Na crise, quando líderes que deveriam ser grandes no aspecto de
caráter, firmeza de decisões e capacidade de articulação, gestão e organização,
se portam como meninos birrentos de escola, o mais imediato resultado é que
adversários ou aliados fracos acabam se sobressaindo, mostrando aos poucos suas
vontades, ambições e aspirações pessoais, crescendo à medida que o dito líder
se diminui, se apequena.
É o que está acontecendo no Brasil hoje. O presidente Bolsonaro, que
teve no pleito de 2018 o apoio de mais
de 57 milhões de brasileiros que o elegeram, cansados da roubalheira, da
pilhagem perpetrada contra a coisa pública, por uma poderosa e tentacular
organização criminosa, segundo a PGR/MPF e a Polícia Federal, confirmada pelas
instâncias da justiça brasileira, se mostra cada vez menor, mais incapaz,
jogando para outros a responsabilidade de sua imensa incapacidade de governar,
articular e acima de tudo, trabalhar para a solução dos grandes problemas
nacionais, que apesar da urgência do combate e prevenção ao Covid-19, não
acabaram. Até pelo contrário, se potencializaram. Estão apenas relegados a
segundo plano nas matérias prioritárias dos informativos, pela força impiedosa
do crescimento do Covid-19.
Um dos principais problemas do presidente, além das agressões a
profissionais e veículos de comunicação, é o ciúme, que ao que parece, é
alimentado e fomentado por seus filhos, que embora tenham cadeira em
parlamentos, se arvoram em circular no gabinete da presidência, não perdendo
uma só chance de estarem sob os holofotes.
Foi assim que, por esse ciúme, doentio até, geraram desnecessárias
crises que quase afastaram o ministro Sérgio Moro, unanimidade nacional e um
dos poucos do governo a manter popularidade e credibilidade.
E é o que acontece com o Ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta.
Bastou, pelo seu cargo, ser figura proeminente no esclarecimento e nas ações de
combate ao vírus, que o ciúme se generalizou e o presidente mostrando-se fraco,
manda recados, lembrando a todo momento que “o presidente é ele”. Fraqueza,
ciúme, insegurança e arrogância não são predicados de um estadista, que é o que
o país precisa nesse momento. E o pior: passam os dias e o presidente da
república dá sequência àquilo que se chama de “fritura” do ministro da saúde,
algo já ocorrido em seu governo com os ministros Moro e Paulo Guedes.
E nesse vácuo, com constantes oscilações da popularidade e
credibilidade – sempre para baixo - do presidente, surgem figuras como o
presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia e o presidente da suprema
corte, ministro Dias Tóffoli, ambos em nada benquistos pelo povo brasileiro.
É interessante e até constrangedor a desenvoltura com que tentam ocupar
espaços, aproveitando a ineficácia e pouca inteligência do governo. Maia, cuja alcunha na Lava Jato é "Botafogo", conhecido de investigações da Polícia Federal e do Ministério Público, se notabilizou por procrastinar ou sequer colocar em
pauta votações de temas importantes, que os brasileiros ansiavam, dentre elas o
fim do foro privilegiado.
Aliado a um grupo denominado “Centrão”, que claramente trabalha contra
o país e não tem nenhum compromisso com os anseios do brasileiro de bem, estão preocupados
em somente garantir a impunidade e a certeza que o crime no Brasil, para certas
organizações criminosas e seus figurões, a maioria da política, é algo
vantajoso e cada vez mais distante das garras da justiça.
Maia, nascido no Chile, pouco se importa com o que os brasileiros
pensam. Quer é, de uma maneira ou de outra, se garantir para os próximos anos,
como líder de um grupo em uma casa de leis que cada vez mais, por sua atuação e
da maioria de seus pares, cai no descrédito popular.
Em outra vertente, Tóffoli tenta se mostrar como conciliador, estadista
e líder, mas se esquece que o povo está cansado das mordomias, atitudes e atos
de ministros da suprema corte, que também está no limbo da aversão popular. Que
o digam os mais de duzentos mil reais empenhados para os lanchinhos do ministro
e seus convidados, a serem servidos a bordo dos jatinhos da FAB em suas
inúmeras viagens, cujo ato só foi cancelado após ser amplamente divulgado pela
imprensa. E mais recentemente, a censura à divulgação de agendas, viagens a
possivelmente, atos de seus pares.
O fato é que preocupa e muito a situação pela qual passa o país. O
presidente da república cada vez mais se apequena, aparentemente perdido, mal
orientado, sem rumo e sem a menor noção da sua importância em um momento como
este.
E pequenos e inexpressivos líderes tentam aparecer, dominar, ocupar
espaços, mas pela própria natureza e falta de credibilidade, não conseguem. O
problema é que, lembrando Rui Barbosa, de tanto insistirem, o poder venha a se
agigantar nas mãos dos maus, ainda que pequenos e desprovidos do que o país
precisa: além de caráter, honradez e idoneidade, capacidade de liderança e de
conduzir bem nossos destinos rumo a um futuro melhor.
Salvo melhor juízo.
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Texto lúcido e repleto de verdades que todos nós precisávamos falar. Parabéns, confrade Paulo Rolim.
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