quarta-feira, 11 de outubro de 2023

DE SÃO MIGUEL A LUIZ ALVES - MEMÓRIAS DA PONTA DA LINHA


Imagem: Acervo Pessoal João Bill - Página Facebook

“Se queres ser universal, começa por pintar a tua aldeia”. (Atribuído ao Lev Nikolaevitch Tolstoi – escritor russo)

Quando menino, caminhava pelas ruas empoeiradas de saudade da minha infância na pequena e saudosa São Miguel do Araguaia e intimamente, repleto de curiosidade procurava perceber o significado do nome dos logradouros da cidade. As Avenidas, essas eram de fácil compreensão – à época o núcleo urbano era bem restrito – pois traziam nomes de estados brasileiros como Avenida Pará, Goiás, Mato Grosso, Minas Gerais, além de nomes de heróis de expressão nacional como Tiradentes – que na minha inocência de menino pensava ser uma homenagem a um comerciante da cidade – além de Pedro Álvares Cabral.

            Já as ruas que cruzam as avenidas, conhecidas por números – Rua Dois, Três, Quatro, Cinco, Nove, indo até a Rua Onze, nas proximidades do local onde hoje é a Igreja Assembleia de Deus e a estação rodoviária, que naqueles tempos antigos abrigava um barulhento “motor de luz’, ou, um potente gerador de energia elétrica movido a óleo diesel que, em algumas horas do dia abastecia a população. A exceção era aquela que deveria ser a Rua Um, que ganhou nome de Avenida Paranaíba.

Mas quando ia para a Praça – Ovídio Martins – e pela avenida chamada por muitos como “A Principal” – Avenida José Pereira do Nascimento – a dúvida era imediata: quem era o senhor que originou o nome da aprazível pracinha, ou da movimentada e importante avenida que cortava – e ainda corta – toda a cidade? Sem contar nomes de instituições que estudei, como a Escola Paroquial São Miguel Arcanjo, e o Colégio Estadual Dr. Dorival Brandão de Andrade – quem teria sido esse “importante” personagem que emprestou o nome à escola onde praticamente todos os jovens da cidade estudaram?

E quem eram os personagens que circulavam pelas ruas, muitos de casa em casa ou simplesmente presentes nos eventos da cidade, como Vani Aroeira, Adão Doido, Bom, além de Rufino, Velho Jacó...

Haviam aqueles dirigentes que como leigos, focavam a vida religiosa e ao lado de padres, pastores e professores contribuíam sobremaneira para que a infância e adolescência seguissem em uma jornada normal e venturosa.

As paixões da adolescência naturalmente vieram e começavam na escola, depois nos encontros dominicais dos grupos de jovens nas igrejas e continuavam na Praça Ovidio Martins, palco de muitos inícios de vida a dois, onde olhares furtivos e tímidos algumas vezes evoluíam para uma sessão de cinema no velho e saudoso Cine São Miguel, do Sr. Odorico e da Dona Genu.

Sem contar que o Majestoso e belo Rio Araguaia que traz no seio de suas águas os mistérios da Nação Karajá “Ny Mahãdu”, e que tem como principal porta de entrada a partir de São Miguel o Distrito de Luiz Alves. Quem teria sido esse senhor Luiz? Ou, importante também mensurar e procurar saber quem foram os pioneiros daquele rincão outrora distante que, primeiro teve ligação com Leopoldina (Aruanâ) e em sentindo inverso, Couto Magalhães (Presidio de Santa Maria) que apenas tardiamente pôde ligar-se a São Miguel através da ação de homens corajosos e audazes, que abrindo picadas, tornaram isso possível

É muita história a ser registrada e contada.

Como na célebre frase atribuída a Leon Tolstoi, me sinto compelido a pintar minha aldeia pelos caminhos da literatura, através das cores da saudade e das lembranças ainda vivas nas pessoas que fizeram e ainda fazem parte da história e da vida de minha cidade.

Canta tua aldeia e serás feliz!

 

 

  

 

 

2 comentários:

  1. Uma crônica telúrica, retrato perfeito do deslumbramento infantil que se projeta em belas imagens carregadas de emocionante saudosismo

    ResponderExcluir
  2. As vezes ser velho/a é privilégio...rsrsrs fazia esses questionamentos qdo criança, na adolescência busquei as respostas.
    Nessas ruas e praças boas histórias,...serenats

    ResponderExcluir