus no alpendre ao som de violão plangente e
do declamar de versos poéticos. Até que o cansaço viesse e eu encontrasse um
colo de mãe onde adormecia. Até que nova manhã viesse me despertar, com chuva
ou sol.
Divagações do coração. De
pura saudade.
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