Imagem: Acervo Pessoal João Bill - Página Facebook |
“Se queres ser universal, começa por pintar a tua aldeia”. (Atribuído ao Lev Nikolaevitch Tolstoi – escritor russo)
Quando menino,
caminhava pelas ruas empoeiradas de saudade da minha infância na pequena e
saudosa São Miguel do Araguaia e intimamente, repleto de curiosidade procurava perceber
o significado do nome dos logradouros da cidade. As Avenidas, essas eram de fácil
compreensão – à época o núcleo urbano era bem restrito – pois traziam nomes de
estados brasileiros como Avenida Pará, Goiás, Mato Grosso, Minas Gerais, além
de nomes de heróis de expressão nacional como Tiradentes – que na minha inocência
de menino pensava ser uma homenagem a um comerciante da cidade – além de Pedro
Álvares Cabral.
Já as ruas que cruzam as avenidas, conhecidas
por números – Rua Dois, Três, Quatro, Cinco, Nove, indo até a Rua Onze, nas proximidades
do local onde hoje é a Igreja Assembleia de Deus e a estação rodoviária, que
naqueles tempos antigos abrigava um barulhento “motor de luz’, ou, um potente gerador
de energia elétrica movido a óleo diesel que, em algumas horas do dia abastecia
a população. A exceção era aquela que deveria ser a Rua Um, que ganhou nome de
Avenida Paranaíba.
Mas quando ia
para a Praça – Ovídio Martins – e pela avenida chamada por muitos como “A Principal”
– Avenida José Pereira do Nascimento – a dúvida era imediata: quem era o senhor
que originou o nome da aprazível pracinha, ou da movimentada e importante
avenida que cortava – e ainda corta – toda a cidade? Sem contar nomes de
instituições que estudei, como a Escola Paroquial São Miguel Arcanjo, e o Colégio
Estadual Dr. Dorival Brandão de Andrade – quem teria sido esse “importante”
personagem que emprestou o nome à escola onde praticamente todos os jovens da cidade
estudaram?
E quem eram os
personagens que circulavam pelas ruas, muitos de casa em casa ou simplesmente presentes
nos eventos da cidade, como Vani Aroeira, Adão Doido, Bom, além de Rufino,
Velho Jacó...
Haviam aqueles
dirigentes que como leigos, focavam a vida religiosa e ao lado de padres, pastores e professores contribuíam sobremaneira para que a infância e adolescência
seguissem em uma jornada normal e venturosa.
As paixões da adolescência
naturalmente vieram e começavam na escola, depois nos encontros dominicais dos
grupos de jovens nas igrejas e continuavam na Praça Ovidio Martins, palco de muitos inícios de vida a dois, onde olhares furtivos e tímidos algumas vezes evoluíam para uma sessão
de cinema no velho e saudoso Cine São Miguel, do Sr. Odorico e da Dona Genu.
Sem contar que
o Majestoso e belo Rio Araguaia que traz no seio de suas águas os mistérios da
Nação Karajá “Ny Mahãdu”, e que tem
como principal porta de entrada a partir de São Miguel o Distrito de Luiz
Alves. Quem teria sido esse senhor Luiz? Ou, importante também mensurar e procurar
saber quem foram os pioneiros daquele rincão outrora distante que, primeiro
teve ligação com Leopoldina (Aruanâ) e em sentindo inverso, Couto Magalhães (Presidio
de Santa Maria) que apenas tardiamente pôde ligar-se a São Miguel através da
ação de homens corajosos e audazes, que abrindo picadas, tornaram isso possível
É muita história
a ser registrada e contada.
Como na célebre
frase atribuída a Leon Tolstoi, me sinto compelido a pintar minha aldeia pelos
caminhos da literatura, através das cores da saudade e das lembranças ainda vivas
nas pessoas que fizeram e ainda fazem parte da história e da vida de minha cidade.
Canta tua
aldeia e serás feliz!
Uma crônica telúrica, retrato perfeito do deslumbramento infantil que se projeta em belas imagens carregadas de emocionante saudosismo
ResponderExcluirAs vezes ser velho/a é privilégio...rsrsrs fazia esses questionamentos qdo criança, na adolescência busquei as respostas.
ResponderExcluirNessas ruas e praças boas histórias,...serenats